quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

OS DOIS LAÇOS - A VIDA ETERNA E A COMUNHÃO PESSOAL (1)



C. H. Mackintosh

 
         No cristianismo há dois laços muito importantes que trataremos de distinguir. Um deles é o laço da vida eterna, e o outro é o laço da comunhão pessoal. Ambos são diferentes e nunca devem confundir-se; e, posto que estão intimamente relacionados, não devem separar-se jamais. O primeiro constitui o fundamento da nossa segurança; o segundo, a fonte secreta do nosso gozo e de toda a nossa fecundidade. O primeiro não pode ser quebrado jamais; o segundo, pode-o ser por milhares de coisas.
         Dada a imensa importância destes laços, examinemo-los com reverência e com oração, à luz da divina inspiração.Em primeiro lugar, com respeito ao precioso laço da vida eterna, não podemos menos que citar algumas passagens que mostram a sua origem, o que é e quando e como se forma. Acima de tudo, devemos ter claramente presente que o homem no seu estado natural não tem nenhum conhecimento deste laço: «O que é nascido da carne é carne» (João 3:6). Pode ser que haja muito do que é realmente amável, grande nobreza de caráter, grande generosidade, estrita integridade; mas não há vida eterna. O primeiro laço é desconhecido.   Não importa quão cultivada e elevada seja a natureza: você não pode de maneira alguma formar o grande laço da vida eterna. Pode fazer desta natureza moral, instruída, religiosa, mas enquanto que ela seja simplesmente natureza, não tem a vida eterna. Podem-se escolher as mais belas virtudes morais, e concentrá-las num indivíduo, sem que este indivíduo haja jamais sentido uma simples pulsação da vida eterna. Não estamos dizendo que estas virtudes e qualidades não sejam boas e desejáveis em si mesmas. Ninguém no seu são juízo poria isto em dúvida. Na natureza, tudo o que é bom, deve ser estimado no seu justo valor. Ninguém pensaria nem por um momento em pôr um homem sóbrio, industrioso, amável e de princípios, ao nível de um bêbado, de um ocioso, de um perverso ou de um pródigo.
         Do ponto de vista moral e social, existe evidentemente uma diferença enorme e muito importante. Mas, entenda-se claramente, e tenha-se bem presente, que, mediante as mais belas virtudes e as mais nobres qualidades da velha criação, jamais poderemos adquirir um lugar na nova. Não podemos, pelas excelências do primeiro Adão, por mais que se concentrem num só indivíduo, estabelecer um direito a ser membros do segundo Adão, que é Cristo. Os dois são totalmente distintos. O velho e o novo, o primeiro e o Segundo. “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” (João 3:6) “De modo que se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas passaram; eis aqui todas são feitas novas” (João 3:6; 2 Coríntios 5:17).
         Nada pode ser mais explícito, mais concludente que a última citação de 2 Coríntios 5: “As coisas velhas” —qualquer que seja a sua natureza— “passaram”. A sua existência não é reconhecida na nova criação, onde “tudo provém de Deus” (v. 18). O antigo fundamento foi completamente removido e, na Redenção, têm-se lançado novos alicerces. Não há uma só partícula do velho material, empregado no novo. “Todas as coisas são feitas novas”: “tudo provém de Deus”. Os vasos da antiga criação foram postos de lado e, em seu lugar, foram postos os da Redenção. A vestimenta da antiga criação foi desprezada, e a nova, a impecável roupa da Redenção, substituiu-a. A mão do homem jamais teceu um só fio, nem pôs um só ponto nesta bela roupa.
         Como o sabemos? Como podemos falar com semelhante confiança e autoridade? Dizemo-lo, pela autoridade divina e pela voz concludente da Santa Escritura, que declara que na nova criação “tudo provém de Deus”. Louvado seja o Senhor de que assim seja! Esta verdade faz com que tudo seja tão seguro, põe todas as coisas numa posição que está inteiramente fora do alcance do poder do inimigo. O adversário não pode tocar em nada, nem a ninguém na nova criação.
         A morte é o limite do domínio de Satanás. Os seus domínios não se estendem para além da tumba; mas a nova criação começa do outro lado da morte. Descobrimo-la quando dirigimos o nosso olhar desde aquela tumba onde o Príncipe da vida foi sepultado, até ao Céu. Ela esparge sobre nós os brilhantes raios das suas glórias por entre um cenário, onde a morte não pode jamais entrar, onde o pecado e a aflição são desconhecidos, onde o silvo da serpente jamais pode ser ouvido e os seus odiosos rastros vistos. “Tudo provém de Deus”.

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