segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

ESCAPANDO DO JUÍZO CERTO (9)




         Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor” (Atos 3:19).
         Caro leitor tendo procurado mostrar a necessidade real de arrependimento; que é urgente o retorno desse tema em nossos dias, em face da apostasia tão reinante, preciso agora mostrar o que envolve o arrependimento. Quando o arrependimento vem ao coração, certamente esses detalhes aparecem juntos. O homem arrependido vê inteiramente sua ruína; sabe que a construção de sua vida caiu por terra diante da verdade a respeito da sua transgressão. O homem arrependido vê que seu passado foi uma fumaça de vaidade e que não passava de um escravo, aprisionado neste mundo, sendo empurrado para as trevas exteriores, sem, contudo perceber esses perigos eternais.
         Então, arrependimento envolve o reconhecimento de sua queda em Adão (Romanos 5:21). Enquanto estão envolvidos em densas trevas, os homens vivem hipnotizados pelo pecado. Satanás envolve os homens com estórias cheias de fantasias e mentiras. Eles não percebem onde tudo começou. Satanás faz com que a história da raça fique oculta num passado extremamente emaranhado; ele oculta toda verdade e usa os homens para que inventem absurdos a respeito da origem dos homens. Mas, a verdade da queda está bem marcada em nossos corpos de humilhação, porquanto a morte explica tudo; há igualdade em todos os homens no que diz respeito ao seu final.
         No arrependimento toda essa verdade vem à tona; a luz brilha sobre seu caminho errado pelo qual pisou. No arrependimento o homem vê de quem era filho (João 8:44); que nada tinha de ligação com Deus; que o pai da mentira lhe enganava e disfarçado dava a impressão que era o melhor ser existente. O arrependido vê sua tremenda culpa ao contemplar tantas ofensas cometidas; vê sua inutilidade em todas as obras, porque elas eram prejudiciais, não somente a si mesmo, como também ao seu próximo. O arrependido não busca tesouro de bênçãos em seus caminhos traçados no pecado; ele não procura água limpa de fonte impura, porque sabe bem que nasceu no pecado e do pecado não procede o bem.
         Ó quanto o arrependido deseja desviar-se de tudo isso! Ele não quer inventar coisas; não quer discutir, nem arrumar desculpas. Uma alma arrependida é um barro seco perante o Oleiro; Deus há de tomá-los para fazer do terreno uma criação do céu; a ligação com o velho Adão precisa ser removida e doravante estará ligado para sempre ao perfeito segundo Adão – Cristo Jesus.
         Também, o arrependido sabe que o percurso pelo qual andou foi de transgressão à lei de Deus. Ora, quantos querem remover a importância da lei na pregação! Conforme Spurgeon, a lei funciona como agulha, enquanto o evangelho vem atrás como linha. A lei sem o evangelho só causa dor e nada mais, mas a lei serve de grande ajuda para conduzir os pecadores aos pés desse Salvador, porque a lei mostra os grandes feitos do pecador contra Deus. Paulo usa o termo “ofensa”, para mostrar quão horrível foi o caminho traçado pelos homens no pecado. Cada palavra e atos eram como bofetadas na face do Senhor. A alma arrependida nada vê de justiça em seu viver e sabe que atos de bondade fora da justiça não passam de abominação. Todo esse vestígio de trapo de imundície (Isaías 64:6) é lançado fora, a fim de apoderar-se das maravilhas dessa tão grande salvação em Cristo.
         Ó caro leitor, será que sua alma ficou fascinada por essa verdade tão repudiada pela multidão? Os que já são salvos deleitam-se no Senhor! Têm prazer nessas verdades que tanto humilharam o velho homem e fê-lo morrer! Os santos celebram a graça salvadora e cantam louvores ao Rei dos reis! Os salvos habitam na luz e ali juntamente confessam essas verdades!
         Também, pecadores buscam esse Salvador; procuram a verdade como mais precioso tesouro! Por essa razão é que levo até à mesa e ali coloco essa comida à disposição para os famintos!

