3. Tiramos proveito da Palavra, quando aprendemos que Cristo morreu
a fim de livrar-nos "deste mundo perverso" (Gálatas 1:4).
O Filho de Deus veio a este
mundo, não somente com o fito de "cumprir" os requisitos da Lei
Mosaica (Mateus 5:17), de, "destruir as obras do diabo", (I João
3:8), de livrar-nos "da ira vindoura" (I Tessalonicenses 1:10) e de
salvar-nos dos nossos pecados (Mateus 1:21), mas, também veio a fim de
livrar-nos da servidão a este mundo, liberando-nos a alma de suas influências
enfeitiçadoras. Isso foi prefigurado
na antiguidade, quando das relações entre Deus e o povo de Israel. Os
israelitas tinham sido escravos no Egito; e o "Egito" é um dos
símbolos deste mundo. Ali se encontravam em servidão cruel, passando todo o
tempo a fazer tijolos para Faraó. Eram incapazes de libertar-se. Mas o Senhor,
em seu grande poder, os emancipou e os tirou da "fornalha de ferro".
Outro tanto faz Cristo em favor dos que Lhe pertencem. Também interrompe o
poder que o mundo tem de atrair seus corações. Torna-os independentes do mundo,
de tal maneira que nem cortejam os seus favores e nem temem as suas ameaças.
Cristo deu-Se como
sacrifício pelos pecados de Seu povo, a fim de que, em consequência disso,
sejam eles libertados do poder condenatório e das influências dominadoras de
todos os males que existem neste mundo: de Satanás, que é o seu príncipe; das
concupiscências que ali predominam; das conversas tolas dos mundanos. E o
Espírito Santo, por habitar nos santos, coopera com Cristo nessa obra bendita. Ele
desvia seus pensamentos e afetos para longe das coisas terrenas, para que se
fixem nas realidades celestiais. Devido à operação de Seu poder, Ele os livra
da influência desmoralizadora que os circunda, amoldando-os aos padrões
celestiais. E à medida que o crente vai crescendo na graça, vai reconhecendo
esse fato mais e mais, agindo de conformidade com esse reconhecimento. E
assim o crente busca libertação ainda mais completa deste "presente mundo
mau", implorando a Deus que o livre totalmente do mesmo. E assim, aquilo
que antes o atraía, agora lhe causa náuseas. Anela pelo momento em que será
tirado deste palco terrestre, onde o seu bendito Senhor foi tão vilmente desonrado.
4. Somos beneficiados com o uso da Palavra, quando nossos corações
são desligados do mundo.
"Não ameis
o mundo, nem as cousas que há no mundo." (I João 2:15). "O que a
pedra de tropeço é para o pedestre, no caminho, o que a carga é para o fundista
e os ramos de folhas para o pássaro em seu voo, assim também é o amor ao mundo
para o crente, em seu curso – ou desviando-lhe completamente a atenção desse
curso, porque o fascina, ou forçando-o a desviar-se do mesmo" (Nathaniel
Hardy, 1660).
A verdade é que enquanto o
coração não for expurgado de suas corrupções, o ouvido será surdo para com as
instruções Divinas. Enquanto não formos elevados acima das coisas pertencentes
ao tempo e aos sentidos físicos, também não seremos levados a obedecer a Deus.
As verdades celestiais escapam da mente carnal, como a água escorre de qualquer
corpo esférico sobre o qual caia. O mundo voltou as costas para Cristo; e
embora o Seu nome seja professado em muitíssimos lugares, nada quer ter a ver
com Ele. Todos os desejos e desígnios dos indivíduos mundanos, visam à
satisfação do próprio "eu". Que esses alvos e inquirições sejam tão
variados quanto o queiram tais homens, o fato é que o próprio "eu"
reina supremamente, e tudo tem por escopo agradar ao próprio "eu".
Ora, os crentes se encontram
no mundo, não podendo sair dele; precisam viver o tempo que o Senhor lhes
determinou. E, estando aqui, têm de ganhar o próprio sustento, e de cuidar de
seus familiares, além de darem a devida atenção às suas atividades
profissionais. No entanto, aos crentes é proibido amarem ao mundo, porquanto este não pode torná-los felizes. Seu
"tesouro" e sua "porção" se encontram algures. O mundo
mostra-se atraente para cada instinto do homem decaído. Contém mil e um objetos
que o encantam – esses objetos atraem a sua atenção, a atenção cria o desejo e
o amor por esses objetos, e, de maneira insensível, mas segura, vão fazendo
impressões cada vez mais profundas em seu coração.
O mundo exerce a mesma
influência fatal sobre todas as classes de homens. Porém, por mais sedutores e
atraentes que sejam seus variados objetos, todos os interesses e prazeres do
mundo, têm por intuito promover a felicidade somente nesta vida, para isso estando adaptados – pelo que também
foi feita a indagação: "Pois, que aproveitará o homem se ganhar o mundo
inteiro e perder a sua alma?". (Mateus 16:26). Os crentes são ensinados
pelo Espírito Santo, e através da apresentação que Ele nos faz de Cristo, à
nossa alma, os nossos pensamentos se desviam para longe do mundo. Tal como uma
criancinha abandona um objeto sujo qualquer, quando algo mais agradável lhe é
oferecido, assim também o coração que se acha em comunhão com Deus, dirá: "Considero
tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu
Senhor... e as considero como refugo, para ganhar a Cristo" (Filipenses
3:8).
5. Beneficiamo-nos da Palavra, quando andamos separados do mundo.
"Não compreendeis
que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do
mundo constitui-se inimigo de Deus". (Tiago 4:4). Um versículo como esse
deveria ser capaz de sondar-nos de um lado a outro, fazendo-nos estremecer.
Como posso confraternizar com aquilo ou buscar o meu prazer naquilo que
condenou o Filho de Deus? Se,
porventura, eu vier a assim fazê-lo, de imediato serei identificado como um dos
seus inimigos. Oh, meu prezado leitor, não se equivoque, quanto a esse
particular. Está escrito: "Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está
nele" (I João 2:15).
Desde os dias antigos, foi
dito acerca do povo de Deus, que eles seriam um, "... Povo que habita
só..." (Números 23:9). Não há que duvidar que, a disparidade de caráter e
de conduta, de desejos e de alvos, que distingue os regenerados dos não
regenerados, deve ser um fator que os
conserva separados uns dos outros. Nós, que professamos ser cidadãos de outro
mundo; que nos reputamos orientados por outro Espírito; que nos consideramos
dirigidos por outra regra; que nos imaginamos como quem viaja para outro país,
não podemos andar de braços dados com aqueles que, desprezam essas realidades!
Por conseguinte, que todas as coisas, em nós e
ao nosso derredor, exibam o caráter de peregrinos
crentes. Sempre seremos: "... Homens de presságio...", ou seja, de
significância (Zacarias 3:8); e isso porque não nos amoldamos a este mundo
(Romanos 12:2).
Nenhum comentário:
Postar um comentário