4. Beneficiamo-nos realmente da Palavra, quando discriminamos
acertadamente entre as promessas de Deus.
Muitos, dentre o povo de
Deus, tornam-se culpados do pecado de furto espiritual. Ao assim dizermos,
referimo-nos ao fato de que esses se apropriam
de coisas, a que não têm direito, porquanto pertencem a outrem. Alguns termos do pacto,
estabelecidos entre o Senhor Jesus Cristo e Seus eleitos remidos, são
inteiramente incondicionais, naquilo que concerne a estes últimos; mas, existem
muitas outras ricas declarações do Senhor, que contêm estipulações que devem
ser ciosamente resguardadas, pois, de outro modo, não obteremos as bênçãos ali
prometidas.
Uma parte das pesquisas
diligentes que você faz, deve visar a esse importantíssimo ponto. Deus haverá
de cumprir no seu caso, as promessas que fez; tão somente, você deve observar
zelosamente as condições estipuladas no pacto. Pois, somente quando cumprimos
as exigências de uma promessa condicional, é que podemos esperar que aquela
promessa seja concretizada para nós". (C. H. Spurgeon).
Muitas das promessas Divinas
se dirigem a caracteres particulares, ou, usando de uma linguagem mais correta,
visam ao derramamento de graças particulares. Por exemplo, em Salmos 25:9, o
Senhor declara que ele, "Guia os humildes na justiça, e ensina aos mansos
o seu caminho".
Porém, se por acaso eu
estiver fora de comunhão com Ele, e estiver palmilhando uma vereda de minha
própria escolha teimosa, se meu coração for altivo, então não estarei com a
razão ao pensar que, esse citado versículo pode consolar-me. Novamente, na
passagem de João 15:7, o Senhor nos ensina como segue: "Se permanecerdes
em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e
vos será feito".
Porém, se eu não gozo de
comunhão experimental com o Senhor, e se os Seus preceitos não estão
regulamentando a minha conduta, então minhas orações ficarão sem resposta.
Pois, apesar do fato de que as promessas de Deus se derivam de Sua pura graça,
contudo, nunca nos deveríamos olvidar que a graça reina, "... Pela
justiça...", segundo se lê em Romanos 5:21, jamais ficando eliminada a
faceta da responsabilidade humana.
Se, porventura, eu ignorar
as leis da saúde, não poderei ficar surpreendido se as enfermidades me
impedirem de desfrutar de muitas das misericórdias temporais de Deus; e, por
semelhante modo, se eu estiver negligenciando aos preceitos Divinos, terei de
culpar somente a mim mesmo, se porventura não receber o cumprimento de muitas
das promessas do Senhor. Que ninguém suponha que, devido às Suas promessas,
Deus se obrigou a ignorar as exigências de sua santidade, porquanto, Ele jamais
exerceu qualquer de Suas perfeições a expensas de outra. E que ninguém imagine,
por semelhante modo, que Deus haveria de magnificar a obra expiatória do
Calvário, se porventura, proporcionasse de seus frutos a almas impenitentes e
descuidadas.
Neste ponto, há certo equilíbrio da verdade que precisa ser
preservado; infelizmente, esse equilíbrio, nestes nossos dias, com frequência é
olvidado, e isso sob a pretensão de exaltar a graça Divina, que assim os
homens, na realidade, tornam em "lascívia". Com quanta frequência se
ouve a seguinte citação: "Invoca-me no dia da angústia: eu te livrarei, e
tu me glorificarás" (Salmos 50:15). Mas esse versículo começa somente
depois das palavras antecedentes. "Cumpre os teus votos para com o
Altíssimo.".
Assim também, com grande
frequência se ouve repetir: "Sob as minhas vistas, te darei
conselho". (Salmos 32:8). Mas isso é dito por pessoas que não dão a mínima
atenção ao contexto dessa passagem! Contudo, temos aqui a promessa de Deus para aqueles que, tiverem confessado a sua
"iniquidade" (ver Salmos 32:5). Assim sendo, se você tiver deixado de
confessar algum pecado que lhe pesa sobre a consciência, dependendo do braço da
carne, ou buscando ajuda da parte de seus semelhantes, ao invés de esperar
somente em Deus (Salmo 62:5), então não terá qualquer direito de esperar pela
orientação sob as vistas de Deus. Esta orientação Divina necessariamente
pressupõe que, você estará andando em comunhão com Ele, já que não posso estar
sob a vigilância de alguém, se estou distante desse alguém.
5. Tiramos proveito da Palavra, quando somos capacitados de fazer
das promessas de Deus nosso apoio e arrimo.
Essa é uma das razões que
explicam por que Deus nos deu as Suas promessas, – não somente a fim de
manifestar o Seu amor, tornando-nos conhecidos os Seus benévolos desígnios, mas,
também a fim de consolar nossos corações, e desenvolver a nossa fé. Se Deus
assim tivesse querido, poderia proporcionar-nos as Suas bênçãos, sem avisar-nos
de antemão acerca dos Seus propósitos. O Senhor poderia conferir-nos todas as
misericórdias de que necessitamos, sem comprometer-Se de forma alguma a
fazê-lo. Nesse caso, entretanto, não poderíamos ser crentes; pois, a fé sem
qualquer promessa, seria como um pé sem chão onde pisar.
Nosso terno Pai celestial
planejou que desfrutássemos por duas vezes em seguida de Suas bênçãos –
primeiramente, através da fé; e então, pelo recebimento concretizado das
promessas feitas. Por esses meios Ele, mui sabiamente, desliga os nossos
corações daquelas coisas que vemos e que perecem, convocando-nos para olhar
para frente, e para o alto, isto é, para aquelas realidades espirituais e
eternas. Além disso, se não houvesse nenhuma promessa, não somente seria
inexistente a fé, mas também não haveria esperança. Pois, do que consiste a
esperança, senão da expectação
daquelas coisas que Deus declarou que nos daria? A fé olha para a Palavra que
faz a promessa; e a esperança espera a concretização da promessa. Assim também
sucedeu no caso de Abraão: ''... Esperando contra a esperança, creu... E, sem
enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido,
sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, não duvidou da promessa de
Deus.". (Romanos 4:18-20).
Outro tanto aconteceu na
vida de Moisés: "... Porquanto considerou o opróbrio de Cristo, por
maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o
galardão". (Hebreus 11:26). E a mesma atitude sustentou o apóstolo Paulo:
"... Pois, eu confio em Deus, que sucederá do modo por que me foi
dito". (Atos 27:25). Assim também acontece em seu caso, prezado leitor? As
promessas Daquele que não pode mentir são o
lugar de descanso de seu pobre coração?
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