terça-feira, 16 de outubro de 2012

ORIENTAÇÕES PARA OS NÃO-CONVERTIDOS



Alleine

         Antes de ler estas orientações, admoesto-vos, sim, eu vos responsabilizo diante do Senhor e de Seus santos anjos, a que se resolvam a segui-las, à medida que as vossas consciências se convençam de que são compatíveis com a Palavra de Deus e com a vossa situação; e peçam a Deus a Sua ajuda e a Sua bênção para que possam ser bem-sucedidos. Assim como busquei ao Senhor e consultei os Seus oráculos a respeito dos conselhos que lhes dou, da mesma maneira devem acolhê-los com aquele respeito, reverência e propósito de obediência que a Palavra do Deus vivo requer.      
         Agora prestem atenção: "Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós; ... porque esta palavra não nos é vã, antes é a vossa vida..." (Deuteronômio 32:46-47). Este é o alvo de todas as palavras que foram ditas até aqui: levá-los a ter os vossos corações voltados para Deus. Não quero causar-lhes atribulações nem atormentá-los antes da hora com pensamentos da miséria eterna, mas desejo que escapem dela. Se vocês estivessem encerrados em vosso atual estado de miséria sem recurso, seria misericordioso deixá-los em paz, para que pudessem gozar daquele pequeno conforto que podem ter neste mundo; mas ainda podem ser felizes, se não recusarem teimosamente os meios para a vossa recuperação. Vejam: mantenho a porta aberta para vocês; levantem-se, fujam! Coloco o caminho da vida diante de vocês; andem nele e não morrerão, mas viverão. Entristece-me a possibilidade de vocês se tornarem suicidas, atirando-se no abismo, não obstante, Deus e os homens estarem gritando para vocês: "Poupem-se a si mesmos".
         A destruição dos ímpios é voluntariosa. Deus, que os criou, clama-lhes como Paulo clamou ao carcereiro prestes a suicidar-se: "Não te faças nenhum mal..." Os ministros de Cristo os previnem e os buscam, e teriam grande alegria se eles se voltassem; mas pobres infelizes, nenhuma admoestação ou súplica os impedirão, porém os homens irão arremessar-se na perdição, enquanto a própria piedade os observa.
         Que direi eu? Não se entristeceria qualquer ser humano que, em tempo de violenta epidemia, tivesse um remédio que curasse, infalivelmente, toda a nação e recuperasse a maioria dos pacientes desenganados, e, não obstante, os seus próprios amigos e vizinhos morressem às centenas ao seu redor, devido a não usarem aquele remédio? Amigos e irmãos, embora tenham estampados em vossas faces certos sintomas da morte, eu ainda tenho um remédio capaz de curá-los infalivelmente. Sigam estas orientações, e se vocês, então, não ganharem o Céu, estarei disposto a perdê-lo.
         Ouça, então, ó pecador, e se quiser ser convertido e salvo, siga as seguintes orientações:
I. Estabeleça para si mesmo, como uma verdade infalível, que é impossível ir para o Céu enquanto permanecer nesse seu estado de incrédulo.
         Pode alguém, senão Cristo, salvá-lo? E Ele diz-lhe que jamais o fará, a menos que você seja regenerado e convertido. Não é Ele quem tem as chaves do Céu? E como você poderá entrar lá sem a Sua permissão? Seria a única maneira, se quiser entrar na sua condição natural, sem uma conversão genuína e total.
2. Esforce-se para obter uma visão completa e um sentido e sentimentos vivos de seus pecados. Enquanto os homens não estiverem cansados e oprimidos, e com seus corações aflitos, não buscarão a cura em Cristo nem perguntarão sinceramente: "O que devemos fazer?" Eles precisam ver a si mesmos como homens mortos, antes de se voltarem para Cristo, a fim de que vivam. Esforce-se, portanto, no sentido de colocar todos os seus pecados em ordem diante de você; não tema olhar para eles, mas permita que o seu espírito faça um cuidadoso exame. Esquadrinhe o seu coração e a sua vida; faça um completo exame de si mesmo e de todos os seus caminhos, até que possa fazer uma descoberta total; peça o auxílio do Espírito de Deus, ciente da sua própria incapacidade de fazê-lo sozinho e considerando que é próprio Dele a obra de convencer o homem do seu pecado. Exponha tudo diante da sua consciência, até que o seu coração e s seus olhos chorem. Não pare de lutar com Deus e com a sua alma, até que ela clame, sob o sentimento dos seus pecados, como o carcereiro iluminado: "...que é necessário que eu faça para ser salvo?"
         Com este propósito: Medite sobre o número de seus pecados. O coração de David desmaiou quando ele pensou nisso e concluiu que tinha mais pecados que os cabelos de sua cabeça. Isso o fez clamar pela multidão das ternas misericórdias de Deus. A carcaça repugnante não fica mais abominavelmente cheia de vermes rastejantes do que a alma não santificada com as suas concupiscências imundas. Elas enchem a cabeça, o coração, os olhos e a boca do indivíduo. Olhe para trás: onde e quando foi que você não pecou? Olhe interiormente: que parte ou poder você pode encontrar na alma ou no corpo que não tenha sido envenenado pelo pecado; que tarefa você realizou em que não foi disseminado esse veneno? Oh, quão grande é a soma de seus débitos; você que passou toda a sua vida endividado e jamais pagou ou poderá pagar um centavo sequer! Examine o pecado de sua natureza e todos os seus frutos amaldiçoados, os pecados de sua vida. Lembre-se de todas as suas omissões e comissões; os pecados de seus pensamentos, palavras e ações; os pecados da sua juventude e os pecados de seus anos mais maduros. Não se assemelhe a um falido desesperado que tem medo de examinar os seus balanços. Leia os registros da consciência cuidadosamente. Esses livros, mais cedo ou mais tarde, precisam ser abertos.
         Medite sobre os agravos de seus pecados pois são os grandes inimigos de Deus em sua vida e na vivência de sua alma; em suma, são os inimigos públicos de toda a humanidade. Vemos como David, Esdras, Daniel e os bons levitas agravaram os seus pecados, se considerarmos a sua oposição a Deus e às Suas boas e justas leis, assim como às Suas misericórdias e admoestações, contra as quais eles haviam pecado! Oh quão grande estrago o pecado tem feito no mundo! Ele é o inimigo que trouxe a morte; que roubou e escravizou o homem; que pôs o mundo de cabeça para baixo, semeou as dissensões entre os homens e as demais criaturas, entre homem e homem, sim, entre o homem e si mesmo, colocando a parte animal contra a parte racional, a vontade contra o julgamento, o desejo contra a consciência; sim, e o pior de tudo, entre Deus e o homem, tornando o pecador abominável a Deus e abominador de Deus.
         Ó homem, como você pode tratar o pecado com tamanha leviandade? Esse é o traidor que estava sedento do sangue do Filho de Deus, que O vendeu, que zombou Dele, que O açoitou, que cuspiu no Seu rosto, que rasgou as Suas mãos, que perfurou o Seu lado, que oprimiu a Sua alma, que mutilou o Seu corpo, que não O deixou enquanto não O amarrou, condenou, desnudou, crucificou e expôs à vergonha pública. Esse é o veneno mortal, tão poderoso que uma só gota dele derramada na raiz da humanidade, corrompeu, estragou, envenenou e arruinou toda a raça. É o carrasco sanguinário que matou os profetas, queimou os mártires, assassinou todos os apóstolos, todos os patriarcas, todos os reis e potentados; que destruiu cidades, engoliu impérios e devorou nações inteiras. Qualquer que tenha sido a arma utilizada, foi o pecado que causou a execução.
