“Porque
Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.” (Romanos
5:6)
Spurgeon
Encontra-se presente hoje, entre nós,
um doutor em teologia que me escutou a pregar há já alguns anos. Visita-nos
novamente vindo da sua residência, dos Estados Unidos da América. Quando vi a
sua cara, não pude evitar imaginar que talvez pense que estou obcecado com este
velho tema e que entoo sempre a mesma melodia; que não tenho avançado nem uma
polegada em nenhum domínio do pensamento e que continuo pregando o mesmo velho
Evangelho, da mesma velha maneira, como sempre o faço. Se pensasse isso, ele
estaria certo. Suponho que me pareço com o senhor Cecil quando ele era menino.
Numa ocasião, o seu pai pediu-lhe que o esperasse numa determinada porta, até
que ele regressasse, e depois o pai, como era um homem muito ocupado, andou
percorrendo a cidade, e no meio de seus numerosos cuidados e compromissos,
esqueceu-se do rapaz.
Caiu
a noite, e, finalmente, quando o pai chegou a sua casa, houve uma grande
inquirição a respeito do paradeiro de Ricardo. O pai disse: “Meu Deus, deixei-o
no início da manhã, esperando-me, parado, em frente a tal e tal porta, e
pedi-lhe que me esperasse aí, até que eu fosse por ele; não me surpreenderia
que ainda me estivesse esperando ali.” Assim, foram, e aí encontraram o rapaz.
Não é uma vergonha imitar esse exemplo tão simples de fidelidade infantil. Há
alguns anos eu recebi instruções do meu Senhor para estar ao pé da Cruz até que
Ele viesse. Não veio ainda, mas estou decidido a esperá-Lo ali até que Ele
venha. Se eu desobedecesse às Suas instruções e abandonasse essas simples
verdades que têm servido de instrumento para converter a tantas almas, não sei
como poderia esperar a Sua bênção. Aqui estou, pois, ao pé da Cruz, repetindo a
mesma velha, velha história, rançosa como poderia soar aos ouvidos de quem tem
comichão ao ouvir, e gasta e puída conforme a consideram os seus críticos. Eu
amo falar de Cristo, do Cristo que amou e viveu e morreu em substituição dos
pecadores, o justo pelos ímpios, para poder-nos levar a Deus.
É
curioso, mas, assim como dizem que os peixes se começam a decompor pela cabeça,
de igual maneira os teólogos modernos, geralmente, começam a equivocar-se em
relação com a doutrina fundamental e de maior importância do trabalho vicário
de Cristo. Quase todos os nossos erros modernos — eu diria que todos eles —
começam por ser erros a propósito de Cristo. Os homens não gostam de pregar
sempre o mesmo. Há “atenienses” nos púlpitos e nas bancas das igrejas que não
fazem outra coisa senão escutar algo de novo. Não se contentam em dizer
repetidamente, uma e outra vez, esta simples mensagem: “Quem crê no Senhor
Jesus Cristo tem a vida eterna.”
Assim,
tomam emprestadas certas novidades da literatura e guarnecem a Palavra de Deus
com palavras ensinadas pela sabedoria humana. Envolvem em mistério a doutrina
da expiação. A reconciliação por meio do sangue precioso de Jesus deixa de ser
a pedra angular do seu ministério. O seu propósito principal é adaptar o
Evangelho aos desejos doentios e aos gostos dos homens, acima de qualquer
intenção de reformar a mente e renovar o coração dos homens, para que possam
receber o Evangelho tal como ele é. Não podemos dizer aonde vão parar os que
deixam de seguir o Senhor com um coração verdadeiro e sem divisões, descendo de
uma profundidade para outra mais profunda, até serem recebidos pelo negrume da
escuridão, a menos que a graça o impeça. Só isto podem ter por certo, pois “Eles
não podem ter razão na morte, A menos que digam a verdade a respeito Dele.”
Se
não entenderem a verdade sobre o propósito da cruz, estão apodrecidos em toda a
parte. “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que o que está posto,
o qual é Jesus Cristo.” Nesta Rocha há segurança. Podemos enganar-nos com maior
impunidade noutros pontos, mas não neste. Os que estão edificados sobre esta
Rocha, ainda que eles mesmos agreguem logo madeira, feno e folhagem para a sua
terrível confusão — já que a obra de cada um, o fogo a provará—, eles mesmos
serão salvos, mas apenas como pelo fogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário