Alleine
(7).
O descanso num certo grau de religião. Quando supõem que já possuem o
suficiente para serem salvos, deixam de olhar mais adiante, e assim
apresentam-se carentes da graça verdadeira, graça essa que sempre leva os
homens a aspirarem a perfeição (Filipenses 3:13; Provérbios 4:18).
(8).
O predominante amor ao mundo. Esta é a real evidência de um coração não
santificado. "Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele". (I
João 2:15). Mas quão frequentemente este pecado se esconde sob a capa da confissão
pública de fé. Sim, há um tal poder de engano neste pecado que, muitas vezes,
quando todos podem ver o mundanismo e a cobiça existentes na pessoa, ela
própria não os pode enxergar em si mesma, e apresenta tantas desculpas e
pretextos para justificar o seu amor pelo mundo que fica cega e perece no seu
autoengano. Quantos e quantos cristãos professos existem, cujos corações
pertencem mais ao mundo do que a Cristo; são pessoas "que só pensam nas
coisas terrenas", e portanto inclinam-se evidentemente para as coisas da
carne e provavelmente o seu fim será a perdição (Romanos 8:5; Filipenses 3:19).
Contudo,
fale com tais pessoas e elas lhe dirão, confiantemente, que estimam a Cristo
acima de tudo, pois não podem ver as suas inclinações carnais por falta de um rigoroso
exame dos seus próprios corações. Se simplesmente buscassem com diligência,
logo descobririam que a sua maior satisfação está no mundo e que o seu maior
cuidado e melhor esforço são empregados para se apossarem do mundo, sinais
evidentes de um pecador não convertido. Que a ala religiosa do mundo possa
atentar sinceramente para isso, a fim de que não venha a perecer em decorrência
deste pecado despercebido. Os homens podem ser mantidos longe de Cristo, e
frequentemente ocorre, tanto pelo amor desordenado aos confortos legítimos como
pelos seus hábitos ilegítimos.
(9).
O domínio da malícia e da inveja contra os que os desrespeitam e os injuriam.
Oh quantos que, tendo a aparência de religiosos, lembram as injúrias e guardam
os ressentimentos, pagando o mal com o mal, amando a vingança e desejando o mal
aos que os injuriam. Isto vai diretamente contra as regras do evangelho, contra
o padrão de Cristo e contra a natureza de Deus. Sem dúvida alguma, quando este
mal se mantém fervendo no coração, prevalecendo habitualmente, ao invés de ser
odiado, resistido e mortificado, tal pessoa encontra-se realmente em fel de
amargura e em estado de morte (Mateus 18:32-35; I João 3:14-15).
(10).
Orgulho não mortificado. Quando os homens apreciam mais os louvores dos seus
semelhantes do que o louvor de Deus, e colocam o coração na estima, no aplauso
e na aprovação humanos, é bem certo que estão vivendo em pecado e longe da
verdadeira conversão (João 12:43; Gálatas 1:10). Quando os homens não veem, nem
lamentam, nem gemem sob o orgulho do próprio coração, é sinal de que estão
completamente mortos no pecado. Oh, quão ocultamente esse pecado vive e reina
em muitos corações; e eles não sabem, mas desconhecem-se a si mesmos (João
9:40).
(11).
Um dominante amor pelo prazer. Esta é uma marca negra. Quando os homens dão à
carne a liberdade que ela deseja, e a mimam e a agradam, ao invés de a negar e
a dominar; quando o maior prazer é gratificar os seus apetites e satisfazer os
seus sentidos, tudo é falso, não obstante a aparência que tenham de religião.
Uma vida que satisfaz à carne não pode agradar a Deus. "E os que são de
Cristo, crucificaram a carne..." e têm o cuidado de a subjugar como a um
inimigo (Gálatas 5:24; I Coríntios 9:25-27).
(12).
Segurança carnal. Trata-se de uma confiança presunçosa de que já estão em boas
condições. Muitos clamam "paz e segurança", quando uma repentina
destruição está vindo sobre eles. Foi essa segurança que manteve as virgens
loucas adormecidas quando deveriam estar trabalhando; que as manteve na cama,
quando deveriam estar no mercado. Foi só quando o noivo chegou que perceberam
que lhes faltava azeite; e enquanto foram comprá-lo, a porta se fechou. Oxalá
aquelas virgens loucas nunca tivessem deixado sucessores! Haveria, no entanto,
algum lugar onde eles não estejam? Onde é que eles não habitam? Os homens
desejam agradar-se a si mesmos sobre bases sempre tão frágeis, esperançosos de
que a sua condição seja boa; portanto não se preocupam em mudar, e por causa
disso perecem em seus pecados. E você, leitor está em paz? Mostre-me as bases
sobre as quais a sua paz se firma. É a paz das Escrituras? Você pode apresentar
as marcas características de um verdadeiro cristão? Pode apresentar as
evidências de que tem algo mais que qualquer hipócrita do mundo já teve? Se não
pode, então tema essa paz mais do que qualquer aflição; e saiba que uma paz
carnal geralmente revela-se o maior inimigo da alma, e enquanto sorri, beija e
fala de maneira agradável, ela fatalmente golpeia e destrói.
