I. A nossa primeira consideração
esta manhã será: QUAL ERA ESSE TEMA, A QUE PAULO SE TINHA DETERMINADO CONFINAR,
QUANDO ELE PREGAVA À IGREJA DE CORINTO? Esse tema era um, ainda que muito bem
pudesse ser dividido em dois —era a Pessoa e a obra de nosso Senhor Jesus
Cristo— pondo especial ênfase naquela parte da Sua obra, a qual sempre enfrenta
as maiores objeções, isto é, o Seu Sacrifício substitutivo, a Sua morte
redentora. Paulo pregava a Cristo em todos os Seus ofícios, porém, dava
particular importância a Cristo crucificado.
O
Apóstolo, primeiramente, pregava sobre a Pessoa do seu grandioso Mestre, Jesus
Cristo. Quando Paulo falava de Jesus de Nazaré, não havia nenhuma margem de
dúvida. Apresentava-O como um homem real — e não como um fantasma— que foi crucificado,
morto e sepultado, e que ressuscitou dos mortos com uma existência corporal
real. Tampouco havia nenhuma dúvida a respeito da Sua Divindade. Paulo pregava
a Jesus como o Filho do Altíssimo, como a sabedoria e o poder de Deus, “no Qual
habita corporalmente toda a plenitude da Deidade.” Ao escutar-se Paulo, não
existia nenhuma dúvida de que cria tanto na Divindade como na Humanidade do
nosso Senhor Jesus Cristo — que Lhe rendia culto e O adorava como ao Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro. Pregava a Sua Pessoa com toda a claridade de
linguagem e também com todo o calor do amor. O Cristo de Deus era Tudo em Tudo
para Paulo.
O
Apóstolo falava igualmente com toda clareza do trabalho do Redentor, pondo
especial ênfase sobre a Sua morte. “Horrível”, dizia o Judeu, “como podes
vangloriar-te acerca de um Homem que morreu como um criminoso e que era maldito
já que foi pendurado num madeiro!” “Ah”, dizia o Grego, “não queremos saber
mais do teu Deus que morreu! Deixa já de palrar a respeito da ressurreição. Nunca
vamos crer em semelhante loucura.” Mas, Paulo não pôs de lado estas coisas
dizendo “Senhores, começarei por contar-vos a vida de Cristo e a excelência do
Seu exemplo — e mediante isto espero convencer-vos de que havia algo de Divino
Nele, para posteriormente concluir que Ele fez uma expiação pelo pecado.”
Justamente
o contrário, ele começava com a Sua bendita Pessoa e claramente O descrevia
conforme tinha sido ensinado pelo Espírito Santo! E quanto à Sua crucificação,
punha-a em primeiro plano, dando-lhe o lugar de proeminência. Não dizia: “Bem,
por agora não tocaremos o tema da Sua morte” ou “Consideraremo-lo da
perspectiva de um martírio mediante o qual Ele ratificou o Seu testemunho”,
Não! Paulo glorificava no Redentor crucificado, o Cristo morto e sepultado, o
Cristo que carregou com os pecados, o Cristo feito maldição por nós, como está
escrito: “Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro.” Este foi o tema em
que ele se concentrou em Corinto — e não tocou em nenhum outro. Mais ainda, não
somente decidiu limitar a sua pregação a esse ponto, mas, resolveu, também, não
saber de nenhum outro tema! Ele queria excluir da sua mente qualquer outro
pensamento, exceto o de Jesus Cristo e Este crucificado!
Isto
deve ter parecido muito pouco político. Consultai uma assembleia de sábios
segundo o mundo, e certamente condenarão este enfoque imprudente; em primeiro
lugar, este tipo de pregação afastaria a todos os Judeus. Estando os Judeus
apegados às Escrituras do Antigo Testamento, e conhecendo os ensinos sobre o
Messias, e crendo firmemente na unidade da Deidade, eles tinham avançado um bom
trecho para a luz — e se Paulo tivesse evitado os pontos de discórdia por um
pouco de tempo mais— não tê-los-ia aproximado um pouco mais, e assim,
gradualmente, os conduziria à cruz? Os sábios teriam assinalado a esperança que
havia para os Israelitas, se ele os tratasse com discrição, e o seu conselho
teria sido: “Não te pedimos que renuncies aos teus sentimentos, Paulo,
simplesmente disfarça-os por um pouco de tempo mais! Não digas o que não é
verdade, porém, ao mesmo tempo, sê um pouco reticente acerca do que é verdade,
para não espantares a estes judeus cheios de esperança.”
O
Apóstolo não cedia ante tais políticas! Assim ele não ia ganhar nem a Judeus
nem a Gentios dizendo verdades pela metade, posto que sabia que tais
convertidos não são verdadeiros. Se o homem que está perto do reino vai ser
afugentado do Evangelho ao ouvir a crua Verdade, isso não é da responsabilidade
de Paulo; Ele sabe que o Evangelho deve ser para uns “aroma de morte para
morte”, enquanto que para outros “aroma de vida para vida”, e, portanto,
independentemente do resultado, ele devia entregar a sua própria alma: os
resultados não diziam respeito a Paulo, mas ao Senhor! A nós corresponde-nos dizer
a Verdade com denodo, e em cada caso seremos um aroma grato a Deus. Mas querer
contemporizar, esperando obter conversões, é fazer um mal para obter um bem — e
isto deve estar fora da nossa consideração a todo momento!
