II. A alma do cristão vai habitar
à vista imediata, plena e constante de Cristo.
Quando
estamos ausentes de nossos queridos amigos, eles estão fora de vista, mas
quando estamos com eles, temos a oportunidade e satisfação de vê-los. Enquanto
os santos estão no corpo e ausentes do Senhor, sob vários aspectos Ele está
fora da nossa vista. “O qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo
agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso” (1Pedro 1:8).
Eles têm neste mundo uma visão espiritual de Cristo, mas veem “por espelho em
enigma” e com grandes interrupções; mas no céu eles o vêem “face a face.” São
bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus. A visão
beatífica que eles têm de Deus está em Cristo, que é o brilho ou fulgência da
glória de Deus, pela qual a sua glória brilha no céu, à vista dos santos e
anjos lá como também aqui na terra. Este é o Sol da Justiça, que não só é a luz
deste mundo, mas também o sol que ilumina a Jerusalém celestial, por cujos
raios luminosos a glória de Deus brilha, para a iluminação e felicidade de
todos os habitantes gloriosos. “A glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é
a sua lâmpada” (Apocalipse 21:23) Ninguém vê Deus Pai imediatamente. Ele é o
Rei eterno, imortal, invisível. Cristo é a imagem desse Deus invisível pela
qual Ele é visto por todas as criaturas eleitas. O Filho unigênito que está no
seio do Pai, Ele O declarou e O manifestou.
Ninguém
jamais viu o Pai, somente o Filho; e ninguém mais vê o Pai de outro modo senão
pela revelação que o Filho faz Dele. No céu, os espíritos dos justos tornados
perfeitos veem-nO como Ele é. Eles veem a Sua glória. Eles veem a glória da Sua
natureza divina, que consiste em toda a glória da deidade, a beleza de todas as
Suas perfeições; a Sua grande majestade e poder Todo-poderoso; a Sua sabedoria,
santidade e graça infinitas. Eles veem a beleza da Sua natureza humana
glorificada e a glória que o Pai Lhe deu, como Deus-Homem e Mediador. Para este
fim, Jesus desejou que os santos estivessem com Ele, para que vissem a Sua
glória.
Quando
a alma do santo deixa o corpo para ir estar com Cristo, ela vê a glória da obra
de Redenção que “os anjos desejam bem atentar.” Os santos no céu têm a visão
mais clara da profundidade insondável da sabedoria e conhecimento de Deus e das
demonstrações mais brilhantes da pureza e santidade de Deus que aparecem nessa
obra. Eles veem de uma maneira muito mais clara do que os santos aqui “qual
seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor
de Cristo, que excede todo o entendimento” (Ef 3:18,19). Assim como eles veem
as riquezas e a glória indizíveis da graça de Deus, eles entendem claramente o
amor eterno e imensurável de Cristo por eles em particular. Em resumo, eles veem
tudo em Cristo, o que tende a acender e satisfazer o amor da maneira mais clara
e gloriosa, sem escuridão ou ilusão, sem impedimento ou interrupção. Agora os
santos, enquanto no corpo, veem um pouco da glória e do amor de Cristo; como
nós, no alvorecer da manhã, vemos um pouco da luz refletida do sol misturada
com a escuridão. Mas quando separados do corpo, eles veem o Redentor glorioso e
amoroso, assim como vemos o sol quando ele está acima do horizonte, pelos seus
raios diretos num hemisfério claro e com dia perfeito.
III. A alma do cristão é levada a
uma conformidade perfeita com Cristo e união com Ele.
A
sua conformidade espiritual começou enquanto a alma estava no corpo. Aqui,
“refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, [ela é transformada] de
glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2Co 3:18).
Mas quando a alma do cristão vai vê-lo como Ele é no céu, então torna-se como
Ele em outro modo. Essa visão perfeita aniquilará todos os restos da
deformidade e dessemelhança pecadora, assim como toda a escuridão é aniquilada
diante do pleno resplendor da luz meridiana do sol. É impossível que o menor
grau de obscuridade permaneça diante de tal luz; assim, é impossível que o
menor grau de pecado e deformidade espiritual permaneça diante de tamanha visão
da beleza espiritual e glória de Cristo, como a que os santos desfrutam no céu.
Quando veem o Sol da Justiça sem nuvens, eles mesmos brilham como o sol e serão
como sóis sem mancha. Então Cristo apresenta os santos para si mesmo em beleza
gloriosa, “sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e
irrepreensível” (Efésios 5:27), e tendo santidade sem mancha. Então a união
deles com Cristo é aperfeiçoada. Esse processo também é iniciado neste mundo. A
união relativa é iniciada e aperfeiçoada imediatamente quando a alma aceita
Jesus pela fé. A verdadeira união, que consiste na união do coração e do afeto,
é iniciada neste mundo e aperfeiçoada no seguinte.
A
união do coração do crente com Cristo é iniciada quando o coração é atraído a
Cristo pela descoberta primeira da sua excelência divina na conversão.
Consequente a isto, é estabelecido uma união vital com Cristo por meio da qual
o crente se torna um ramo vivo da videira verdadeira, vivendo pela comunicação
da seiva e líquido vital do tronco e da raiz; um membro do Corpo místico de
Cristo, que vive pela comunicação das influências vitais e espirituais da
cabeça e pela participação da própria vida de Cristo. Mas, enquanto os santos
estão no corpo, há grande distância remanescente entre Cristo e eles. A união
vital é muito imperfeita e, assim, é a comunicação da vida espiritual e da
influência vital. Há muito entre Cristo e os crentes que os mantêm separados,
muito pecado residente; muita tentação; um corpo de molde pesado e delicado; e
um mundo de objetos carnais para manter afastada a alma de Cristo e dificultar
uma coalescência perfeita. Mas quando a alma deixa o corpo, todos estes
impedimentos são removidos. Todo muro de separação é derrubado, todo
impedimento é retirado do caminho e toda a distância acaba; o coração é
completa e perfeitamente atraído e firme e eternamente unido a Cristo mediante
uma visão perfeita da sua glória. A união vital é levada à perfeição. A alma
vive perfeitamente em Cristo, sendo perfeitamente cheia com o seu Espírito e
animada pela sua influência vital, vivendo como se fosse somente pela vida de
Cristo, sem qualquer lembrança da morte espiritual ou da vida carnal.
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