sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O AMIGO DESPREZADO (8)




Spurgeon
  “...e Dele não fizemos caso” (Isaías 53:3) (continuação)
        Como o marujo prestes a naufragar agarra-se à tábua flutuante, o moribundo olha para o médico, e o criminoso valoriza a clemência – assim estamos o libertador das nossas almas como Príncipe dos reis da terra. A repugnância de si mesmo proporciona uma paixão ardente pelo “Amante de nossas almas” cheio de graça; a autocomplacência esconde de nós Sua glória.
        O amor ao mundo também tem sua participação no mau uso deste querido amigo. Quando Ele bateu na porta, nós Lhe recusamos a entrada porque outro já havia entrado. Já tínhamos escolhido outro esposo a quem basicamente entregamos o coração. “Dá-me riquezas”, diz alguém, Jesus responde: “Eis-me aqui; Eu sou melhor que as riquezas do Egito, e vale mais a pena passar vergonha por mim do que desejar tesouros escondidos”. Mas o outro replica: “Tu não és a riqueza que procuro; não busco uma riqueza assim sem substância, ó Jesus! Não me importa uma riqueza para o futuro – desejo uma riqueza para o presente; quero um tesouro em que posso por a mão agora; quero ouro para comprar uma casa, uma fazenda, bens; anseio por joias brilhantes que adornem meus dedos; não te peço aquilo que está por vir; pensarei nisto depois que os anos passarem”.
        Outro de nós suplica: “Eu peço por saúde, pois estou doente”. O melhor dos médicos aparece e gentilmente promete: “Vou curar a sua alma, tirarei a lepra e o tornarei são”. “Não, não”, respondemos, “não foi isso o que pedi, ó Jesus! Peço um corpo forte, para que eu possa correr como Asael ou lutar como Hércules; quero me livrar da dor física, mas não te peço saúde espiritual, porque não é isso que quero”. Um terceiro implora por felicidade: “Ouve-me”, disse Jesus, “Meus caminhos são agradáveis e minhas veredas tranquilas”. “Não é essa alegria que procuro”, replicamos precipitadamente. “Quero um cálice transbordante, para saboreá-lo deliciosamente; tenho paixão por noitadas festivas e dias alegres; quero danças, festanças e outros prazeres comuns deste mundo; reserve o Seu porvir para os fanáticos – que eles vivam de esperança; eu prefiro este mundo e o presente”.
        Assim cada um de nós, a seu modo, dirigiu seu amor para coisas terrenas e desprezou as do alto. Certamente não foi um pintor malvado que rascunhou nossas vidas com seu lápis de desenho: “O intérprete levou-os novamente, e os colocou numa sala onde havia um homem que não podia olhar para outro lado senão para baixo e segurava na mão um escovão; acima dele havia outro com uma coroa celestial na mão; este lhe ofereceu a coroa em troca do escovão; o homem, porém, sem olhar para cima nem prestar a menor atenção, varreu para junto de si a palha e o pó”.
        Enquanto amamos o mundo, “o amor do Pai não está em nós” (1 João 2:15), nem o do Filho Jesus. Não se pode servir a dois senhores. O mundo e Jesus jamais estarão de acordo. Precisamos poder cantar a primeira parte da estrofe de Madame Guion, antes de podermos concordar com sinceridade com a segunda:
                                               Adeus! Prezares vãos daqui,
                                               Esportes e alegrias mil,
                                               Pra mim não têm sabor.
                                               Felicidade, só na cruz,
                                               O resto, vi com meu Jesus,
                                               É lixo sem valor.









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