Outro
diria: “Mas Paulo, se tu fizeres isto, vais gerar oposição. Não sabes que o
Cristo crucificado é um objeto de escárnio e uma recriminação para todos os
seres pensantes? Em Corinto há um bom número de filósofos, e, crê-me, farás um
ridículo monumental se apenas abres a tua boca para falar do Crucificado e da
Sua ressurreição. Não te lembras de como se escarneceram de ti na Colina de
Marte, quando pregaste sobre esse tema? Não lhes provoques o seu desprezo!
Debate com o seu Gnosticismo e mostra-lhes que tu também és um filósofo. Sê todas
as coisas para com todos os homens. Sê um intelectual entre os intelectuais e
mostra a tua retórica entre os oradores. Mediante estas técnicas farás muitas
amizades e assim gradualmente a tua conduta conciliatória conduzi-los-á a
aceitar o Evangelho.”
O
Apóstolo sacode a sua cabeça, o seu pé golpeia o chão, e com voz firme declara:
“Já o decidi”, diz, “cheguei a uma conclusão, estais desperdiçando os vossos
comentários e o vosso conselho no que a mim concerne. Decidi não saber nada no
meio dos Coríntios —sem importar quão cultos sejam os que ali são gentios, ou
quanto amem a retórica— só quero saber de Jesus Cristo, e Este crucificado.”
Essa é a posição de Paulo. É muito importante observar adicionalmente que o
Apóstolo estava convencido de que o seu tema ia atrair de tal maneira os seus
ouvintes, que ele não precisava de recorrer à excelência das palavras para
apresentá-lo, nem adorná-lo com a sabedoria humana.
Talvez
vós tenhais escutado do famoso pintor que retratou o rei Jaime I. Ele
representou-o sentado sob uma caramanchão com todas as flores da estação ao seu
redor — e ninguém emprestou a menor atenção ao rosto do rei, posto que todas as
olhares eram cativadas pela beleza das flores! Paulo resolveu não ter flores ao
seu redor! O quadro que ele ia desenhar devia ser de Cristo crucificado, sem
adornos, e a doutrina da Cruz, com exclusão de qualquer flor que proviesse de
poetas ou de filósofos! Alguns de nós devemos ser discretos a respeito da nossa
resolução de evitar uma linguagem florida, já que podemos ser muito pouco
dotados a esse respeito. Mas o Apóstolo era um homem de poderes naturais sutis
e de vastos predicados pessoais — um homem ao qual não poderiam desprezar os
críticos de Corinto— se bem que Paulo se tenha despojado de todo o ornamento para
dar passo à beleza sem adornos da Cruz!
Da
mesma maneira como ele não adicionaria flores, tampouco ia enegrecer a Cruz com
fumo, pois há uma forma de pregar o Evangelho que o asfixia no mistério e na
dúvida, de tal maneira que os homens não podem recebê-lo. Um grupo numeroso de
pessoas está sempre aquecendo e removendo um gigantesco caldeirão filosófico,
fumegante com um denso vapor, que oculta a Cruz de Cristo da maneira mais
horrível. Ai daquela sabedoria que oculta a Sabedoria de Deus! É a mais culpada
forma de loucura. Algumas pessoas pregam a Cristo, da mesma maneira como é
representado, às vezes, um casco de um navio de guerra, em alguma pintura. O
pintor pintou unicamente o fumo, de tal forma que te perguntas: “E onde está o
navio?” Pois bem, se olhares com atenção, podes, eventualmente, discernir um
fragmento da parte superior de um dos mastros, e, talvez, uma porção da sua
estrutura; o navio estava ali, indubitavelmente, mas o fumo oculta-o! Da mesma
maneira Cristo pode estar na pregação de alguns homens, mas esta pregação
encontra-se rodeada de tanta nuvem de pensamento, de tão densa cortina de
profundidade, de tão horrível roupagem de filosofia, que vos impedem de ver o
Senhor!
Paulo
pintava sob um céu limpo. Não queria utilizar nenhuma escuridão ilustrada;
decidiu abandonar toda a técnica da oratória quando falava; para não pensar com
a profundidade com que presumem os filósofos, mas apenas saber de Jesus Cristo,
e Este crucificado — e apresentá-Lo na Sua própria beleza natural, sem adornos.
Ele prescindiu de todo o elemento acessório que tendesse a distrair o olho da
mente do ponto mais importante — Cristo crucificado. “Um experimento
imprudente”, diria alguém. Ah, Irmãos, é o experimento da fé, e a fé é
justificada por todos os seus filhos! Se confiarmos no simples poder da
persuasão, confiamos no que é nascido da carne! Se dependermos do poder da
argumentação lógica, então novamente confiamos no que é nascido da razão do
homem! Se confiarmos nas expressões poéticas e nos atrativos rodeios da
linguagem, estamos procurando meios carnais.
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