segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O HOMEM DE UMA SÓ MENSAGEM



                                                                                                                                                           Spurgeon
         Em relação a pregar a Cristo exclusivamente, também devemos adicionar que esta pregação nunca produzirá animosidade. Nunca impregnará as mentes dos homens com perguntas e lutas, como o desses temas subtis que alguns homens preferem tratar. Quando alguns temas são decididos pela minha opinião e pela tua opinião, e pela opinião de um terceiro e inclusive pela de um quarto indivíduo, certamente vai gerar-se uma luta. Mas o que se mantém ao pé da Cruz de Cristo, e se acolhe a ela, está precisamente onde pode abraçar toda a irmandade de verdadeiros Cristãos, posto que todos estamos perfeitamente unidos numa só mente e numa só opinião ali! Não há a jactância da opinião do homem na Cruz. “Eu sou de Paulo, eu de Apolo e eu de Cristo”, vêm por não se apegarem a Jesus crucificado! Mas se nos apegamos à Cruz como pecadores culpados que precisamos de ser limpos por meio do sangue precioso, e que encontramos toda a nossa salvação nesse lugar, então não teremos tempo para nos erigirmos como líderes religiosos e para causar divisões na igreja de Cristo.
   Existiu alguma seita na Cristandade gerada pela pregação de Cristo crucificado? Não, meus Irmãos e minhas Irmãs, as seitas são criadas pela pregação de algo muito por cima disto, mas isto é a alma e a essência do cristianismo, e por conseguinte, o vínculo perfeito de amor que mantém os cristãos unidos!
IV. Não direi nada mais, mas passarei para a minha última reflexão, que é esta — devido, a que Paulo fez deste o seu único tema quando estava em Corinto, e não fez nenhum dano a ninguém com este único tema, coisa que não podemos afirmar de nenhum outro tema, RECOMENDO-VOS QUE TODOS NÓS FAÇAMOS DESTE TEMA O CENTRO DOS NOSSOS PENSAMENTOS, DA NOSSA PREGAÇÃO E DOS NOSSOS ESFORÇOS. Homens e mulheres não convertidos, a vós me dirijo em primeiro lugar. Não tenho nada mais para vos pregar do que a Jesus Cristo e Este crucificado.
         Paulo sabia que havia grandes pecadores em Corinto, porque era costume no mundo de então chamar-se a um homem licencioso, ‘um corínto.’ Eles eram um povo que levava a depravação e a lascívia aos seus excessos máximos possíveis, e, não obstante, no meio deles, Paulo não sabia de nada, exceto de Cristo e Este crucificado, já que tudo o que o maior pecador pode necessitar ali se encontra! Não tens nada em ti, Pecador, e não tens necessidade de nada que o leves a Jesus. Diz-me que não sabes nada acerca das profundas doutrinas do Evangelho — não as precisas de conhecer no momento de vir a Cristo. A única coisa que deves conhecer é esta — que Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio ao mundo para salvar os pecadores e qualquer que creia Nele não perecerá, mas viverá eternamente!
         Dar-me-á muito gosto que recebas instrução na fé posteriormente, e que conheças as alturas e as profundidades desse amor que ultrapassa todo o conhecimento, mas neste momento a única coisa que precisas de conhecer é a Jesus Cristo crucificado! E se nunca passas dali, se a tua mente é de uma natureza tão fraca que nunca possas entender nada de maior profundidade do que isto, eu, pelo menos, não sentirei nenhuma preocupação, já que terás encontrado o que te libertará do poder e do castigo do pecado, e o que te levará ao Céu, para estares onde, esse mesmo Jesus que foi crucificado, Se senta no trono, à mão direita de Deus! Oh, querido coração afligido pela pena, se queres encontrar alívio, poderás fazê-lo nas Suas feridas! Se queres encontrar descanso, tens de encontrá-lo nas feridas das Suas mãos! Se queres escutar a tua absolvição, ela tem de provir dos mesmos lábios que pronunciaram docemente: “Consumado é.” Deus não permita que nada saibamos no meio dos pecadores, exceto Cristo e Este crucificado! Olhai para Ele, e unicamente para Ele, e encontrareis o descanso para as vossas almas!