A MENSAGEM DO CÉU (15)





         Fiel é a Palavra e digna de inteira aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Timóteo 1:15).
         Caro leitor, meu objetivo é descobrir quem são os pecadores alvejados pela força do evangelho. Não devemos esquecer que Deus lida com pecadores neste mundo; que devemos conhecer o que Ele mesmo fala a respeito desses pecadores, a fim de que nós não venhamos a produzir conversões segundo nossos moldes.
         Podemos aprender com Davi no Salmo 51 o que ele mesmo entendeu acerca dessa solene verdade. Depois de ter caído em adultério com Bate-Seba e envolver-se com o assassinato de Urias, o rei conheceu de fato o que realmente significa humilhação. É nesse salmo que conhecemos o real significado da confissão sincera de um pecador arrependido. Quando está para finalizar esse inspirado salmo ele diz para Deus o seguinte: “O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Salmo 51:17). Caro leitor, o evangelho moderno não produz isso que está de forma bem clara estampada nessa confissão. O evangelho de hoje se apressa em empurrar as multidões para Deus, porquanto nada há da lei que leve os homens ao arrependimento.
         Tomo também Isaías 66:2: “...mas eis para quem olharei: para o humilde e contrito de espírito, que treme da minha palavra”. Notemos que Deus jamais mudou nem mudará quanto a essa definição dos pecadores que são atingidos pela verdade do evangelho. Vemos que Esse ser compassivo volta-se para homens e mulheres que estão no lugar certo – no pó. São pessoas que não conseguem reagir contra Deus; já lançaram fora todas as armas que usavam contra Deus e agora estão caídos, porque se renderam aos pés do Senhor e Salvador. Notemos também que essas almas estão ligadas à Palavra de Deus; seus ouvidos sintonizam bem a verdade revelada. Foi assim com Saulo de Tarso, pois quando a voz do Sumo evangelista ressoou do céu, Saulo e seus companheiros ouviram a voz, mas só ele pode discernir, enquanto os outros ouviram apenas um som (Atos 9:7 compare com Atos 22:9).
         Caro leitor permita-me esclarecer melhor esse assunto, porque pode bem ser que alguns fiquem confundidos, achando que todos os salvos precisar passar por experiências semelhantes. Veja bem que o quebrantamento e arrependimento se manifestam de maneiras diferentes. Todos os pecadores têm algo em comum – eles vão ao Senhor por causa da verdade revelada. Nem todos vão cair por terra; nem todos vão chorar, mas todos vão humildemente perante o Senhor; todos chegam a Cristo em sincera confissão de arrependimento e fé. Tenho percebido que hoje milhares vão às igrejas em busca de conforto psicológico, por isso anseia por aquilo que eles mesmos intitulam de “palavra amiga”. Ora, os falsos mestres são hábeis em achar versos bíblicos, textos fora de seus contextos, a fim de colocar “xícaras com chá” na mesa. As multidões hoje clamam por essas palavras que servem como calmantes para a alma. O pecado no íntimo cria verdadeira agitação e queima o íntimo dos homens com insegurança e falta de paz, por isso razão vão à busca dessas palavras doces e suaves.
         Caro leitor tenho procurado mostrar quem são os verdadeiros pecadores apresentados pela Palavra. Eles são vistos por Deus como os verdadeiros pecadores; eles são achados por Deus como pecadores. O Senhor é o evangelista perfeito; Seus olhos não perdem de vista Suas ovelhas; Sua mão jamais ficou curta e incapaz de alcançar os perdidos; Sua Palavra não perdeu o poder; o Salvador continua com Seu poder de salvar e o trono de misericórdia continua aberto para a fé que confessa Cristo como Senhor e Salvador; o sangue remidor é suficiente para limpar e purificar os pecadores de suas imundícies.
         Portanto, caro leitor, que oportunidade para vir a Cristo agora! Se seu coração estiver no lugar certo – o lugar de arrependimento, então é esse o lugar o Salvador está presente!

Meditações de Spurgeon



“Não sabes tu que por fim haverá amargura?” (2 Samuel 2:26)

        SE tu, querido leitor, és simplesmente alguém que professa e não alguém que possui a fé que é em Cristo Jesus, as linhas seguintes apresentar-te-ão um bosquejo do teu fim. Tu és um dos que assistem a um lugar de culto. Vais ali porque vão outros, não porque o teu coração esteja em boa relação com Deus. Este é o teu princípio.
        Quero supor que ao longo dos próximos vinte ou trinta anos te permitirá continuar como até agora, professando a religião de forma superficial, mas não pondo nela o teu coração. Anda devagar, pois tenho de te fazer ver a agonia de alguém como tu. Olhemo-lo com piedade: Um suor úmido e frio cobre sua testa e ele acorda e clama: “Oh Deus! que penoso é morrer. Não farás vir o meu pastor?” “Sim, ele vem já.”
        Chega o pastor e o moribundo diz-lhe: “Pastor, temo que eu esteja morrendo!” O pastor responde-lhe: “Tens alguma esperança?” O moribundo responde: “Eu não posso dizer que a tenha. Temo estar diante do meu Deus. Oh! Ore por mim”. Eleva-se a oração por ele com sincero ardor, e apresenta-se-lhe pela décima milésima vez o caminho da salvação, mas antes que ele se possa prender-se à corda salvação, vejo-o afundar-se. Já posso pôr os meus dedos sobre as suas pálpebras frias, pois esses olhos já não verão mais nada aqui.
        Mas, onde está agora o homem e onde estão os seus verdadeiros olhos? Escrito está: “E, no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos.” Ai! Por que é que ele não ergueu os seus olhos antes? Porque ele estava tão acostumado a ouvir o Evangelho, que sua alma dormiu sob a sua pregação.
        Ai! Se tu chegares a erguer os teus olhos ali, quão amargos serão os teus lamentos. Deixa que as próprias palavras do Salvador te revelem o pesar: “Abraão, meu pai, tem misericórdia de mim e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.” Há um terrível significado nestas palavras. Que tu nunca tenhas de soletrá-las à luz vermelha da ira de Deus!

