C. H. Spurgeon -
SALMO 7
O título deste Salmo é «Schigaion
de David». Pelo que podemos coligir das observações dos entendidos e de uma
comparação deste Salmo com o outro único Schigaion da Palavra de Deus
(Habacuque 3), este título parece indicar «Cânticos variáveis», com os que se
associa a ideia de distração e de prazer. Parece provável que Cush, o benjamita,
tinha acusado David perante Saul de uma conspiração traiçoeira contra a
autoridade real. Isto pode entender-se como o «Cântico do santo caluniado». Até
esta penosa aflição é ocasião para um Salmo.
Vers.
1. SENHOR, meu Deus, em ti confio. O caso inicia-se aqui com uma
confissão de confiança em Deus. Seja qual for a urgência da nossa condição,
nunca devemos olvidar o reter a nossa confiança em Deus. «Oh SENHOR, meu
Deus» - meu por um pacto especial, selado pelo sangue de Jesus, e
ratificado na minha própria alma por um sentimento de união a Ti - em Ti, e em
Ti somente, tenho posto a minha confiança agora na minha penosa aflição. Eu
tremo, porém a rocha não se move. Nunca é correto desconfiar de Deus, e nunca é
em vão o confiar Nele.
Vers.
2. Para que ele não arrebate a minha alma, como leão. Havia um
inimigo de David que era mais poderoso do que os demais. É deste inimigo que
com urgência procura libertação. Quiçá se tratasse de Saul, o seu inimigo real;
mas, no nosso caso há um que vai dando voltas ao redor de nós como um leão, que
intenta devorar-nos, acerca do qual temos de clamar: «livra-nos do maligno». Tenho
lido de algumas nações bárbaras que, quando o Sol aquecia muito, disparavam
flechas contra ele; do mesmo modo os malvados disparam à luz e ao calor da
piedade. Jeremiah Burroughs.
Despedaçando-a,
sem que haja quem a livre. Este é um retrato comovedor de um
santo entregue à vontade de Satanás. Isto fará comover as vísceras do SENHOR.
Um pai não pode permanecer em silêncio quando o seu filho está em semelhante
perigo. Faremos bem aqui em recordar que esta é uma descrição do perigo ao qual
se vê exposto o Salmista por línguas caluniadoras. A calúnia deixa a sua baba,
por mais que possa desmentir-se. Se Deus foi caluniado no Éden, nós não
sofreremos menos nesta Terra de pecadores. Se queremos viver sem ser
caluniados, temos de esperar até chegarmos ao Céu.
Vers.
3. SENHOR meu Deus, se eu fiz isto, se há perversidade nas minhas mãos. Josefo
conta-nos de Apolinário que dizia em relação aos judeus e aos cristãos que eram
mais néscios do que os bárbaros. E Paulus Fagius conta uma história de um
egípcio que dizia a respeito dos cristãos: «São uma quadrilha de gente
traiçoeira e asquerosa»; e a respeito de guardar o sábado diz: «Tinham uma
enfermidade, e queriam repousar no sétimo dia por causa da mesma.» Jeremiah
Burroughs. O aplauso dos maus geralmente implica algum mal, e a sua censura
implica algum bem. Thomas Watson.
Vers.
4. Se paguei com o mal àquele que tinha paz comigo (antes, livrei ao que me
oprimia sem causa). O devolver mal por bem é uma corrupção humana; o
devolver bem por bem é uma retribuição cívica; porém, o devolver bem por mal é
uma perfeição cristã. Ainda que não seja a graça da natureza, contudo, é a
natureza da graça. William Secker.
Vers.
6. O julgamento que tens convocado. David, para orar
devidamente, repousa na Palavra e na promessa de Deus; e o resultado do seu
exercício é este: Senhor, não sou levado pela ambição, ou pela paixão
voluntariosa e néscia, ou pelo desejo corrompido, desconsiderado, de pedir-Te
tudo o que agrada à minha carne; mas, é a luz clara da Tua Palavra a que me
dirige, e nela me tenho fundamentado com firmeza. João Calvino.
Vers.
8. Nos dois últimos versículos procurava que o SENHOR Se levantasse, e
agora que Se levantou, David prepara-se para mesclar-se com «a congregação do
povo» que o rodeia.
Vers.
9. Tenha já fim a malícia dos ímpios; mas estabeleça-se o justo. Não
é este o desejo universal de toda a companhia dos escolhidos?
Vers.
10. O meu escudo está com Deus, que salva os rectos de coração. A
verdade, como o azeite, surge sempre por cima; os nossos inimigos não têm poder
para afogá-la.
Vers.
11. Deus é um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias.
Não temos um Deus insensível e impassível perante quem nos apresentamos; Ele
pode estar irado, além do mais, está irado hoje e a cada dia contigo, com os
iníquos e os pecadores impenitentes. O melhor dia que amanhece sobre um
pecador, contudo, é para Ele causa de maldição. Deus está zangado. A
expressão original aqui é muito expressiva. A verdadeira ideia da mesma é
«lançando espuma pela boca» por causa da Sua indignação. Richard Mant, D.D.
Vers.
12. Se o homem não se converter, Deus afiará a sua espada. A
espada de Deus foi afiada na pedra que gira na nossa maldade diária, e se não
nos arrependemos, com presteza, far-nos-á em pedaços. O pecador não tem alternativa.
Quão poucos são os que creem que Deus chamará o malvado a contas! Se acreditássemos
nisso, tremeríamos como o que está dentro de uma casa que se derruba;
esforçar-nos-íamos por «salvar-nos desta geração depravada».
Já
tem armado o seu arco, e está aparelhado. E estamos a salvo ali, onde
as flechas de Deus vão cair em breve como gotas de chuva? «Aparta-te!» disse
Deus a Moisés- «das tendas de Coré, Datã e Abirão, para que não sejas consumido
em todos os seus pecados.» Como se têm deteriorado as boas maçãs estando no
cesto com as más! Não é prejudicial para o ouro estar unido com a escória? Lewis
Stuckley.
Vers.
13. Instrumentos de morte. Recorda, as flechas de Deus nunca erram,
e sempre são «instrumentos de morte». Temperou ao fogo as suas setas.
A palavra «temperado» significa o mesmo que arder em ira contra os ímpios;
e a palavra «preparado» significa que pôs a ponto as suas flechas; Ele não as
dispara ao azar, porém, dirige-as aos iníquos. Um tal Félix, conde de
Wartenberg, um dos capitães do imperador Carlos V, jurou, na presença de vários
numa ceia, que antes de morrer cavalgaria onde lhe chegasse o sangue dos
luteranos até às esporas. Este homem ardia em malícia, mas observemos como Deus
dirige as Suas setas contra ele: naquela mesma noite a mão de Deus feriu-o de
tal forma que foi estrangulado e se afogou no seu próprio sangue; não cavalgou,
de qualquer modo, banhou-se a ele mesmo; não até às esporas, porém, até à
garganta; não no sangue dos luteranos, mas, no seu próprio sangue antes de
morrer. Jeremiah Burroughs
Vers.
14. Concebeu maldade, gerou iniquidade. Uma mulher
grávida proporciona a metáfora: gerou iniquidade. O ímpio está cheio dela, de
tal modo que não a pode levar; quer fazer a sua vontade; está cheio de dores
até que é executado o seu malvado intento. Concebeu maldade.
Ninguém o força a isso; ele mesmo o faz voluntariamente. Richard Sibbs
A ordem natural é primeiro
conceber e depois gerar, mas aqui o gerar vem primeiro; a razão disso é que o
malvado vai com tanto ardor em perseguição do seu intento, que vai atuar
imediatamente se soubesse como fazê-lo, até mesmo antes de conceber com que
meios o fará. J. Mayer, in loc.
Vers.
15. Cavou um poço e o fez fundo, e caiu na cova que fez.
Havia astúcia nos seus planos e diligência no seu trabalho. Condescendeu à
penosa tarefa de cavar. Não teme sujar as mãos com a terra; está disposto a
fazer um buraco para que outros caiam nele. Que coisas tão indignas é capaz de
fazer o homem para se vingar dos fiéis!
Vers.
16. A sua iniquidade cairá sobre a sua cabeça. As cinzas vão sempre
parar à cara daquele que as lança ao ar.
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