Alleine
Ah, miserável homem que eu sou! A que
condições cheguei por causa do pecado! Vejo que o meu coração me enganou até
agora, fazendo-me crer que a minha condição era boa. Vejo, vejo que não sou
outra coisa senão um homem perdido e destruído —destruído para sempre— a não
ser que o Senhor me ajude a sair deste estado. Meus pecados! Meus pecados!
Senhor, que ímpio impuro e poluído eu sou! Mais repulsivo e odioso a Ti que o
mais abominável veneno ou a mais fétida carcaça pode ser para mim. Oh, que
Inferno de pecado nesse meu coração com o qual me lisonjeei, supondo ser ele um
bom coração! Senhor, estou totalmente corrompido em todas as minhas partes,
poderes e ações! Todas as imaginações do meu coração são continuamente más.
Sinto aversão, inimizade e incapacidade para as coisas boas; e estou inclinado
a tudo o que é mau. Meu coração é um verdadeiro poço de pecado, e quão
incalculável é o grande número de pensamentos, palavras e ações pecaminosas que
já procederam dele!
Oh,
que peso de pecado há na minha alma! Minha cabeça, meu coração, minha mente e
meus membros estão cheios de pecado! Oh, os meus pecados! Como eles me
defrontam! Pobre de mim, meus credores estão sobre mim; todos os mandamentos se
apoderam de mim, por mais de dez mil talentos; sim, dez mil vezes dez mil. Quão
infindável é a soma de meus débitos !Se este mundo inteiro se enchesse de
papel, até o Céu, e todo esse papel fosse escrito, por dentro e por fora, com
números, e todos esses números fossem somados, daria um resultado incrivelmente
pequeno se comparado àquilo que devo ao menor dos mandamentos de Deus. Pobre de
mim, pois meus débitos são infinitos e meus pecados se multiplicam. São crimes
diante da Majestade infinita, e se aquele que comete traição contra um pobre
mortal merece ser torturado, arrancado e esquartejado, então o que mereço eu,
eu que tenho tão frequentemente levantado minha mão contra o Céu e golpeado a
coroa e a dignidade do Todo-poderoso?
Oh,
meus pecados, meus pecados! Aí vem um bando! Multidões, multidões! Seus
exércitos são inumeráveis. Males sem número têm me cercado; minhas iniquidades
têm se apoderado de mim; elas se puseram contra mim. Oh, seria melhor ter todos
os regimentos do Inferno contra mim, do que ter meus pecados caindo sobre mim
para destruir a minha alma. Senhor, como estou cercado! Quantos e quantos são
os que se levantam contra mim! Cercam-me por todos os lados, por dentro e por
fora; apoderam-se de todos os meus poderes e se entrincheiram dentro da minha
pobre alma como uma fortaleza, à qual esta prole do Inferno fortifica e mantém
contra o Deus que me fez.
E
são tão poderosas quanto são numerosas. As areias do mar são muitas, porém não
são grandes; as montanhas são grandes, porém não são muitas. Mas pobre de mim,
meus pecados são tão numerosos quanto as areias do mar e tão poderosos quanto
as montanhas. Seu peso é maior que o seu número. Seria melhor que as rochas e
as montanhas caíssem sobre mim do que suportar o peso esmagador e insuportável
dos meus pecados. Senhor, estou muito sobrecarregado; tenha misericórdia de
mim, senão estou perdido. Livra-me desta culpa pesada, desta carga esmagadora,
caso contrário estarei irremediavelmente aniquilado e serei empurrado para o
Inferno. Se minha tristeza fosse pesada totalmente, e meus pecados colocados na
balança, seriam mais pesados que a areia do mar; portanto, minhas palavras são
engolidas; pesam mais que todas as rochas e colinas, e inclinariam a balança se
postos contra todas as ilhas da Terra. Ó Senhor, Tu conheces minhas inumeráveis
transgressões e meus terríveis pecados.
Oh,
minha alma! Oh, minha glória! Como você está humilhada! Outrora, a glória da
criação e a imagem de Deus; agora, um amontoado de imundícia, um receptáculo de
podridão, repleto de maus cheiros e repugnâncias. Oh, o que o pecado fez com
você! Você será denominada "abandonada" e todos os compartimentos dos
seus poderes serão chamados "desolados" e você será chamada
"Icabode" ou "Onde está a glória?" Como você caiu
vertiginosamente! Minha formosura transformou-se em deformidade e a minha
glória em vergonha. Senhor, que leproso nojento sou eu! Os corpos cheios de
feridas de Job e de Lázaro não são mais ofensivos aos olhos e às narinas
humanas do que eu devo ser para o Deus santíssimo, cujos olhos não podem
contemplar a iniquidade.
E
que infelicidade meus pecados têm trazido sobre mim! Senhor, em que estado eu
me encontro! Traído pelo pecado, lançado fora da graça de Deus, maldito do
Senhor, amaldiçoado em meu corpo, amaldiçoado, em minha alma, amaldiçoado em
meu nome, em meu estado, em minhas relações, e em tudo que tenho. Meus pecados
são imperdoáveis e minha alma está a um passo da morte. Que tristeza! O que vou
fazer? Para onde irei? Que caminho devo seguir? Deus não me vê com bons olhos
lá de cima; o Inferno lá em baixo está pronto a me engolir; a consciência está
me esbofeteando interiormente; tentações e perigos cercando-me externamente.
Oh, para onde fugirei? Onde posso me esconder da Onisciência? Qual o poder que
pode me proteger da Onipotência?
O
que significa, ó minha alma, continuar assim? Você tem alguma aliança com o
Inferno? Fez algum pacto com a morte? Está apaixonada por sua miséria? Acha bom
estar aqui? Ai, que vou fazer? Continuarei nos meus caminhos pecaminosos? Ora,
assim é certo que a condenação eterna será o meu fim. Será que estou tão
embrutecido e louco a ponto de vender minha alma às chamas por uma cervejinha,
ou por um pequeno conforto, ou por um pequeno prazer, lucro ou deleite da minha
carne? Continuarei ainda neste estado deplorável? Não, se eu permanecer aqui,
morrerei. O que fazer então? Não há remédio? Não há esperança? Nenhuma, a não
ser que eu volte. Ora, não há remédio para uma tão grande miséria? Alguma
misericórdia para tão provocante iniquidade? Sim, tão certo como o juramento de
Deus é verdadeiro, obterei misericórdia e perdão se me voltar hoje mesmo para
Deus, de forma sincera e sem reservas, através de Cristo.
Portanto,
ajoelhado, agradeço-Te com minha alma ó misericordioso Jeová, porque com Tua paciência
esperaste por mim até agora; pois se tivesse me levado nesse estado teria
perecido eternamente. E agora adoro Tua graça e aceito as ofertas da Tua
misericórdia, renuncio a todos os meus pecados e resolvo, pela Tua graça, a me
posicionar contra eles e a seguir-Te em santidade e retidão todos os dias de
minha vida.
Quem
sou eu, Senhor, para invocar-Te ou ter qualquer parte em Ti? Eu, que não sou
digno de lamber o pó de Teus pés? Contudo, visto que Tu apresentaste o cetro
dourado, inclino-me para chegar até ele e tocá-lo. Desesperar significaria
depreciar a Tua misericórdia; e permanecer fora de Ti quando Tu solicitas que
eu venha, significaria destruir a mim mesmo e rebelar-me contra Ti sob a
pretensão de humildade. Tu serás meu Soberano* meu Rei e meu Deus. Tu estarás
no trono e todos os meus poderes submeter-se-ão a Ti; eles virão e adorarão
diante de Teus pés. Tu serás a minha porção, ó Senhor, e descansarei em Ti.
