quinta-feira, 19 de junho de 2014

COMÉRCIO ESPIRITUAL INSALUBRE (4)




C. H. Spurgeon

I. OS CAMINHOS DOS HOMENS ABERTAMENTE MALVADOS são limpos na sua própria opinião, porém, o SENHOR pesa os seus espíritos.
         À primeira vista, esta declaração pareceria ser precipitada. Não serão o bêbado, o blasfemo, o quebrantador do dia de guarda, limpos em sua própria opinião? Salomão era um profundo estudioso da natureza humana, e podeis estar seguros de que quando ele escreveu esta frase sabia o que escrevia. Os maiores conhecedores da humanidade dir-vos-ão que a justiça própria não é um pecado peculiar do virtuoso, mas que, muito surpreendentemente, floresce onde pareceria que haveria um chão pouco propício para ele. Esses homens, que evidente e claramente, não têm qualquer justiça com a qual se pudessem glorificar, segundo o juízo dos seus semelhantes, são precisamente as pessoas, que quando te pões a esquadrinhar na profundidade da sua natureza, confiam numa bondade imaginária com a qual sonham e na qual se apoiam.
         Tomai por um momento as pessoas visivelmente imorais e começai a falar-lhes dos seus pecados e descobrireis que estão acostumadas a falar das suas faltas sob nomes muito diferentes dos que a Escritura e a reta razão usariam. Essas pessoas não chamam à bebedeira, “bebedeira”, por exemplo, mas sim é, “tomar um copo.” Não advogariam, nem por momento, por uma clara blasfêmia, mas redefinem-na como: “uma linguagem forte, que um indivíduo tem de usar, se tiver de seguir adiante”, ou é simplesmente, “deixar escapar uma palavra mais ou menos feia porque foi muito mortificado.”
         Eles disfarçam para si mesmos o vício como prazer; etiquetam a imundície como alvoroço, a sua obscenidade como atordoamento. Falam dos seus pecados como se não houvesse neles uma gravidade, como sendo só bagatelas ligeiras como o ar, e se estiverem moralmente condenáveis em tudo, isso são temas para o látego feito de plumas do ridículo mais do que para o açoite da condenação.
         Além disso, a maioria deles argumentará que não são tão maus como os demais. Há um ponto especial no seu caráter no qual não vão mais longe do que alguns dos seus semelhantes, e este é um ponto grandioso e um enorme consolo para eles. Confessam que são pecadores, sem querer dizê-lo nem por um instante; e se chegasses a pontos específicos e aos pormenores, se eles tiverem uma disposição mental honesta, em que retrocederão passo a passo, admitindo falta após falta, até chegarem a um ponto particular onde se plantam com virtuosa indignação. “Aqui estou exatamente além de toda censura, e inclusive aqui mereço um louvor. Até aqui chegou o meu pecado, porém, quão completamente puro de coração tenho de ser, para que jamais permita o seu avanço para diante!” Esta frase jactanciosa é frequentemente tão singular e misteriosa no seu sentido, que ninguém, a não ser o próprio homem pode ver alguma razão ou consistência nela; e o satírico que dispara contra a necedade quando esta voa, encontra abundantes alvos para suas flechas.
         Sem embargo, para esse homem, deter-se ali é a cláusula salvadora da sua vida; olha para isso como a tábua de salvação do seu caráter. A mulher cujo caráter desapareceu há muito tempo, mas que se gaba de que há um limite para a sua libertinagem, o que é um mérito no seu apreço, tem mérito suficiente para fazer com que todos os seus caminhos sejam limpos, na sua própria opinião.

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