         Quanto a vós, meus Irmãos e Irmãs, que conheceis a Cristo, tenho isto para vos dizer —  mantende isto à frente, e nenhuma outra coisa, a não ser isto só, porque é contra isto que o inimigo se enfurece. A parte da linha de batalha que é atacada mais ferozmente pelo inimigo, é certamente a mais estratégica. Os homens odeiam aqueles a quem temem. O antagonismo dos inimigos do Evangelho é principalmente contra a Cruz. Desde o começo foi assim. Eles gritavam: “Ele que desça agora da Cruz e nós creremos Nele.” Escreverão para nosso benefício belas vidas de Cristo e dir-nos-ão que foi um homem excelente e darão ao nosso Senhor a homenagem que os seus lábios de Judas Lhe podem outorgar; referir-se-ão, também, ao Seu sermão do monte e dirão que profundidade de percepção Ele teve do coração humano e dir-nos-ão que ensinava um esplêndido código moral, e assim, sucessivamente. Dirão: “Seremos cristãos, mas rechaçamos totalmente o dogma da Expiação.”
         A nossa resposta é que nada nos importa do que tenham para dizer acerca do nosso Senhor se negam o Seu sacrifício substitutivo. Se Lhe dão vinho ou vinagre, não é um tema relevante, enquanto que rechacem o que nos diz o Crucificado. Os louvores dos incrédulos dão-nos asco! Quem quer escutar os louvores dados a Deus provenientes de lábios contaminados? Essas palavras açucaradas são muito semelhantes àquelas que saíram da boca do Diabo quando disse: “Eu sei quem és: o Santo de Deus!” Jesus repreendeu-o, dizendo: “Cale-te e sai dele!” Da mesma maneira queremos dizer aos incrédulos que exaltam a vida de Cristo — “Cala-te! Conhecemos a tua inimizade, ainda que a disfarces como queiras! Ou Jesus é o Salvador dos homens ou não é nada. Se não aceitas a Cristo crucificado, não O podes aceitar de nenhuma outra maneira.”
         Meus Irmãos e irmãs em Jesus, convido-vos a nos glorificarmo-nos no sangue de Jesus! Fazei com que seja patente, como se ele tivesse sido salpicado no dintel e nos dois postes laterais das nossas portas e deixemos que o mundo saiba que a redenção por meio do sangue está escrito nas mais íntimas partes das tábuas dos nossos corações! Irmãos, este é o ponto de prova de cada mestre. Quando um peixe se decompõe, começa a apodrecer pela cabeça, conforme dizem, e certamente, quando um pregador se torna um herege, é sempre em relação com Cristo. Se ele não entender com claridade a Jesus Crucificado e se escutas um dos seus sermões — essa é a tua pouca sorte. Mas se retornasses para escutá-lo de novo e ouvires um sermão igual ao primeiro, então essa seria a tua culpa. Se fosses pela terceira vez ouvi-lo, terás cometido um crime! Se algum homem tiver dúvidas a respeito de Cristo crucificado, que recorde os versos de Hart, porque dizem a verdade:

Não podes ter razão em todo o resto,
a menos que penses a verdade acerca Dele.”
         Não quero examinar os homens em relação com todas as doutrinas da Confissão de Fé de Westminster. Eu começo aqui: “O que pensas tu de Cristo?” Se não podes responder a essa pergunta, vai e publica os teus pontos de vista onde queiras, mas tu e eu estamos tão separados como o estão os polos! E não desejo ter nenhuma comunhão contigo. Devemos falar muito claramente aqui. É “Cristo crucificado” o que Deus abençoou para conversão. Deus abençoou William Huntingdon para converter almas por seu meio — estou seguro disso, ainda que não sou um partidário de Huntingdon. Deus abençoou John Wesley para converter almas por seu meio. Também fica muito claro isso, ainda que não sou um partidário de Wesley. Deus abençoou-os a ambos, e ambos deram testemunho de Cristo — e encontrareis isso na proporção em que a expiação de Cristo esteja presente num sermão, é o sangue vital desse sermão— e isso é o que Deus santifica para a conversão dos filhos dos homens. Portanto, conserva o tema sempre num lugar muito proeminente!
         E agora pergunto-vos, meus Irmãos, uma coisa mais: Não é Cristo e Este crucificado a coisa pela qual devemos viver e pela qual devemos morrer? Os homens do mundo podem viver para as suas vaidades; podem sentir muito gozo sob as suas respectivas aboboreiras, como a de Jonas, enquanto lhes durem. Mas quando um homem tem depressão de espírito e é torturado no seu corpo, para onde pode olhar? Se for um Cristão, onde pode refugiar-se? Onde mais, senão em Cristo crucificado! Quão frequentemente tenho sentido muito gozo ao me arrastar para entrar num templo e pôr-me nos sapatos do pobre publicano e dizer: “Deus, sê propício a mim, que sou pecador”, olhando unicamente a esse propiciatório coberto com o precioso sangue de Jesus? Isto é o que servirá na hora da morte. Não creio que na hora da nossa morte busquemos o consolo das nossas peculiares Igrejas. Nem vamos morrer aferrados aos puros regulamentos ou às doutrinas, no meio dos estertores da morte. A nossa alma deve viver e morrer sobre Jesus crucificado!
         Reparai em todos os santos no momento das suas mortes, e vereis que regressam ao grande sacrifício do Calvário. Eles criam numa grande variedade de coisas; alguns deles apoiavam-se em muitas muletas, caprichos e raridades, mas o ponto principal prevalece na hora da morte. “Jesus morreu por mim, Jesus morreu por mim” — todos chegam a isso! Bem, não te pareceria bem, ir desde o princípio, ao ponto a que eles chegaram no final? E se esse ponto é a base de tudo, e certamente o é, não seria adequado que nos apegássemos a ele? Enquanto que alguns se glorificam nisto e outros se glorificam naquilo, e alguns têm uma forma de culto, e outros, outra forma, nós digamos: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” (Gálatas 6:14)
         Irmãos, recomendo-vos que façais cada vez mais proeminente a Cruz de Cristo, porque é o que nos dará mais coesão e o que nos manterá numa bendita unidade. Nem todos podemos entender essas verdades subtis que dependem muito das bonitas variações e dessas subtilezas de significado no grego neo-testamentário que só os críticos podem descobrir. Se buscas estas belezas, Irmão, então deves esquecer-te de muitos de nós, pobres tolos, porque não podemos correr atrás delas — e elas só nos confundirão. Sei que tens esse delicado conceito belamente fixado na tua mente e o tens em muito alta estima, e não me surpreende, já que te tem custado muita reflexão e isso mostra o teu poder de discernimento. Ao mesmo tempo, não crês que deves baixar ao nível de alguns de nós, que nunca poderemos alcançar esses temas intrincados enquanto vivamos?
         Alguns dos nossos cérebros são ordinários. Temos de ganhar o nosso pão e de nos relacionar com gente ordinária. Sabemos que dois vezes dois são quatro, mas não estamos familiarizados com os princípios tão escondidos e ocultos da alta filosofia a que vós haveis subido. Eu não sei muito disso, eu não remonto a essas alturas e nunca convosco ali subirei. Portanto, não seria melhor, pela unidade da fé, que deixásseis estes temas de lado, que praticásseis mais a amizade em casa, que mostrásseis mais amor pelos vossos colegas cristãos e que vos aplicásseis um pouco mais com os deveres da natureza mais comum? Apenas, sei, que vos faria um grande bem, e tornaria um pouco mais visível a vossa humildade, se ficásseis lá em baixo com Jesus Cristo e Este crucificado.
         Pessoalmente posso saber muitas coisas; especialmente eu poderia sabê-lo, já que todo o mundo procura ensinar-me algo! Recebo montões de conselhos: alguém puxa-me desta orelha e outro puxa-me pela outra. Bem, eu poderia saber muito, todavia dou-me conta de que teria de deixar a alguns de vós para atrás, se eu quisesse ir atrás dessas coisas, e amo-vos muito para fazer isso. Tenho a determinação de não saber nada entre vós, exceto a Jesus Cristo e Este crucificado. A qualquer homem que se sujeite a isso direi: “Dá-me a tua mão, meu Irmão, Jesus lavou-a com o Seu sangue da mesma maneira como lavou a minha. Vem, Irmão, e olhemos juntos à mesma Cruz. O que pensas dela?”
         Há uma lágrima no teu olho, e há uma lágrima no meu, mas os nossos rostos ruborizam-se de gozo por causa do profundo amor que ali cravou a Jesus. “O que faremos nós em frente desta Cruz?” O meu irmão diz: “Eu irei ganhar almas.” Respondo-lhe: “Eu também.” Meu irmão diz: “Eu tenho uma forma de falar”, e eu respondo-lhe: “Eu tenho outra maneira, pois os nossos dons são diferentes, mas nunca chocaremos, já que servimos a um só Senhor e a um só Deus, e não seremos divididos, nem neste mundo presente nem no vindouro.” Deixai que Apolo diga o que queira, ou Paulo ou Pedro, e aprenderemos de todos eles; dar-nos-á muito gosto fazê-lo. Mas, de todos os modos, não nos moveremos da Cruz, mas estaremos muito firmes ali, já que Jesus é o primeiro e o último, o Alfa e o Ômega. Amém.

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