         Você ainda acha que é uma coisa insignificante? Se Adão e seus filhos pudessem ser tirados das suas covas, e seus corpos empilhados até o Céu, e se se fizesse uma pesquisa quanto ao assassino sem rival que fosse culpado daquele sangue, seria apontado o pecado. Estude a natureza do pecado, até que o seu coração se incline a temê-lo e a detestá-lo; e medite sobre o agravo de seus pecados em particular, como você tem pecado contra todas as advertências e misericórdias de Deus, contra as suas próprias orações, contra as correções, contra a mais clara luz, contra o amor gratuito, contra as suas próprias resoluções, contra promessas, votos e pactos de melhor obediência. Responsabilize o seu coração por tudo isso, até que ele core de vergonha e seja liberto de toda a boa impressão a respeito de si mesmo.
         Medite sobre o merecimento do pecado. Ele clama ao Céu; clama por vingança. Os seus justos salários são a morte e a perdição. Ele traz a maldição de Deus sobre a alma e o corpo. A mínima palavra ou pensamento pecaminoso coloca você sob a infinita ira de Deus. Oh, que carga de ira, que peso de maldição, que tesouros, que vingança merecem seus milhões de pecados! Oh, julgue-se a si mesmo para que o Senhor não precise julgá-lo.
         Medite sobre a deformidade e a poluição do pecado. É negra como o Inferno, a verdadeira imagem e semelhança do Diabo projetada sobre a alma. Você ficaria horrorizado ao ver-se na abominável deformidade de sua natureza. Não há um lodaçal tão impuro; nenhuma praga ou lepra é tão fétida quanto o pecado onde você está mergulhado e ao qual está entregue, desagradando muito mais a pura e santa natureza do glorioso Deus, do que o mais vil objeto pode desagradar você. Acha que poderia pegar um sapo no colo, acariciá-lo e ter prazer nele? Mas, da mesma forma, você está contra a pura e perfeita santidade da divina natureza, enquanto não for purificado pelo sangue de Jesus e pelo poder da graça renovadora.
         Acima de todos os outros pecados, considere esses dois:(1) O pecado do seu coração. Não vale a pena cortar os galhos se a raiz da corrupção se mantiver intacta. Em vão os homens esvaziam os regatos se a fonte continua a correr e os enche novamente. Deixe o machado do seu arrependimento, como o de David, ir até a raiz do pecado. Considere quão profunda e quão permanente é a sua poluição natural; quão universal ela é, até que você clame, como Paulo, contra o seu "corpo da morte". O coração jamais se torna completamente quebrantado, enquanto não se convence totalmente da sua depravação original, hedionda e profundamente enraizada. Fixe nisso os seus pensamentos. É ele que o torna renitente a todo o bem e propenso a todo o mal; que espalha cegueira, orgulho, preconceito e incredulidade na sua mente; inimizade, inconstância e obstinação na sua vontade; sentimentos desordenados de altos e baixos nas suas afeições; insensibilidade e infidelidade na sua consciência; instabilidade na sua memória.
         Enfim, ele desequilibra todo o mecanismo da alma, e faz com que, uma habitação de santidade se transforme num verdadeiro inferno de iniquidade. É ele que tem corrompido e pervertido todos os seus membros, transformando-os em armas de injustiça e servos do pecado; que tem enchido a sua mente de desejos carnais e corruptos; a mão, de práticas pecaminosas; os olhos, de delírio e de caprichos; a língua, de veneno mortal. É isso que tem aberto os ouvidos às fábulas, às conversas enganadoras e impuras, e os tem fechado às instruções da vida; e tem submetido o seu coração à maldita fonte de todas as imaginações mortais, de modo que flui incessantemente a sua impiedade assim como a fonte jorra naturalmente as suas águas ou como o mar furioso lança lodo e sujeira. E você ainda morre de amores por si mesmo e nos fala de seu bom coração? Oh, nunca deixe de meditar na infecção desesperada, na corrupção natural do seu coração, até que, como Efraim, lamente a sua situação, e com a mais profunda vergonha e tristeza bata no seu peito, como o publicano; e, como Jó, aborreça-se a si mesmo e se arrependa no pó e nas cinzas,

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