A
esta altura parece-me ouvir os meus leitores exclamando como os discípulos:
"Quem poderá ser salvo?" Separem de nosso meio todas aquelas dez
fileiras de profanos de um lado, e depois tirem aquelas doze classes de
hipócritas autoenganadores e coloquem-nos do outro lado, e digam-me se não há
um saldo que vai ser salvo. Quão poucas serão as ovelhas que restarão quando
todos esses forem afastados e incluídos com os bodes. De minha parte, não tenho
esperanças de ver no Céu nenhum dos meus numerosos leitores que for encontrado
entre estas vinte e duas classes aqui mencionadas, a não ser que seja conduzido
a uma outra condição através da conversão verdadeira.
E
agora, consciência, faça o seu trabalho. Fale franca, profunda e intimamente
àquele que ouve ou lê estas linhas. Se encontrar qualquer uma dessas marcas
nele, deve declará-lo completamente impuro. Não minta. Não fale de paz àquele a
quem Deus não fala de paz. Não permita que o sentimento a corrompa, nem que o
amor-próprio ou o preconceito carnal a ceguem. Eu intimo-a, pelo tribunal
celestial, que venha e testifique. Visto que você vai responder por sua conta,
apresente um relato verdadeiro sobre o estado e a situação daquele que lê este
livro. Consciência, irá ficar calada numa hora como esta? Eu suplico-lhe, pelo
Deus vivo, que diga a verdade. O homem é convertido ou não? Ele permite a si
próprio alguma forma de iniquidade ou não? Ele realmente ama, agrada, louva e
se deleita em Deus acima de todas as coisas ou não? Levante-se e dê uma
resposta definida.
Por
quanto tempo essa alma viverá na incerteza? Ó consciência, apresente o seu
veredito. Esse homem é um novo homem ou não? Como você descobre isso? Ele
passou por uma completa e poderosa transformação ou não? Quando, aonde e por
que meios foi realizada nele essa completa transformação do novo nascimento?
Fale, consciência; e se você não pode dizer o tempo e o lugar, então poderia
mostrar uma evidência bíblica de que a obra foi realizada? O mesmo já foi
tirado do seu falso fundamento, da sua falsa esperança e da sua falsa paz, nas quais
confiava? Ele já foi profundamente convencido do pecado e de sua condição de
perdido e destruído? Foi livrado de si mesmo e dos seus pecados para render-se
totalmente a Jesus Cristo? Ou será que ele se encontra, até hoje, sob o poder
da ignorância ou na lama do mundanismo? Você não acha que ele é um estranho à
oração, um negligente da Palavra, um amante deste presente século? Você não o
pega, de vez em quando, numa mentira? Não encontra o seu coração fermentado com
a malícia ou queimando de concupiscência, ou andando segundo a sua cobiça? Fale
francamente sobre todos os pontos antes mencionados. Você pode absolver esse
homem (ou essa mulher) da sua inclusão numa das vinte e duas classes aqui
descritas? Se ele (ou ela) for encontrado em qualquer uma delas, ponha-o de
lado; a porção dele não é com os santos. Precisa ser convertido e feito nova
criatura, ou não poderá entrar no reino de Deus.
Amados,
não sejam em vós próprios traidores. Não enganem os vossos corações, não deem
as vossas suas mãos à sua própria ruína por causa de uma cegueira voluntária.
Estabeleçam um tribunal em vossos corações. Reúnam a palavra e a consciência.
"À Lei e ao Testemunho". Ouçam o que a Palavra conclui a respeito da
vossa condição. Prossigam na busca até descobrirem como está a vossa condição.
Se cometerem um erro aqui, perecerão. É tal a deslealdade do coração, a
sutileza de temperamento e o engano do pecado, tudo conspirando para iludir e
lograr a pobre alma; e é tão comum e fácil cometer um erro que há mil hipóteses
contra uma de que vocês serão enganados, a menos que sejam atentos, radicais e
imparciais no exame da vossa condição espiritual. Portanto, sejam diligentes na
busca, desçam até ao fundo, investiguem tudo, ponham-se na balança, cheguem ao
padrão do santuário e tragam a vossa moeda para a pedra de toque, Satanás é o
pai da mentira; ele sabe como lidar com a vida; ele é perfeito no negócio e não
há nada que ele não possa imitar. Não há uma graça sequer que possam desejar a
qual ele não possa falsificar. Sejam zelosos, não confiem nem mesmo em si
próprios. Cheguem-se a Deus para que Ele os perscrute e os prove, para que Ele
os examine e conheça o vosso intimo. Se outros tipos de ajuda não forem
suficientes para resolver o assunto, e vocês ainda estiverem incertos, consultem
um fiel e piedoso ministro ou um amigo cristão. Não descansem até que tenham
certeza da vossa segurança eterna.
"Ó
Perscrutador dos corações, faz com que essa alma Te busque, e ajuda-a na sua
busca".
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