quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Os Mortos Bem-aventurados (1)




Sermão de Jonathan Edwards
“Mas temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor.” (2Co 5:8)
         O apóstolo Paulo apresenta uma razão por que ele continuava com tamanha coragem e firmeza imóveis. no meio a tantas labutas, sofrimentos e perigos, no serviço do Senhor, pelos quais os seus inimigos, os falsos mestres entre os coríntios, às vezes reprovavam-no por estar fora de si e impulsionado por um tipo de loucura. Na parte final do capítulo precedente, ele informa os coríntios cristãos que a razão por que agia assim, era que ele cria firmemente nas promessas que Jesus fizera aos seus servos fiéis de uma recompensa gloriosa e eterna, e sabia que estas aflições presentes eram leves e apenas momentâneas em comparação àquele mui excedente e eterno peso de glória. Neste capítulo, ele prossegue insistindo na razão da sua constância no sofrimento e exposição à morte na obra do ministério, até mesmo o estado mais feliz que ele esperava depois da morte. Este é o assunto do texto.
         A alma do cristão, quando deixa o corpo, vai para estar com Cristo. Isto ocorre nos seguintes aspectos:
I. A alma do cristão vai habitar com a natureza humana glorificada de Cristo no mesmo domicílio abençoado.
         Há um lugar, uma região particular da criação exterior, para onde Cristo foi e permanece. Este lugar é o céu dos céus, um lugar além de todos os céus visíveis. “Ora, isto — ele subiu — que é, senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas” (Ef 4: 9,10). É o mesmo lugar que o apóstolo chama de terceiro céu: computando o céu aéreo como o primeiro céu, o céu estrelado como o segundo e o céu mais alto como o terceiro. Este é o domicílio dos anjos santos; eles são chamados “os anjos dos céus”, “os anjos que estão no céu”, “os anjos de Deus no céu.” Está escrito que eles sempre veem a face do “Pai que está no céu.”
         Noutra passagem, eles são representados estando diante do trono de Deus ou rodeando o Seu trono no céu, e de lá enviados, descendo com mensagens para este mundo. É para lá que a alma do santo é conduzida quando morre. Ela não fica num domicílio distinto do céu superior, um lugar de descanso, no qual é guardada até ao dia do juízo, o que uns chamam o Hades dos felizes; mas vai diretamente para o céu. Esta é a casa dos santos, sendo a casa de seu Pai. Eles são “peregrinos e estrangeiros” na terra, e esta é a “outra e melhor pátria” para a qual estão viajando. Esta é a cidade à qual eles pertencem: “A nossa cidade [cidadania, como significa corretamente a palavra] está nos céus...” (Filipenses 3-20).
         Este é indubitavelmente o lugar ao qual o apóstolo se refere quando diz: “Nós estamos dispostos a abandonar a nossa primeira casa, o corpo, e habitar na mesma casa, cidade ou país, em que Cristo habita”, que é a significação adequada das palavras no original. O que pode ser esta casa, cidade ou país, senão a casa que é falada noutra passagem como a sua casa, a casa do seu Pai, a cidade e país aos quais eles adequadamente pertencem, para a qual eles estão viajando o tempo em que continuam neste mundo, e a casa, cidade e país, onde sabemos que está a natureza humana de Cristo. Este é o descanso dos santos, aqui o seu coração está enquanto vivem na terra, e aqui está o seu tesouro, a “herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós”, que está designada para eles, reservada no céu (1Pe 1:4). Eles nunca podem ter o seu descanso adequado e pleno até que cheguem ali. Sem dúvida a alma, quando ausente do corpo (as Escrituras representam-na num estado de descanso perfeito), chega ali.

         Os dois santos, Enoque e Elias, que deixaram este mundo para, sem morrerem, entrarem no descanso no outro mundo, foram para o céu. Elias foi visto subindo ao céu, como Cristo; e há toda razão para pensarmos que foram para o mesmo lugar de descanso, para o qual os santos vão quando pela morte deixam o mundo. Moisés, quando morreu no topo do monte, subiu para o mesmo domicílio glorioso com Elias, que subiu sem morrer. Eles são companheiros no outro mundo, conforme apareceram juntos na transfiguração de Jesus. Eles estavam juntos naquele momento com Cristo no monte, quando houve uma representação da sua glória no céu.
         Não há que duvidar de que eles também estavam juntos com Ele mais tarde, quando com efeito Ele foi glorificado no céu. Lá, incontestavelmente, estava a alma de Estevão, que subiu quando ele expirou. As circunstâncias da sua morte demonstram este fato, segundo o relato que temos. “Mas ele, estando cheio do Espírito Santo e fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem [ou seja, Jesus na sua natureza humana], que está em pé à mão direita de Deus. Mas eles gritaram com grande voz, taparam os ouvidos e arremeteram unânimes contra ele. E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E apedrejaram a Estevão, que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito'' (Atos 7: 55-59).
         Antes da sua morte, ele teve uma visão extraordinária da glória que o Salvador havia recebido no céu, não para si próprio, mas para todos os seus seguidores fiéis, de modo que Estevão se encorajasse com a esperança desta glória para alegremente entregar a vida por Ele. Por conseguinte, ele morre nessa esperança, dizendo: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito''. Com estas palavras ele irrefutavelmente queria dizer: “Recebe o meu espírito, Senhor Jesus, para estar contigo nessa glória em que te vejo agora no céu à mão direita de Deus.”
         Para lá foi a alma do ladrão penitente na cruz. Cristo disse-lhe: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23:43). O paraíso é o terceiro céu mencionado em 2 Coríntios 12: 2-4. O que no versículo 2 é chamado o terceiro céu, no versículo 4 é chamado paraíso. As almas dos apóstolos e profetas estão no céu, como está claro pelas palavras: “Alegra-te sobre ela, ó céu, e vós, santos apóstolos e profetas” (Ap 18.20).
         A Igreja de Deus é de vez em quando diferenciada nas Escrituras com estas duas partes: a parte que está no céu e a que está na terra — “Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome” (Efésios 3:14,15). “E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus” (Cl 1:20). Que “coisas que estão nos céus” são essas pelas quais a paz foi feita mediante o sangue da cruz de Cristo, e que por Ele reconciliou a Deus, senão os santos nos céus? Do mesmo modo lemos sobre Deus “tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (Ef 1.10). Os “espíritos dos justos aperfeiçoados” estão na mesma “cidade do Deus vivo” com os “muitos milhares de anjos” e “Jesus, o Mediador de uma nova aliança”, como é evidente. A Igreja de Deus é chamada na Escritura pelo nome de Jerusalém, e o apóstolo fala da Jerusalém “que é de cima” ou 'que está nos céus” como a mãe de todos nós; mas se nenhuma parte da Igreja está no céu, ou ninguém, senão Enoque e Elias, então não é provável que a Igreja fosse chamada a Jerusalém que está no céu.

Nenhum comentário: