Mackintosh
continuação
Sentimo-nos
constrangidos em espírito a chamar muito a atenção do leitor cristão a respeito
desta grande questão prática. Consideramo-la como uma das questões mais
importantes do nosso tempo (6). Não podemos duvidar de que o tão
profundamente baixo tom espiritual da nossa vida cristã se deve, em muitos
casos, à leitura de literatura supérflua e inútil. O efeito moral de tudo isto
é muito pernicioso. Como pode uma alma prosperar, como pode haver crescimento
na vida divina, quando não há um verdadeiro amor pela Bíblia ou por livros que
desenvolvem o seu precioso conteúdo para as nossas almas?
É
possível que um cristão se encontre numa saudável condição de alma quando na
realidade prefere alguma obra trivial em lugar de um livro destinado à
verdadeira edificação espiritual? Não o cremos nem o poderíamos crer. Estamos
persuadidos de que todo o cristão sincero e sério — todo aquele que de coração
deseja compenetrar-se nas coisas divinas, que ama realmente a Cristo e que
suspira pelo Céu e pelas coisas de cima— se aplicará com diligência à leitura
das santas Escrituras e procurará deitar mão de todo o livro bom e proveitoso.
Estes cristãos não terão tempo para ler os jornais nem qualquer outro tipo de
literatura leviana; nem tão-pouco terão afeição por estas coisas. A eles não se
suscita a questão de se está bem ou se está mal este ou aquele tipo de leitura;
simplesmente não a desejam nem a desejariam, pois têm algo muitíssimo melhor.
Tragaríamos cinzas se tivéssemos para comer saborosíssimos manjares?
Confiamos
em que os nossos leitores nos deverão compreendermos quando escrevemos desta
forma tão clara e direta. Sentimo-nos realmente constrangidos a fazê-lo em
vista do Tribunal de Cristo. E só podemos dizer que quereríamos poder escrever
acerca deste tema tão vigorosamente como o sentimos. Consideramo-lo como um dos
temas mais importantes e práticos que possam ocupar a nossa atenção. Instamos
os leitores cristãos a evitar e a desaprovar toda a literatura fútil.
Quando
estivermos para lançar a mão a algum livro ou revista, coloquemo-nos as
seguintes perguntas: «Gostaria de que quando o meu Senhor vier, me encontrasse
com isto na mão?». «Poderia pegar nisto na presença de Deus e pedir-Lhe que
abençoasse a sua leitura?». «Posso ler isto para glória do Nome de Jesus?». Se
não podemos contestar afirmativamente a estas perguntas, então, pela graça de
Deus, fujamos destes livros e dediquemos os nossos tempos livres à bendita
Palavra de Deus ou a alguma obra espiritual que se relacione com ela. Então, as
nossas almas se verão nutridas e fortalecidas. Cresceremos na graça, no
conhecimento e no amor de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Então, os
frutos da justiça abundarão na nossa vida prática, para glória de Deus.
Pode
ser, não obstante, que alguns dos nossos amigos repudiem por completo o hábito
de ler escritos humanos. Há quem assuma a postura de não ler nada exceto a
Bíblia. Eles dizem-nos que encontram nesse Livro incomparável tudo o que lhes
faz falta, e que os escritos humanos são mais um estorvo do que uma ajuda.
Bem,
quanto a isto, cada um deve julgar por si mesmo. Ninguém pode ser uma regra
para os outros. No que a nós nos diz respeito, não podemos, na verdade, assumir
este elevado terreno. Bendizemos em cada dia o Senhor, mais e mais, por toda a
benévola ajuda que nos brinda através dos escritos dos seus amados servos.
Consideramo-los como uma preciosíssima corrente de refrigério e bênção
espiritual que brota da nossa glorificada Cabeça nos Céus, e pelo qual A
poderíamos louvar suficientemente. Ocorrer-nos-ia deixar de ouvir um irmão na
Assembleia da mesma forma que nos recusaríamos a ler os seus escritos? Não são
estes dois ramos do ministério — o oral e o escrito — um dom de Deus, para o nosso proveito e
edificação.
Sem
dúvida, temos de exercitar um zeloso cuidado a fim de não dar uma importância
desmedida ao ministério, quer seja oral ou escrito. Mas, o possível abuso de
uma coisa não constitui nenhum argumento válido contra o uso da mesma. Há o
perigo de ambos os lados; e seguramente é algo muito perigoso desapreciar o
ministério. Nenhum de nós é auto-suficiente. O propósito de Deus é que sejamos
uma ajuda uns para com os outros. Não podemos prescindir de nenhuma “das
juntas, que se ajudam mutuamente ” (7). Quantos terão de louvar a Deus durante
a eternidade por causa da bênção que receberam por meio de livros e tratados!
Quantos há que jamais obtiveram uma pitada do ministério espiritual, salvo o
que o Senhor lhes enviou mediante a palavra impressa! Dir-se-á: «Eles têm a
Bíblia». É certo; mas, nem todos têm a mesma capacidade para sondar as viventes
profundidades das Escrituras nem de discernir as suas glórias morais.
Não
há dúvida de que, se não tivéssemos ministério oral nem escrito, o Espírito Santo
poderia alimentarmo-nos diretamente com os verdes pastos das santas Escrituras.
Mas, quem se atreveria a negar que os escritos dos servos de Deus constituem um
meio poderosíssimo nas mãos do Espírito Santo para a edificação do povo do
Senhor na sua santíssima fé? É nossa firme convicção que Deus empregou mais
este meio durante os últimos quarenta anos que durante toda a História da
Igreja (8).
E,
não devemos louvar a Deus por isso? Por certo que sim. Devemos louvá-Lo com
corações transbordantes e ardentes; e deveríamos elevar as nossas orações a
Deus com veemência para que conceda ainda mais bênçãos aos escritos de Seus
servos; para que aprofunde o seu tom, acrescente o seu poder e amplie o seu
âmbito de ação. Os escritos humanos, senão estão revestidos do poder do
Espírito Santo, não são más que papel de desperdício. Do mesmo modo, a voz do
pregador ou do professor em público, se não for o veículo vivente do Espírito
Santo, não será mais que “o metal que soa ou como o sino que tine. (9). Mas o
Espírito Santo serve-se de ambos os meios para a bênção das almas e a difusão
da verdade; e consideramos que é um grave erro desestimar um meio que Deus Se
tem prazido adotar.
De
fato, temos de confessar que raramente temos encontrado alguém que recuse a
ajuda que nos brindam os escritos humanos e que não evidencie ser excessivamente
estreito de vistas, tosco e extremista. Não poderíamos esperar outra coisa,
pois o método divino é que sirvamos de ajuda uns aos outros; daí que, se alguém
pretende ser independente ou auto-suficiente, deverá, mais cedo ou mais tarde,
dar-se conta do seu erro.