Meditações de Spurgeon



“E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba.” (João 7:37)

         A PACIÊNCIA teve no Senhor a sua obra perfeita, e até ao último dia da festa Ele rogou aos judeus, assim como neste último dia do ano Ele nos roga a nós e espera mostrar-nos a Sua misericórdia. Admirável, na verdade, é a paciência do Salvador, pois ano após ano mostra-Se indulgente com alguns de nós, apesar das nossas provocações, das nossas rebeliões e da nossa resistência contra o Seu Espírito Santo. É uma verdadeira maravilha que ainda estejamos na terra onde nos oferece misericórdia!
         A piedade manifestou-se muito claramente, pois Jesus clamou, o que não só implica o tom elevado da Sua voz, mas também a ternura da sua tonalidade. Ele suplica-nos que sejamos reconciliados. “Rogamos-vos,” diz o Apóstolo, “como se Deus por nós rogasse.” Quão ardentes e patéticas são estas palavras! Quão profundo deve ser o amor que faz com que o Senhor chore pelos pecadores, e que, como uma mãe, convide os Seus filhos a ir para o Seu seio! Com toda a certeza ante a chamada de tal clamor os nossos corações acudirão gostosos.
         Foi feita uma provisão muito abundante. Tudo o que o homem necessita para apagar a sede de sua alma lhe foi dado. A expiação leva paz à sua consciência; o Evangelho leva ao seu entendimento a mais valiosa instrução; a pessoa de Jesus é para o seu coração o objeto mais nobre do seu amor; a verdade “como é em Jesus” dá a todo o seu ser o alimento mais puro. A sede é terrível, mas Jesus mata-a. Ainda que a alma esteja morta de fome, Jesus pode restabelecê-la.
         A proclamação foi feita a todos muitíssimo liberalmente. Todo o que tem sede é bem-vindo. Não se faz nenhuma distinção, o que se requer é tenha sede. Todo o que sofra da sede de avareza, de ambição, de prazer, de conhecimento ou de descanso, é convidado. A sede talvez seja má em si mesma, e não tenha nenhum indício de graça, mas antes seja a marca de excessivo pecado que anseia achar satisfação. Todavia, temos de ter em conta que o Senhor Jesus não estende o convite porque haja algo de bom na criatura, mas Ele concede-o espontaneamente, e sem acepção de pessoas.
         É proclamada muito amplamente a pessoa de Jesus. O pecador tem de vir a Jesus, e não às obras, aos ritos ou às doutrinas. Tem de vir a um Redentor pessoal, “Levando ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro.” A única estrela de esperança para o pecador é o Salvador que sangra, que morre e que ressuscita. Que Deus nos dê a graça para virmos agora e bebermos, antes que o sol deste último dia do ano morra no ocaso!
         Aqui não se sugere nenhuma espera nem nenhuma preparação. Para beber não se requer nenhuma aptidão. O néscio, o ladrão, a rameira, podem beber; e, portanto, a pecabilidade de caráter não constitui um obstáculo para que se convide as pessoas a crer em Jesus. Para levar água ao sedento não necessitamos nem de uma taça de ouro nem de um cálice adornado com pedras preciosas. A boca da pobreza está convidada a inclinar-se e a beber abundantemente deste manancial. Os lábios leprosos e imundos podem tocar a fonte do amor divino; ao fazê-lo assim, não só não a poluirão, como também sairão dela purificados. Jesus é a fonte da esperança. Querido leitor, ouve a voz carinhosa do querido Redentor, enquanto clama a cada um de nós,
“SE ALGUÉM TEM SEDE,

VENHA A MIM,

E BEBA.”