quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A VELHA HISTÓRIA (3)



Spurgeon
         Mais ainda, esta doutrina tem a particular característica de abrandar o coração. Há na história do sacrifício de Cristo um misterioso poder para abrandar e derreter. Conheço uma apreciada mulher cristã que amava os seus pequenos filhos e procurava a salvação deles. Quando orava por eles, considerava correto usar os melhores meios para ganhar a sua atenção e despertar as suas mentes. Espero que todos vós procedais da mesma maneira. Todavia, o meio que ela tinha considerado como o mais efetivo para o seu objetivo era o dos terrores do Senhor. Ela costumava ler aos seus filhos, capítulo após capítulo, o livro “Alarme para os Inconversos” de Alleine. Oh, esse livro! Quantos sonhos provocou no seu filho nas noites, acerca de devoradoras chamas e queimaduras permanentes! Entretanto, o coração do moço foi-se endurecendo, como se se fosse recozendo, em vez de derreter-se no forno do medo. O martelo soldou o seu coração para o pecado, mas não o partiu.
         Mas, ainda então, estando endurecido o coração do moço, quando escutava sobre o amor de Jesus pelo Seu povo, se bem que temia não contar-se entre eles, ainda costumava chorar ao pensar que Jesus pudesse amar a alguém com essas características. Até agora, que alcançou a idade adulta, a lei e os terrores matam-no, sem o perturbar, mas ao Teu sangue, Jesus, à Tua agonia no Getsêmane e sobre o madeiro, não pode resistir; derretem-no; a sua alma derrama-se em lágrimas através dos olhos; chora até ficar vazio, com amor agradecido por Ti, por tudo o que tens feito.
         Ai daqueles que negam a expiação! Tiram o aguilhão do sofrimento de Cristo; e então, ao tirá-lo, suprimem a ponta por meio da qual os sofrimentos de Cristo traspassam e exploram e penetram no coração. Posto que Cristo sofreu por meus pecados e foi condenado, eu posso ser absolvido e não ser condenado por causa da minha culpa: é isto o que faz com que os Seus sofrimentos sejam um bálsamo para o meu coração.
“Olha como no sangrento madeiro
O ilustre sofredor pende,
Pelos tormentos que te correspondiam;
Ele suportou as terríveis dores
E saldou ali a pavorosa soma
De todos os pecados presentes, passados e que hão de vir.”
         Neste mesmo instante há congregações reunidas nos teatros de Londres, e há pessoas que lhes estão pregando, não sei precisamente sobre o quê, mas eu sei qual deveria ser o seu tema. Se querem alcançar o intelecto dos que vivem na periferia, se querem tocar as consciências dos que são ladrões e bêbados, se querem derreter os corações dos que se têm tornado teimosos e duros durante anos de concupiscência e iniquidade, sei que apenas o que pode obtê-lo é a morte no Calvário, as cinco feridas, o flanco sangrando, o vinagre, os pregos e a lança. Há ali um enternecedor poder para obtê-lo que não se pode encontrar em nenhuma outra parte do mundo.
         Vou deter-me uma vez mais neste ponto. Nós elogiamos a doutrina da expiação porque sabemos que, além de adequar-se ao entendimento, de aquietar a consciência e de derreter o coração, tem poder para afetar a vida exterior. Nenhum homem pode crer que Cristo sofreu pelos seus pecados e ainda viver em pecado. Nenhum homem pode crer que as suas iniquidades mataram a Cristo, e, apesar disso, acariciá-las no seu peito. O efeito certo e seguro de uma verdadeira fé no sacrifício de expiação de Cristo, é o de limpar a velha levedura, o dedicar a alma Àquele que a comprou com o Seu sangue, e o compromisso de vingar-se daqueles pecados que cravaram a Cristo no madeiro. O melhor é que isto pode-se comprovar.   Vá a qualquer bairro na Inglaterra onde viva um teólogo filósofo que tenha eliminado completamente a expiação da sua pregação, e se não encontrar mais prostitutas e ladrões e bêbados do que o usual, então estou completamente equivocado; mas, por outro lado, vá a outro bairro onde se prega a expiação, com rígida integridade e seriedade amorosa, e se não encontras as cervejarias ficando vazias e as lojas fechadas aos domingos e o povo vivendo com honestidade e retidão, então terei observado o mundo em vão.
         Conheci, numa ocasião, uma povoação que era possivelmente a pior das povoações da Inglaterra por muitas razões: muitas destilarias ilícitas estavam produzindo o seu nocivo licor para um fabricante que não pagava impostos ao governo e onde, em conexão com o mesmo, abundava toda a classe de desordem e de iniquidade. A esse povo chegou um jovem, que não era mais que um moço, sem muita educação formal, tosco e algumas vezes até vulgar. Começou a pregar ali, e quis Deus sacudir a esse povo. Em muito pouco tempo a pequena capela com teto de palha estava lotada e os maiores vagabundos da povoação estavam chorando mares de lágrimas e aqueles que tinham sido a maldição da aldeia converteram-se na sua bênção; e onde antes houve todo tipo de roubos e maldades em toda a vizinhança, já não as houve mais, porque os homens que as faziam se encontravam na casa de Deus, alegres ao escutar de Jesus crucificado.
         Escutai-me com atenção, não vos estou dizendo agora uma história exagerada, nenhuma coisa que eu não saiba. Mas esta coisa lembro-a claramente para louvor da graça de Deus, porque o Senhor quis fazer sinais e maravilhas no nosso meio. Ele mostrou o poder do nome do Jesus e fez-nos testemunhas desse Evangelho que ganha almas, que atrai corações relutantes e molda de maneira nova a vida e a conduta dos homens. Há alguns irmãos aqui que vão aos refúgios e lares para falar com essas pobres moças caídas que foram resgatadas. Pergunto-me o que fariam se não levassem consigo o Evangelho a essas moradas da miséria e da vergonha. Se levassem consigo uma folha arrancada de um manual de teologia e fossem e lhes falassem com palavras e com filosofias ribombantes, que benefício lhes poderiam proporcionar? Pois bem, o que não é bom para elas não é bom para nós. Queremos algo que possamos entender, algo em que possamos confiar, algo que possamos sentir; algo que dê forma ao nosso caráter e à nossa conversação, e que nos faça semelhantes a Cristo.

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