Alleine
Embora aquilo que já foi dito a
respeito da necessidade da conversão e das misérias do não convertido possa ser
suficiente para induzir qualquer mente ponderada a decidir-se quanto a uma
volta imediata para Deus, contudo, sabendo, que o coração do Homem é por
natureza um bloco de obstinação e de dureza sem esperança, considero necessário
acrescentar alguns motivos para persuadir-vos a serem reconciliados com Deus.
"Ó
Senhor, não me faltes agora, na minha última tentativa. Se há alguma alma que
tenha lido até aqui e ainda não tenha sido tocada, apressa-Te a tocá-la agora,
ó Senhor, e faze a Tua obra. Toma-lhe o coração, conquista-a, persuade-a, até
que ela diga: "Tu prevaleceste, pois és mais forte do que eu!"
Senhor, não me fizeste Tu um pescador de homens? Tenho trabalhado todo este
tempo e nada tenho apanhado. Que tristeza, tanto esforço despendido à toa!
Agora, lanço a rede pela última vez. Senhor Jesus, fica na praia e mostra-me
como e onde hei de lançar a rede. E permite que eu envolva com argumentos as
almas que busco, de modo que elas não consigam escapar. Senhor, opera agora por
uma multidão de almas; que a rede venha cheia. Oh, Senhor Deus, lembra-Te de
mim, peço-Te, e fortalece-me mais uma vez, ó Deus".
Irmãos
e amigos, o Céu e a Terra chamam por vocês; sim, o próprio Inferno proclama a
doutrina do arrependimento para vocês. Os ministros das igrejas trabalham por
vocês. Os anjos celestiais esperam por vocês, pelo vosso arrependimento e pela
vossa volta para Deus. Ó pecador, por que devem os demônios rir da sua
destruição, zombar da sua miséria, e divertir-se com a sua loucura? É o que vai
acontecer com você, caso não venha a arrepender-se. E não seria melhor se você
se tornasse uma alegria para os anjos do que uma zombaria e uma diversão para
os demônios? Se verdadeiramente, se arrependesse, as hostes celestiais
cantariam a antífona: "Glória a Deus nas alturas"; as estrelas da
manhã se uniriam em cântico e todos os filhos de Deus proclamariam a alegria e
celebrariam esta nova criação, da mesma forma como fizeram com a primeira. O
seu arrependimento resultaria num feriado celestial e os espíritos gloriosos
regozijar-se-iam porque um novo irmão teria sido acrescentado à sociedade
deles, um outro herdeiro teria nascido para o Senhor, e um filho perdido
recebido são e salvo. As lágrimas do verdadeiro penitente são, de fato, o vinho
que alegra tanto a Deus como ao Homem.
Se
achar pouco que homens e anjos se alegrariam com a sua conversão, saiba que o
próprio Deus também Se regozijaria com você, até mesmo com cânticos (Lucas
15:9; Isaías 62:5). Jacob nunca chorou com tanta alegria abraçado a José, como
o Pai Celestial iria regozijar-Se com a sua volta a Ele. Examine a parábola do
filho pródigo. Imagino o velho pai deixando de lado a sua condição e esquecendo
a sua idade; veja como ele corre. A misericórdia é a causa de tanta pressa, o
pecador não tem nem a metade dessa velocidade. Veja como o seu coração se
comove, como a sua compaixão se apieda. Quão perspicaz é o amor! A misericórdia
espreita-o de longe; esquece-se da sua vida ímpia, da sua rebelião abominável,
da sua terrível ingratidão — nenhuma palavra a respeito disso — e o recebe de
braços abertos, lança-se ao seu pescoço e beija-o; manda buscar o bezerro
cevado, o melhor vestido, o anel, os sapatos, a melhor comida que há na
despensa celestial, as melhores vestes que há no guarda-roupa do Céu.
Sim,
a alegria não pode ser contida em seu peito. É preciso que outros sejam
convidados a participar. Os amigos simpatizam-se, mas nenhum deles conhece a
alegria que o pai tem com seu filho renascido, que ele recebeu dentre os
mortos. Parece-me ouvir a música à distância. Oh, a melodia dos coristas
celestiais! Não posso aprender o cântico (Apocalipse 14:3), mas acho que ouço o
tema de todo o coro harmonioso, a uma só voz, começar a cantar suavemente:
"Porque esse meu filho estava morto e reviveu, tinha se perdido e foi
achado". Não preciso dar mais explicações sobre a parábola. Deus é o Pai;
Cristo é a provisão; a Sua justiça é o vestido; a Sua graça são os ornamentos,
os ministros, os santos e os anjos são os amigos e os servos, e você, leitor,
caso se arrependa sinceramente e se volte para Deus, é o pródigo bem-vindo, a
feliz instância desta graça, o bendito tema desta alegria e amor.
Ó
rochedo! Ó inflexível! Ainda não se moveu? Ainda não resolveu a voltar-se
imediatamente para a misericórdia? Vou tentar mais uma vez. Se lhe fosse
enviado alguém dentre os mortos, iria convencer-se? Ora, ouça a voz dentre os mortos,
dentre os condenados, implorando para que você se arrependa: "Rogo-Te,
pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai; pois tenho cinco irmãos; para que
lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de
tormento". (Lucas 16:27-28).
Ó
Homem, escute: os seus predecessores em penitência clamam a você das chamas do
Inferno para que se arrependa. Oh, olhe para o sem fundo. Não vê como a fumaça
do tormento deles sobe sem cessar? O que acha daquelas cadeias de trevas? Será
que você pode contentar-se a ser queimado? Não vê como os vermes consomem e
como o fogo devasta? O que diz a esse abismo de perdição? Vai fazer lá a sua
habitação? Oh, encoste o seu ouvido à porta do Inferno. Pode ouvir as maldições
e as blasfêmias, os choros e lamentações, como se queixam de Suas loucuras e
amaldiçoam o dia em que as praticaram? Como eles urram e rangem os dentes! Quão
inconcebíveis são as suas misérias! Quão profundos os seus lamentos! Se os
gritos de Coré, Datã e Abirão foram tão terríveis que a terra se partiu em
pedaços, abriu a sua boca e os engoliu, bem como a todos os que lhes
pertenciam, de tal forma que todo o Israel fugiu ao ouvir o grito deles
(Números 16:33-34), quão terrível seria o clamor se Deus tirasse a tampa da
boca do Inferno e permitisse que os gritos dos condenados subissem em todo o
seu terror entre os filhos dos homens! E esta é a ênfase e o peso penetrante e
esmagador dos seus lamentos e misérias: "Para sempre! Para sempre!"
Assim
como vive o Deus que fez a sua alma, você está apenas a algumas horas disso
tudo, a menos que seja convertido.
Oh,
estou mesmo engolfado na abundância dos argumentos que poderia sugerir. Se há
uma coisa sábia no mundo que se deve fazer, é arrepender-se e vir. Se há algo
justo e razoável, é isso. Se há algo que possa ser chamado de loucura e
insensatez, ou algo que possa ser considerado estúpido, absurdo, embrutecido e
irracional é isto: continuar no seu estado de incredulidade. Eu imploro-lhe, se
não quiser destruir-se a si mesmo, que pare e pese, além daquilo que já foi
dito, os seguintes motivos; e permita à consciência dizer se não é mais
razoável você arrepender-se e voltar-se para Deus.
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