Tu
pediste meu coração. Oxalá ele fosse digno da Tua aceitação! Mas sou indigno, Senhor,
eternamente indigno de ser Teu. Entretanto, desde que Tu queres que seja assim,
entrego-Te espontaneamente, meu coração. Toma-o, é Teu. Quem dera que ele fosse
melhor! Contudo, Senhor, ponho-o nas Tua mãos, pois só Tu podes consertá-lo.
Molda-o conforme o Teu próprio coração; faze-o, como se fora Teu, santo,
humilde, celestial, brando, terno, flexível e escreve nele a Tua lei.
Vem,
Senhor Jesus, vem depressa. Entra triunfalmente. Toma-me para Ti mesmo, para
sempre. Dou-me a Ti, venho a Ti como único caminho para o Pai, como único
Mediador, o meio determinado para levar-me a Deus. Destruí-me a mim mesmo, mas
o meu socorro está em Ti. Salva-me, Senhor, senão vou perecer. Venho a Ti, com
a corda no pescoço. Mereço morrer e ser condenado. Nunca o salário foi mais
merecido pelo servo, o dinheiro mais merecido pelo trabalhador, do que a morte
e o Inferno, meus justos salários, são merecidos por mim. Mas recorro aos Teus
méritos; confio somente no valor e na virtude do Teu sacrifício e no predomínio
da Tua intercessão. Submeto-me ao Teu ensino, escolho Teu governo. Abram,
portas eternas, para que entre o Rei da Glória.
Ó
Espírito do Altíssimo, Confortador e Santificador dos Teus escolhidos, venha
com todo Teu séquito, com todos os Teus cortesãos, Teus frutos e Tuas graças.
Permita que eu seja a Tua habitação. O que posso Te dar, senão aquilo que já é
Teu? Mas como a viúva, dou-Te meus dois óbolos — minha alma e meu corpo,
ofereço-os ao Teu tesouro, entregando-os completamente a Ti para que os
santifiques, a fim de que sejam Teus servos. Serão Teus pacientes; cura as suas
enfermidades. Eles serão Teus agentes; governa as suas ações. Já servi demais
ao mundo; já dei ouvidos demais a Satanás; mas, agora, renuncio a tudo e serei
regido pelos Teus preceitos e ordens, e guiado pelo Teu conselho.
Ó
bendita Trindade, ó gloriosa Unidade, entrego-me a Ti. Recebe-me; escreve Teu
nome, ó Senhor, sobre mim e sobre tudo que tenho, como patrimônio Teu. Coloca
Tua marca sobre mim, sobre cada membro do meu corpo e sobre cada faculdade da
minha alma. Escolhi Teus preceitos. Tua lei estará diante de mim; ela será o
exemplar que manterei diante dos meus olhos, para estudar e escrever. Resolvo
andar de acordo com a Tua graça; todo o meu ser será governado por esta lei. E
embora eu não possa guardar perfeitamente nem um só de Teus mandamentos,
contudo, não me permitirei infringir nenhum deles.
Sei
que minha carne vai relutar; mas resolvo no poder da Tua graça, apegar-me a Ti
e aos Teus santos caminhos, custe o que custar. Sei que junto a Ti nunca serei
perdedor; portanto, aceitarei de boa vontade repreensões, dificuldades e
sofrimentos, e negarei a mim mesmo, tomarei a minha cruz e Te seguirei. Senhor
Jesus, Teu jugo é suave, Tua cruz é bem-vinda, visto que esse é o caminho que
conduz a Ti. Ponho de lado todas as esperanças de uma felicidade secular.
Aguardarei, de boa vontade, até que eu possa ir a Ti. Que eu seja pobre e
humilde, pequeno e desprezado neste mundo, para que me seja permitido viver e
reinar Contigo no porvir. Senhor, tens meu coração e minha mão neste acordo.
Que ele seja como a lei dos medos e dos persas, que não pode ser revogada. Eu
me firmarei nisso, nesta resolução, pela Tua graça, viverei e morrerei. Jurei,
e cumprirei, que guardarei os Teus justos juízos. Dei o meu consentimento
voluntário e fiz a minha escolha eterna. Senhor Jesus, confirma este contrato.
Amém.
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