segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O QUE DEVO LER? UMA PERGUNTA PARA OS NOSSOS TEMPOS



        

Mackintosh 
 continuação
         Sentimo-nos constrangidos em espírito a chamar muito a atenção do leitor cristão a respeito desta grande questão prática. Consideramo-la como uma das questões mais importantes do nosso tempo  (6). Não podemos duvidar de que o tão profundamente baixo tom espiritual da nossa vida cristã se deve, em muitos casos, à leitura de literatura supérflua e inútil. O efeito moral de tudo isto é muito pernicioso. Como pode uma alma prosperar, como pode haver crescimento na vida divina, quando não há um verdadeiro amor pela Bíblia ou por livros que desenvolvem o seu precioso conteúdo para as nossas almas?
         É possível que um cristão se encontre numa saudável condição de alma quando na realidade prefere alguma obra trivial em lugar de um livro destinado à verdadeira edificação espiritual? Não o cremos nem o poderíamos crer. Estamos persuadidos de que todo o cristão sincero e sério — todo aquele que de coração deseja compenetrar-se nas coisas divinas, que ama realmente a Cristo e que suspira pelo Céu e pelas coisas de cima— se aplicará com diligência à leitura das santas Escrituras e procurará deitar mão de todo o livro bom e proveitoso. Estes cristãos não terão tempo para ler os jornais nem qualquer outro tipo de literatura leviana; nem tão-pouco terão afeição por estas coisas. A eles não se suscita a questão de se está bem ou se está mal este ou aquele tipo de leitura; simplesmente não a desejam nem a desejariam, pois têm algo muitíssimo melhor. Tragaríamos cinzas se tivéssemos para comer saborosíssimos manjares?
         Confiamos em que os nossos leitores nos deverão compreendermos quando escrevemos desta forma tão clara e direta. Sentimo-nos realmente constrangidos a fazê-lo em vista do Tribunal de Cristo. E só podemos dizer que quereríamos poder escrever acerca deste tema tão vigorosamente como o sentimos. Consideramo-lo como um dos temas mais importantes e práticos que possam ocupar a nossa atenção. Instamos os leitores cristãos a evitar e a desaprovar toda a literatura fútil.
         Quando estivermos para lançar a mão a algum livro ou revista, coloquemo-nos as seguintes perguntas: «Gostaria de que quando o meu Senhor vier, me encontrasse com isto na mão?». «Poderia pegar nisto na presença de Deus e pedir-Lhe que abençoasse a sua leitura?». «Posso ler isto para glória do Nome de Jesus?». Se não podemos contestar afirmativamente a estas perguntas, então, pela graça de Deus, fujamos destes livros e dediquemos os nossos tempos livres à bendita Palavra de Deus ou a alguma obra espiritual que se relacione com ela. Então, as nossas almas se verão nutridas e fortalecidas. Cresceremos na graça, no conhecimento e no amor de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Então, os frutos da justiça abundarão na nossa vida prática, para glória de Deus.
         Pode ser, não obstante, que alguns dos nossos amigos repudiem por completo o hábito de ler escritos humanos. Há quem assuma a postura de não ler nada exceto a Bíblia. Eles dizem-nos que encontram nesse Livro incomparável tudo o que lhes faz falta, e que os escritos humanos são mais um estorvo do que uma ajuda.
         Bem, quanto a isto, cada um deve julgar por si mesmo. Ninguém pode ser uma regra para os outros. No que a nós nos diz respeito, não podemos, na verdade, assumir este elevado terreno. Bendizemos em cada dia o Senhor, mais e mais, por toda a benévola ajuda que nos brinda através dos escritos dos seus amados servos. Consideramo-los como uma preciosíssima corrente de refrigério e bênção espiritual que brota da nossa glorificada Cabeça nos Céus, e pelo qual A poderíamos louvar suficientemente. Ocorrer-nos-ia deixar de ouvir um irmão na Assembleia da mesma forma que nos recusaríamos a ler os seus escritos? Não são estes dois ramos do ministério — o oral e o escrito  — um dom de Deus, para o nosso proveito e edificação.
         Sem dúvida, temos de exercitar um zeloso cuidado a fim de não dar uma importância desmedida ao ministério, quer seja oral ou escrito. Mas, o possível abuso de uma coisa não constitui nenhum argumento válido contra o uso da mesma. Há o perigo de ambos os lados; e seguramente é algo muito perigoso desapreciar o ministério. Nenhum de nós é auto-suficiente. O propósito de Deus é que sejamos uma ajuda uns para com os outros. Não podemos prescindir de nenhuma “das juntas, que se ajudam mutuamente ” (7). Quantos terão de louvar a Deus durante a eternidade por causa da bênção que receberam por meio de livros e tratados! Quantos há que jamais obtiveram uma pitada do ministério espiritual, salvo o que o Senhor lhes enviou mediante a palavra impressa! Dir-se-á: «Eles têm a Bíblia». É certo; mas, nem todos têm a mesma capacidade para sondar as viventes profundidades das Escrituras nem de discernir as suas glórias morais.
         Não há dúvida de que, se não tivéssemos ministério oral nem escrito, o Espírito Santo poderia alimentarmo-nos diretamente com os verdes pastos das santas Escrituras. Mas, quem se atreveria a negar que os escritos dos servos de Deus constituem um meio poderosíssimo nas mãos do Espírito Santo para a edificação do povo do Senhor na sua santíssima fé? É nossa firme convicção que Deus empregou mais este meio durante os últimos quarenta anos que durante toda a História da Igreja  (8).
         E, não devemos louvar a Deus por isso? Por certo que sim. Devemos louvá-Lo com corações transbordantes e ardentes; e deveríamos elevar as nossas orações a Deus com veemência para que conceda ainda mais bênçãos aos escritos de Seus servos; para que aprofunde o seu tom, acrescente o seu poder e amplie o seu âmbito de ação. Os escritos humanos, senão estão revestidos do poder do Espírito Santo, não são más que papel de desperdício. Do mesmo modo, a voz do pregador ou do professor em público, se não for o veículo vivente do Espírito Santo, não será mais que “o metal que soa ou como o sino que tine. (9). Mas o Espírito Santo serve-se de ambos os meios para a bênção das almas e a difusão da verdade; e consideramos que é um grave erro desestimar um meio que Deus Se tem prazido adotar.
         De fato, temos de confessar que raramente temos encontrado alguém que recuse a ajuda que nos brindam os escritos humanos e que não evidencie ser excessivamente estreito de vistas, tosco e extremista. Não poderíamos esperar outra coisa, pois o método divino é que sirvamos de ajuda uns aos outros; daí que, se alguém pretende ser independente ou auto-suficiente, deverá, mais cedo ou mais tarde, dar-se conta do seu erro.

Nenhum comentário: