“Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir” (Lucas 6:25)
OS QUE CHORAM (CONTINUAÇÃO)
Prosseguindo, temos que estar cientes que nosso Senhor não está referindo aquele choro que é resultado das dificuldades que esta vida manifesta. Muitos choram porquanto seus corações estão enlutados; muitos choram por terem sido abandonados; muitos choram devido aos resultados das perversidades dos homens; muitos choram por contemplarem a situação de desgraça e de miséria em muitos países deste mundo onde vemos guerras, anarquias, fome e destruição. O mundo é um palco de lágrimas e de gemidos, pois onde reina o pecado, o diabo e a morte, é de se esperar que lágrimas brotem dos olhos de milhares.
Porém, o Senhor Jesus apresenta o fato que há uma grandeza num choro especial. O fato é que temos novamente uma continuação do assunto que Jesus dá início no verso 20: Aquele que é “pobre”, conforme a pobreza descrita por Deus há de ser alguém que sentirá a verdadeira “fome”, e quem sente essa fome, há de chorar. Obviamente, não está tratando aqui daquele choro promovido pelos sentimentos, ou mesmo pelas circunstâncias. Nosso Senhor lida com o homem, não como nós fazemos. Deus vê o homem no coração. Ele considera grandiosa a “pobreza” que vem de um coração humilhado e quebrantado perante Ele. Tal atitude é de imenso valor para Ele, porquanto Ele mesmo afirma que jamais desprezará um coração contrito.
Ele tem, também, provisão eterna para aquele que envolvido por essa circunstância de miséria espiritual sente “fome”. Tal pessoa que jaz no pó do arrependimento é alguém que verdadeiramente chora. Com o intuito de deixar bem claro, digo e afirmo que o “choro” referido por nosso Senhor, trata daquele choro que somente Deus pode ver. Às vezes, esse choro pode ser visto estampado na face, mas a realidade é que nada tem a ver com o homem de fora, mas sim com o homem do coração. Tomo como exemplo o caso daquela mulher adúltera cuja história é narrada no cap. 7 de Lucas. Ela realmente chorava, mas o que o Senhor contemplava em Sua compaixão era o coração contrito daquela alma que foi ali em busca do perdão e salvação do Bendito Salvador.
O fato é que todo aquele que vai ao Senhor Jesus em busca da Sua gloriosa salvação é de fato alguém que, no íntimo, está chorando. Ninguém pode achegar-se à presença do Deus Santo sem temor e tremor; ninguém chegará perante o trono de misericórdia em busca do socorro e livramento eterno para sua alma sem que tenha seu coração sentindo a miséria de estar perdido. Como alguém há de invocar o Nome do Senhor pedindo-Lhe salvação sem que tenha visto no íntimo sua própria miséria? Como alguém poderá aproximar-se do Deus santo exibindo os farrapos de sua justiça própria? Como poderá o pecador imundo devido a sua triste condição achegar-se perante a face daquele que é Santo, Santo, Santo sem estar prostrado no desespero de sua própria ruína?
O Deus da bíblia é fogo consumidor, então como alguém poderá aproximar-se de Sua face em atitude de orgulho, vaidade e arrogantes pretensões? Voltemos para as Escrituras para reconhecermos ali a linguagem daquele que se revelou através de sua palavra escrita. Deus é o Deus dos corações que se humilham perante Sua Face Gloriosa; Deus é o Deus que conhece os soberbos de longe e que jamais tolera a arrogância dos corações empedernidos dos homens. Cristo Jesus, o glorioso Cordeiro de Deus veio a este mundo em busca dos perdidos, homens e mulheres que agora enxergam sua condição tão triste como escravos no pecado. Essas pessoas se vêem afastadas completamente da Glória de Deus e sabem que por si mesmas jamais podem alcançar a perfeita justiça exigida pela lei, e que de coração clamam a Deus rogando-Lhe salvação para suas almas abandonadas e miseráveis. Deus é o Deus de toda misericórdia e Ele lida com pecadores na base dessa infinita misericórdia.
Meu amigo, eis aí a mensagem do Santo evangelho. Tal mensagem alcança corações humilhados perante Deus, e são esses corações que realmente choram o choro que somente Deus pode ver e entender.
Amigo leitor tenho procurado explicar o que nosso Senhor está querendo dizer na frase: “Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir”. Gastei bom tempo procurando tirar toda e qualquer confusão promovida pelo engano do coração humano, mostrando o que não é o “choro” que nosso Senhor refere no texto em pauta. A alma que um dia foi achada num estado de pobreza perante Deus, sentindo a real fome por aquilo que é eterno, essa é a alma que realmente “chora”. Obviamente a pessoa que assim chora será desprezada pelo mundo, porquanto ela não encontra aqui neste vale nada e ninguém que possa lhe socorrer. Somente Deus pode lhe enxugar dos olhos do coração toda lágrima.
Mas vou adiante para mostrar que o choro tratado por nosso Senhor tem um sentido ainda mais profundo. Há o choro que leva a alma ao pé da cruz rogando salvação; há o choro do pecador que clama pedindo perdão e que almeja pertencer para sempre a Deus; há o choro que parte de um coração arrependido, que o leva pela fé a conhecer o Salvador e Senhor, e que o faz pertencer para sempre a Deus sendo assim transferido da morte para a vida, das trevas para a maravilhosa luz. Afirmo que aquele que um dia conheceu a salvação preciosa que há no Filho de Deus; aquele que sabe por experiência própria o que significa obter o socorro da livre misericórdia; que entende bem que foi tirado do lamaçal do pecado para ter agora seus pés firmados na Rocha dos séculos, tal pessoa sabe o que significa “chorar”. Seus olhos foram abertos para entender a realidade desta vida e podem ver que miséria é este mundo no qual esteve aprisionado sem que soubesse; foram abertos para vislumbrar os perigosos inimigos que lhe cercam e que a caminhada é longa até chegar ao lar celestial.
Tomo aqui um tempo para explicar biblicamente que o verdadeiro crente realmente chora. Novamente volto a afirmar que não se trata de um choro promovido por circunstâncias e nem por meras emoções. Não vamos nos envolver com aquilo que é da natureza enganosa da carne, que busca satisfação em sentimentos transitórios. Vamos procurar por nossos pés firmados no sólido alicerce da palavra escrita e assim ficarmos firmes mesmo que haja sombras das dificuldades e adversidades desta vida ao nosso derredor.
Dirijo-me aos leitores para afirmar que há um “choro” naquele que é genuinamente salvo por sentir aqui o fardo de estar ainda ausente de Deus. Veja bem, certamente temos nosso Deus conosco sempre, Ele nunca nos deixará nem nos abandonará (Hebreus 13:5), porquanto é o Fiel Pastor que cuida perfeitamente das Suas ovelhas que comprou com Seu Sangue, e é Ele nosso Guia até a morte (Salmo 48:14), além de podermos assegurar que é nosso socorro bem presente nas tribulações (Salmo 46:1). Quando estou falando a respeito de ainda estarmos ausentes de Deus quero expor o fato que ainda habitamos numa prisão temporária que é nosso corpo mortal, e tal verdade nos assegura que enquanto estivermos habitando neste corpo feito de barro, estamos ausentes do Senhor conforme diz Paulo em 2 Coríntios 5:6. Não procuremos criar idéias fantasiosas de vermos o Senhor neste nosso corpo mortal. Estamos ainda ausentes Dele e vivendo pela fé (Romanos 1:17).
Falo aos leitores crentes, que enquanto estivermos habitando nesta tenda feita de barro, há um gemido no íntimo (Romanos 8:23), porque todo verdadeiro crente sabe o que significa o sofrimento que aqui enfrenta devido estar habitando num corpo pecaminoso. Todo verdadeiro crente sabe o que é angústia, sabe o que é dor, sabe o que é o peso desta vida, sabe o que significa passar pelas aflições deste tempo presente. Toda promessa mundana de uma vida melhor aqui em perfeita saúde, com a ausência dos problemas reais desta vida, não passa de ser engano do deus deste mundo que quer engambelar os corações incautos com promessas vãs. Aos santos a exortação é para que marchem triunfantes em direção à Nova Jerusalém aguardando a revelação que há de vir com promessas de coisas excelentes e infinitamente melhores do que toda riqueza e prazeres achados neste mundo, mas que não passam de ilusões da carne. Amado irmão, enquanto você aqui estiver, há de chorar no íntimo por estar habitando num corpo que lhe deixa provisoriamente ausente do Senhor.
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