Spurgeon
Mais
ainda, esta doutrina tem a particular característica de abrandar o coração. Há
na história do sacrifício de Cristo um misterioso poder para abrandar e
derreter. Conheço uma apreciada mulher cristã que amava os seus pequenos filhos
e procurava a salvação deles. Quando orava por eles, considerava correto usar
os melhores meios para ganhar a sua atenção e despertar as suas mentes. Espero
que todos vós procedais da mesma maneira. Todavia, o meio que ela tinha
considerado como o mais efetivo para o seu objetivo era o dos terrores do
Senhor. Ela costumava ler aos seus filhos, capítulo após capítulo, o livro
“Alarme para os Inconversos” de Alleine. Oh, esse livro! Quantos sonhos
provocou no seu filho nas noites, acerca de devoradoras chamas e queimaduras
permanentes! Entretanto, o coração do moço foi-se endurecendo, como se se fosse
recozendo, em vez de derreter-se no forno do medo. O martelo soldou o seu
coração para o pecado, mas não o partiu.
Mas,
ainda então, estando endurecido o coração do moço, quando escutava sobre o amor
de Jesus pelo Seu povo, se bem que temia não contar-se entre eles, ainda
costumava chorar ao pensar que Jesus pudesse amar a alguém com essas
características. Até agora, que alcançou a idade adulta, a lei e os terrores
matam-no, sem o perturbar, mas ao Teu sangue, Jesus, à Tua agonia no Getsêmane
e sobre o madeiro, não pode resistir; derretem-no; a sua alma derrama-se em
lágrimas através dos olhos; chora até ficar vazio, com amor agradecido por Ti,
por tudo o que tens feito.
Ai
daqueles que negam a expiação! Tiram o aguilhão do sofrimento de Cristo; e
então, ao tirá-lo, suprimem a ponta por meio da qual os sofrimentos de Cristo
traspassam e exploram e penetram no coração. Posto que Cristo sofreu por meus
pecados e foi condenado, eu posso ser absolvido e não ser condenado por causa
da minha culpa: é isto o que faz com que os Seus sofrimentos sejam um bálsamo
para o meu coração.
“Olha como no sangrento madeiro
O ilustre sofredor pende,
Pelos tormentos que te correspondiam;
Ele suportou as terríveis dores
E saldou ali a pavorosa soma
De todos os pecados presentes,
passados e que hão de vir.”
Neste
mesmo instante há congregações reunidas nos teatros de Londres, e há pessoas
que lhes estão pregando, não sei precisamente sobre o quê, mas eu sei qual
deveria ser o seu tema. Se querem alcançar o intelecto dos que vivem na
periferia, se querem tocar as consciências dos que são ladrões e bêbados, se
querem derreter os corações dos que se têm tornado teimosos e duros durante anos
de concupiscência e iniquidade, sei que apenas o que pode obtê-lo é a morte no
Calvário, as cinco feridas, o flanco sangrando, o vinagre, os pregos e a lança.
Há ali um enternecedor poder para obtê-lo que não se pode encontrar em nenhuma
outra parte do mundo.
Vou
deter-me uma vez mais neste ponto. Nós elogiamos a doutrina da expiação porque
sabemos que, além de adequar-se ao entendimento, de aquietar a consciência e de
derreter o coração, tem poder para afetar a vida exterior. Nenhum homem pode
crer que Cristo sofreu pelos seus pecados e ainda viver em pecado. Nenhum homem
pode crer que as suas iniquidades mataram a Cristo, e, apesar disso,
acariciá-las no seu peito. O efeito certo e seguro de uma verdadeira fé no
sacrifício de expiação de Cristo, é o de limpar a velha levedura, o dedicar a
alma Àquele que a comprou com o Seu sangue, e o compromisso de vingar-se
daqueles pecados que cravaram a Cristo no madeiro. O melhor é que isto pode-se
comprovar. Vá a qualquer bairro na
Inglaterra onde viva um teólogo filósofo que tenha eliminado completamente a
expiação da sua pregação, e se não encontrar mais prostitutas e ladrões e
bêbados do que o usual, então estou completamente equivocado; mas, por outro
lado, vá a outro bairro onde se prega a expiação, com rígida integridade e
seriedade amorosa, e se não encontras as cervejarias ficando vazias e as lojas
fechadas aos domingos e o povo vivendo com honestidade e retidão, então terei
observado o mundo em vão.
Conheci,
numa ocasião, uma povoação que era possivelmente a pior das povoações da
Inglaterra por muitas razões: muitas destilarias ilícitas estavam produzindo o
seu nocivo licor para um fabricante que não pagava impostos ao governo e onde,
em conexão com o mesmo, abundava toda a classe de desordem e de iniquidade. A
esse povo chegou um jovem, que não era mais que um moço, sem muita educação
formal, tosco e algumas vezes até vulgar. Começou a pregar ali, e quis Deus
sacudir a esse povo. Em muito pouco tempo a pequena capela com teto de palha
estava lotada e os maiores vagabundos da povoação estavam chorando mares de
lágrimas e aqueles que tinham sido a maldição da aldeia converteram-se na sua
bênção; e onde antes houve todo tipo de roubos e maldades em toda a vizinhança,
já não as houve mais, porque os homens que as faziam se encontravam na casa de
Deus, alegres ao escutar de Jesus crucificado.
Escutai-me
com atenção, não vos estou dizendo agora uma história exagerada, nenhuma coisa
que eu não saiba. Mas esta coisa lembro-a claramente para louvor da graça de
Deus, porque o Senhor quis fazer sinais e maravilhas no nosso meio. Ele mostrou
o poder do nome do Jesus e fez-nos testemunhas desse Evangelho que ganha almas,
que atrai corações relutantes e molda de maneira nova a vida e a conduta dos
homens. Há alguns irmãos aqui que vão aos refúgios e lares para falar com essas
pobres moças caídas que foram resgatadas. Pergunto-me o que fariam se não
levassem consigo o Evangelho a essas moradas da miséria e da vergonha. Se
levassem consigo uma folha arrancada de um manual de teologia e fossem e lhes
falassem com palavras e com filosofias ribombantes, que benefício lhes poderiam
proporcionar? Pois bem, o que não é bom para elas não é bom para nós. Queremos
algo que possamos entender, algo em que possamos confiar, algo que possamos
sentir; algo que dê forma ao nosso caráter e à nossa conversação, e que nos
faça semelhantes a Cristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário