segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A NATUREZA DA CONVERSÃO (3) Joseph Alleine




          

(2) Os membros. Estes, que antes eram instrumentos do pecado, agora tornaram-se instrumentos santificados no templo vivo de Cristo. Aquele que antes desonrava o seu corpo, agora possui o seu vaso em santificação e honra, em temperança, em castidade, em sobriedade, e o dedica ao Senhor.
         O olho, que antes era irrequieto, dissoluto, arrogante, cobiçoso, é agora empregado, como o de Maria, em chorar pelos seus pecados, em contemplar a Deus através de Suas obras, em ler a Sua Palavra ou em procurar motivos de misericórdia e oportunidades para o Seu serviço.
         O ouvido, que antes estava aberto à voz de Satanás, e que só se deleitava com coisas imundas ou conversas vãs e com a risada dos tolos, encontra-se agora conjugado com a casa de Cristo e aberto aos Seus discípulos. Ele diz: "Fala, Senhor, porque o teu servo ouve". Ele espera por Suas palavras como pela chuva e tem mais prazer nelas do que no alimento (Job 23:12), mais do que no mel e do que no licor dos favos (Salmo 19:10).
         A cabeça, que estava cheia de desígnios mundanos, está agora cheia de outros assuntos e aplica-se ao estudo da vontade de Deus; e o homem usa a sua cabeça não tanto para obter lucro, mas para cumprir o seu dever. Os pensamentos e preocupações que enchem a sua cabeça são, principalmente, como poderá agradar a Deus e fugir do pecado.
         O seu coração, que era um poço de imundícia, tornou-se agora um altar de incenso onde o fogo do amor divino é mantido sempre aceso, do qual o sacrifício diário de oração e louvor, do doce aroma de desejos santos, exaltações e intercessões se elevam continuamente.
         A boca tornou-se "uma fonte de vida; a sua língua é como prata escolhida e seus lábios alimentam a muitos. O sal temperou o seu discurso e tirou a corrupção (Colossenses 4:6) e limpou o homem das conversas imundas, frívolas, jactanciosas, injuriosas, mentirosas, blasfemadoras, caluniadoras que outrora saíam como relâmpagos do Inferno que havia em seu coração (Tiago 3:6). A garganta, que era um sepulcro aberto, agora exala o doce hálito da oração e do discurso santo e o homem fala uma outra língua, na linguagem da Canaã celestial, e jamais se sente tão bem como quando fala de Deus, de Cristo e dos assuntos referentes ao outro mundo. A sua boca produz sabedoria; a sua língua se tornou a trombeta prateada de louvor ao seu Criador, é a sua glória, o melhor membro que ele tem.
         Nessas coisas, contudo, você encontrará o hipócrita tristemente deficiente. Ele fala, talvez, como um anjo, mas tem um olhar cobiçoso ou o lucro da injustiça em sua mão. A sua mão é branca, mas o seu coração está cheio de imundícia (Mateus 23:27), cheio de cobiças não dominadas, um forno cheio de concupisência, uma fábrica de orgulho — a sede da malícia. Talvez, como a estátua de Nabucodonosor, ele tenha uma cabeça de ouro — uma grande quantidade de conhecimento — mas ela tem pés de barro; as suas afeições são mundanas, ocupa-se de coisas terrenas, o seu caminho e andar são sensuais e carnais. A obra nele não é salvadora.

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