Spurgeon
Mas se descansarmos na Omnipotência nua
de um Salvador crucificado, no poder inato da maravilhosa obra de amor que foi
consumada sobre o Calvário — e se crermos que o Espírito de Deus fará desta
obra o instrumento para a conversão dos homens, o experimento não pode terminar
no fracasso! Mas oh, meus queridos Irmãos e Irmãs, que tarefa deve ter sido
esta para Paulo! Ele não era como muitos de nós, que nem estamos familiarizados
com a filosofia, nem somos capazes na oratória. Ele dominava ambos os campos, de
tal maneira, que certamente, precisava controlar-se continuamente. Às vezes
parece-me vê-lo, — acossado na sua mente por um pensamento profundamente
intelectual e assediado ao mesmo tempo por uma bela forma de expressá-lo — e
vejo-o controlar-se, pondo-se rédeas a ele mesmo, e dizendo à sua mente:
“Deixarei estes profundos pensamentos para a Epístola aos Romanos.
Compartilharei tudo isto com eles no oitavo capítulo da Carta que lhes
escreverei. Mas, quanto a estes Coríntios, não terão nada senão a Cristo crucificado,
posto que eles são muito carnais, grosseiramente escravos de entendimento, e
que ir-se-ão com a ideia de que a maneira excelente como apresentei a Verdade
de Deus constituiu a sua força. Terão somente a Cristo — e somente a Cristo.
Eles são uns meninos e deverei falar-lhes como a tais. Eles são uns meros
meninos em Cristo, e têm necessidade de leite — e leite, só leite lhes darei.
Eles consideram-se inteligentes e cultos, porém são arrogantes, altivos,
repletos de divisões e de controvérsias. Não lhes direi nada exceto a história,
“a velha, velha história de Jesus e do Seu amor”, e dir-lhes-ei essa historia
com toda a simplicidade como a contamos a um menino pequeno.”
Um amor sem limites pelas suas
almas fez com que o seu testemunho se concentrasse no tema central de Jesus
crucificado. E assim vos mostrei qual foi o seu tema.
II.
Agora, em segundo lugar, AINDA QUE PAULO CONCENTRASSE AS SUAS ENERGIAS NUM
PONTO DO SEU TESTEMUNHO, ISTO ERA MAIS DO QUE SUFICIENTE PARA O SEU PROPÓSITO.
Se a meta de Apóstolo tivesse sido adular um auditório inteligente, o tema de
Cristo e Este crucificado não a teria conseguido. Se de igual maneira Paulo
tivesse querido mostrar-se como um sábio professor, naturalmente teria buscado
um novo tema, algo um pouco mais deslumbrante do que a Pessoa e a obra do
Redentor. E se Paulo tivesse desejado (como me receio de que alguns dos meus
Irmãos o desejam) reunir um grupo de mentes altamente independentes, que é uma
maneira elegante de descrever aos livre pensadores —reunir, digo, num grupo uma
seleta Igreja de “homens de cultura e de intelecto”, o que geralmente quer
dizer um clube de homens que desprezam o Evangelho — certamente não se teria
limitado a pregar a Jesus Cristo e Este crucificado.
Esta
classe de homens negar-lhe-ia toda a esperança de êxito com um tema como esse.
Eles assegurar-lhe-iam de que uma pregação desse tipo só lhe permitiria atrair
à classe os mais pobres e os menos educados — às criadas e às anciãs. Mas Paulo
não se teria desanimado com tais observações, porquanto ele amava as almas dos
mais pobres e dos mais débeis, e, além disso, ele sabia que O que tinha
exercido poder sobre a sua mente educada podia também, com toda a certeza,
exercer poder sobre outras pessoas inteligentes, e assim se apegou à doutrina
da Cruz, crendo que ele tinha, nesse ponto, um instrumento que poderia obter
efetivamente o seu único desígnio com toda a classe de homens.
Irmãos,
o que era que Paulo desejava fazer? Acima de tudo, Paulo desejava despertar nos
pecadores a consciência do pecado — e o que é que obtém isto sempre de uma
maneira perfeita, senão a doutrina de que o pecado foi levado por Cristo e foi
a causa da Sua morte? O pecador, iluminado pelo Espírito Santo, vê
imediatamente que o pecado não é algo insignificante, que não pode ser perdoado
sem uma Expiação, mas que suporta um castigo que deve ser aplicado ao pecador.
Quando o culpado tem visto o Filho de Deus sangrar até à Sua morte, no meio de
dores inexprimíveis, em consequência do seu pecado, tem aprendido, então, que o
pecado é uma carga enorme e esmagadora. Se o próprio Filho de Deus clama sob o
seu peso! Se a Sua agonia de morte rasga os Céus e sacode a Terra, quão
terrivelmente mal deve ser o pecado! Que efeito terá sobre a minha alma, se na
minha própria pessoa estou condenado a levar as suas consequências? Assim
argumenta de maneira correta o pecador e assim é levado à consciência da sua
culpa.
Mas,
Paulo também queria despertar nas mentes dos culpados essa humilde esperança
que constitui o grandioso instrumento que leva os homens a Jesus. Desejava
levá-los à esperança de que se pode outorgar o perdão consistentemente com a
justiça. Oh, Irmãos, ‘Cristo crucificado é o único raio de luz que pode
penetrar a densa escuridão do desespero, levando o coração arrependido a
esperar o perdão do justo Juiz! Porventura pode duvidar o pecador que tem visto
a Jesus crucificado? Quando ele entende que há um perdão para cada
transgressão, albergado nas feridas sangrentas de Jesus, não se acende
imediatamente no seu peito a melhor classe de esperança e é conduzido a
exclamar: “Levantar-me-ei, e irei para meu Pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei”?
Paulo
anelava muito levar os homens a uma fé real em Jesus Cristo. Mas a fé em Jesus
Cristo só pode vir por meio da pregação de Jesus Cristo. A fé vem pelo ouvir,
mas esse ouvir tem de ser em relação com o tema sobre o qual descansa a fé.
Queres ter crentes em Cristo? Prega a Cristo. As coisas de Cristo, aplicadas
pelo Espírito, conduzem os homens a pôr a sua confiança em Cristo. E isso não era
tudo. Paulo queria que os homens abandonassem os seus pecados, e o que é que os
podia levar a odiar o mal, de tal maneira, a não ser ver os sofrimentos de
Jesus por causa dos seus pecados? Tu e eu conhecemos o poder do sangrento
Salvador que nos faz querer vingarmo-nos do pecado. Quanta indignação, quanto
exame de consciência, quanta firme determinação, quanto remorso amargo, quanto
arrependimento profundo não havemos sentido quando compreendemos que os nossos
pecados se tornaram nos pregos, no martelo, na lança, sim, nos executores do
nosso Bem Amado?
E
Paulo desejava formar em Corinto uma Igreja de homens consagrados, cheios de
amor, conhecedores da abnegação, uma nação santa, zelosos na realização de boas
obras. E permiti que vos pergunte, que mais é necessário pregar a alguém, para
promover a sua santificação e a sua consagração, do que a Jesus Cristo, O qual
nos redimiu, e assim, nos tem feito Seus servos, para sempre? Que argumento é
mais forte do que o fato de que não pertencemos a nós mesmos, porque fomos
comprados por um preço? Afirmo que Paulo tinha em Cristo crucificado, o tema
igual ao seu objetivo! Ele tinha um tema que responderia ao caso particular de
qualquer homem, sem importar o seu nível de degradação ou o seu grau de
cultura, e um tema que será muito útil para os homens nas primeiras horas
depois do seu novo nascimento, e igualmente útil para quando eles estiverem
preparados para participar da herança dos santos na luz. Paulo tinha o tema
para hoje e para amanhã, e um tema para o seguinte ano, pois Jesus Cristo é o
mesmo ontem, hoje e sempre! Ele tinha em Jesus Crucificado o tema adequado
tanto para o palácio do príncipe como para a choça do camponês, o tema para a
praça pública e para a academia, para o templo pagão e para a sinagoga! Aonde
quer que Paulo fosse, Cristo seria a sabedoria de Deus e o poder de Deus tanto
para o Judeu como para o Gentio, e isto, não só como uma benéfica influência,
mas também para a salvação definitiva de todo aquele que crê.
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