Sermão de
Jonathan Edwards
“Mas
temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o
Senhor.” (2Co 5:8)
O apóstolo Paulo apresenta uma razão
por que ele continuava com tamanha coragem e firmeza imóveis. no meio a tantas
labutas, sofrimentos e perigos, no serviço do Senhor, pelos quais os seus
inimigos, os falsos mestres entre os coríntios, às vezes reprovavam-no por
estar fora de si e impulsionado por um tipo de loucura. Na parte final do
capítulo precedente, ele informa os coríntios cristãos que a razão por que agia
assim, era que ele cria firmemente nas promessas que Jesus fizera aos seus
servos fiéis de uma recompensa gloriosa e eterna, e sabia que estas aflições
presentes eram leves e apenas momentâneas em comparação àquele mui excedente e
eterno peso de glória. Neste capítulo, ele prossegue insistindo na razão da sua
constância no sofrimento e exposição à morte na obra do ministério, até mesmo o
estado mais feliz que ele esperava depois da morte. Este é o assunto do texto.
A
alma do cristão, quando deixa o corpo, vai para estar com Cristo. Isto ocorre
nos seguintes aspectos:
I. A alma do cristão vai habitar
com a natureza humana glorificada de Cristo no mesmo domicílio abençoado.
Há
um lugar, uma região particular da criação exterior, para onde Cristo foi e
permanece. Este lugar é o céu dos céus, um lugar além de todos os céus
visíveis. “Ora, isto — ele subiu — que é, senão que também, antes, tinha descido
às partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu
acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas” (Ef 4: 9,10). É o mesmo
lugar que o apóstolo chama de terceiro céu: computando o céu aéreo como o
primeiro céu, o céu estrelado como o segundo e o céu mais alto como o terceiro.
Este é o domicílio dos anjos santos; eles são chamados “os anjos dos céus”, “os
anjos que estão no céu”, “os anjos de Deus no céu.” Está escrito que eles
sempre veem a face do “Pai que está no céu.”
Noutra
passagem, eles são representados estando diante do trono de Deus ou rodeando o
Seu trono no céu, e de lá enviados, descendo com mensagens para este mundo. É
para lá que a alma do santo é conduzida quando morre. Ela não fica num
domicílio distinto do céu superior, um lugar de descanso, no qual é guardada
até ao dia do juízo, o que uns chamam o Hades dos felizes; mas vai diretamente
para o céu. Esta é a casa dos santos, sendo a casa de seu Pai. Eles são
“peregrinos e estrangeiros” na terra, e esta é a “outra e melhor pátria” para a
qual estão viajando. Esta é a cidade à qual eles pertencem: “A nossa cidade
[cidadania, como significa corretamente a palavra] está nos céus...” (Filipenses
3-20).
Este
é indubitavelmente o lugar ao qual o apóstolo se refere quando diz: “Nós
estamos dispostos a abandonar a nossa primeira casa, o corpo, e habitar na
mesma casa, cidade ou país, em que Cristo habita”, que é a significação
adequada das palavras no original. O que pode ser esta casa, cidade ou país,
senão a casa que é falada noutra passagem como a sua casa, a casa do seu Pai, a
cidade e país aos quais eles adequadamente pertencem, para a qual eles estão
viajando o tempo em que continuam neste mundo, e a casa, cidade e país, onde
sabemos que está a natureza humana de Cristo. Este é o descanso dos santos,
aqui o seu coração está enquanto vivem na terra, e aqui está o seu tesouro, a
“herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos
céus para vós”, que está designada para eles, reservada no céu (1Pe 1:4). Eles
nunca podem ter o seu descanso adequado e pleno até que cheguem ali. Sem dúvida
a alma, quando ausente do corpo (as Escrituras representam-na num estado de
descanso perfeito), chega ali.
Os
dois santos, Enoque e Elias, que deixaram este mundo para, sem morrerem,
entrarem no descanso no outro mundo, foram para o céu. Elias foi visto subindo
ao céu, como Cristo; e há toda razão para pensarmos que foram para o mesmo
lugar de descanso, para o qual os santos vão quando pela morte deixam o mundo.
Moisés, quando morreu no topo do monte, subiu para o mesmo domicílio glorioso
com Elias, que subiu sem morrer. Eles são companheiros no outro mundo, conforme
apareceram juntos na transfiguração de Jesus. Eles estavam juntos naquele
momento com Cristo no monte, quando houve uma representação da sua glória no
céu.
Não
há que duvidar de que eles também estavam juntos com Ele mais tarde, quando com
efeito Ele foi glorificado no céu. Lá, incontestavelmente, estava a alma de Estevão,
que subiu quando ele expirou. As circunstâncias da sua morte demonstram este fato,
segundo o relato que temos. “Mas ele, estando cheio do Espírito Santo e fixando
os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus, e
disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem [ou seja, Jesus
na sua natureza humana], que está em pé à mão direita de Deus. Mas eles
gritaram com grande voz, taparam os ouvidos e arremeteram unânimes contra ele.
E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E apedrejaram a Estevão, que em
invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito'' (Atos 7: 55-59).
Antes
da sua morte, ele teve uma visão extraordinária da glória que o Salvador havia
recebido no céu, não só para si próprio, mas para todos os seus
seguidores fiéis, de modo que Estevão se encorajasse com a esperança desta
glória para alegremente entregar a vida por Ele. Por conseguinte, ele morre
nessa esperança, dizendo: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito''. Com estas
palavras ele irrefutavelmente queria dizer: “Recebe o meu espírito, Senhor
Jesus, para estar contigo nessa glória em que te vejo agora no céu à mão
direita de Deus.”
Para
lá foi a alma do ladrão penitente na cruz. Cristo disse-lhe: “Em verdade te
digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23:43). O paraíso é o terceiro céu
mencionado em 2 Coríntios 12: 2-4. O que no versículo 2 é chamado o terceiro
céu, no versículo 4 é chamado paraíso. As almas dos apóstolos e profetas estão
no céu, como está claro pelas palavras: “Alegra-te sobre ela, ó céu, e vós,
santos apóstolos e profetas” (Ap 18.20).
A
Igreja de Deus é de vez em quando diferenciada nas Escrituras com estas duas
partes: a parte que está no céu e a que está na terra — “Jesus Cristo, do qual
toda a família nos céus e na terra toma o nome” (Efésios 3:14,15). “E que,
havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como
as que estão nos céus” (Cl 1:20). Que “coisas que estão nos céus” são essas
pelas quais a paz foi feita mediante o sangue da cruz de Cristo, e que por Ele
reconciliou a Deus, senão os santos nos céus? Do mesmo modo lemos sobre Deus
“tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos
tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (Ef 1.10). Os
“espíritos dos justos aperfeiçoados” estão na mesma “cidade do Deus vivo” com
os “muitos milhares de anjos” e “Jesus, o Mediador de uma nova aliança”, como é
evidente. A Igreja de Deus é chamada na Escritura pelo nome de Jerusalém, e o
apóstolo fala da Jerusalém “que é de cima” ou 'que está nos céus” como a mãe de
todos nós; mas se nenhuma parte da Igreja está no céu, ou ninguém, senão Enoque
e Elias, então não é provável que a Igreja fosse chamada a Jerusalém que está
no céu.
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