quinta-feira, 18 de outubro de 2012

HOMEM DE UM ÚNICO TEMA Spurgeon




introdução
Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” (1Co 2:2)
         Paulo era um homem de muita determinação: tudo o que ele empreendia levava-o a cabo com todo o seu coração. Se o ouvias dizer “Eu me tenho proposto…”, podias estar seguro de um vigoroso curso de ação. “Mas uma coisa faço” era sempre o seu lema. A unidade da sua alma e uma poderosa determinação eram as principais características do seu caráter. Anteriormente ele havia sido um grande opositor de Cristo e da Sua cruz, e havia mostrado a sua oposição mediante ferozes perseguições. Não era de surpreender que quando ele se tornou um discípulo deste mesmo Jesus, a Quem ele havia perseguido, o fizesse de maneira ardente e pusesse todas as suas faculdades ao serviço da pregação de Cristo crucificado.
         A sua conversão foi tão notável, tão completa e tão radical, que era natural vê-lo tão cheio de energia pela Verdade de Deus, como antes tinha sido seu violento inimigo. Um homem tão íntegro, como era o Apóstolo Paulo, tão completamente capaz de concentrar todas as forças — tão inteiramente entregue à fé de Jesus— tinha de incorporar-se à causa Dele com todo o seu coração, com toda a sua alma e com toda a sua força, e disposto a não saber de nada mais, exceto do seu Senhor crucificado. Todavia, não penseis que o Apóstolo era um homem que apenas absorvia facilmente um só pensamento. Paulo era, acima da maioria dos homens, alguém que raciocinava, era calmo, judicioso, franco e prudente.
         Via as implicações e as relações das coisas, e não dava importância aos assuntos triviais. Talvez, até além do que era perfeitamente justificável, ele chegou a ser tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns, e, portanto, qualquer resolução que tomasse, tomava-a, só depois de consultar-se com sabedoria. Paulo não era um fanático do tipo que pode ser comparado a um touro que fecha os seus olhos e investe de frente, sem ver nada do que está à sua direita ou à sua esquerda — ele via com calma, com quietude, tudo o que estava ao seu redor, e, ainda que no fim se lançasse em linha reta para o seu único objetivo, fazia-o com os seus olhos bem abertos, sabendo perfeitamente que o que fazia, era o melhor e o mais sábio em favor da causa que ele desejava promover.
         Se, por exemplo, em Corinto se tivesse requerido que o seu ministério começasse com a proclamação da unidade da Deidade ou com a reflexão filosófica acerca das possibilidades de que Deus Se encarnasse — se estes tivessem sido os planos mais sábios para dar a conhecer o reino do Redentor— Paulo tê-los-ia adotado. Mas, tendo-os ele considerado atentamente, e uma vez que os examinou com supremo cuidado, concluiu que nada se podia conseguir com uma pregação indireta, apresentando a Verdade pela metade. Portanto, decidiu prosseguir de frente, promovendo o Evangelho, mediante a proclamação do Evangelho! Que os homens escutassem, ou que se abstiveram de escutar, ele resolveu ir ao grão de uma vez, e pregar a Cruz, na sua nua simplicidade.
         Em vez de saber muitas coisas que o podiam conduzir ao tema principal, não quis saber de nada em Corinto, senão a Jesus Cristo, e Este crucificado. Paulo poderia ter dito: “Vou preparar o terreno e educar as pessoas até um certo ponto, antes de apresentar o meu tema principal. Descobrir a minha verdadeira intenção desde o começo pode resultar como o desdobramento da rede à vista dos pássaros, o que não faz senão afugentá-los. Serei cauteloso e reticente e levá-los-ei com astúcia, atraindo-os à busca da Verdade de Deus.” Mas Paulo não fez assim! Avaliando completamente a situação como um homem prudente deve fazê-lo, chega a esta decisão: que ele não saberá nada entre eles, exceto a Jesus Cristo, e Este crucificado.
         Seria muito bom que a “cultura” que escutamos nestes dias, e o tão celebrado “pensamento moderno” chegassem à mesma conclusão! Este teólogo tão renomeado e erudito, depois de ler, tomar notas, aprender e assimilar no coração tudo como poucos homens poderiam fazê-lo, chegou a isto, como a essência de tudo — “Estou determinado a não saber nada entre vós, senão a Jesus Cristo, e Este crucificado.” Permita Deus que a habilidade crítica dos nossos contemporâneos e as suas laboriosas considerações os levem a essa mesma conclusão, pela bênção do Espírito Santo.

Nenhum comentário: