Alleine
(1). Ignorância crassa e
voluntária (Oseias 4:6). Oh, quantas almas infelizes estão sendo mortas por
este pecado, embora pensem sinceramente que têm bons corações e que estão
preparadas para o Céu. Este pecado é o assassino que executa milhares silenciosamente,
sem que nada suspeitem e sem que vejam a mão do que os destrói. Não importa
quais sejam as desculpas que apresentem para a ignorância, eles descobrirão que
ela é um pecado que destrói a alma (Isaías 27:11; II Tessalonicenses 1:8; II
Coríntios 4:3). Ah, como teria afligido os nossos corações se tivéssemos visto
aquele horrível espetáculo em que os pobres protestantes eram lançados num
celeiro e vinha um açougueiro, com as suas mãos manchadas com sangue humano, e
os conduzia um por um de olhos vendados para um cepo onde os matava um após
outro em grande número, a sangue frio. Mas os vossos corações devem sofrer
muito mais ao pensar nas centenas que a ignorância destrói em segredo e conduz
de olhos vendados para o cepo. Tomai cuidado para que este não seja o vosso
caso. Não justifiqueis a ignorância; se poupardes esse pecado, saibais que ele
não vos poupará; e será que alguém abrigaria um assassino no seu seio?
(2).
Reservas secretas quanto à entrega a Cristo. Renunciar a tudo por Cristo, odiar
pai e mãe, sim, renunciar à própria vida por Ele, "duro é este
discurso". (Lucas 14:26). Alguns farão muitas coisas, mas não querem a
religião que os salvará. Jamais chegam a ser totalmente devotados a Cristo nem
completamente submissos a Ele. Precisam de ter o doce pecado; não querem
prejudicar-se a si mesmos; têm exceções secretas para a vida, para a liberdade
ou para a posição social. Muitos aceitam a Cristo dessa maneira e jamais levam em
conta os Seus termos de auto negação, nem avaliam o custo; e este erro fundamental
estraga tudo e os arruína para sempre (Lucas 14:28-33).
(3).
Formalidade na religião. Muitos descansam no lado externo da religião e no
cumprimento exterior dos seus deveres sagrados. E muitas vezes isto engana
efetivamente os homens e certamente os invalida mais do que a impiedade, à
semelhança do que aconteceu com o fariseu. Ouvem, jejuam, oram, dão esmolas, e
portanto não admitirão que não estão em ótimas condições espirituais.
Entretanto, descansando na obra feita e falhando no trabalho do coração, no
poder interior e na vitalidade da religião, acabam caindo no fogo por causa da
sua esperança ilusória e da persuasão confiante de que estão bem preparados e a
caminho do Céu. Oh, que situação terrível quando a religião de um homem só
serve para endurecer o seu coração e efetivamente iludir e enganar a sua
própria alma!
(4).
O predomínio de motivos errados nos deveres santos. Esta era a ruína dos
fariseus. Oh, quantas almas infelizes são destruídas por causa disso e caem no
Inferno antes que descubram o seu erro! Fazem as suas "boas obras" e
pensam que tudo está bem, mas não percebem que estão sendo impulsionadas
continuamente apenas por motivos carnais. É verdade que até mesmo no caso dos
verdadeiramente santificados, às vezes objetivos carnais parecem renascer; mas
são sempre matéria do seu ódio e humilhação, e jamais chegam a dominá-los, nem
a subjugá-los de novo. No entanto, quando a mola mestra que comumente leva o
homem aos deveres religiosos é um objetivo carnal, tal como a satisfação da consciência,
a obtenção da reputação de que é religioso, ser notado pelos homens, mostrar os
seus próprios dons e talentos, evitar a censura de que é uma pessoa profana e
não religiosa, ou coisa semelhante, isso revela um coração não regenerado. Ó
cristãos, se quiserdes evitar o auto engano então deem atenção não apenas às
vossas ações, mas também aos vossos motivos.
(5).
Confiança na sua justiça própria. Isso é um mal que destrói a alma. Quando os
homens confiam na sua justiça própria, certamente rejeitam a de Cristo. Amados,
vocês precisam ser vigilantes em tudo, pois não apenas os vossos pecados podem
arruiná-los mas também os vossos deveres. Talvez vocês jamais tenham
considerado isso, mas é assim mesmo; sem dúvida alguma, um homem tanto pode
perecer por causa da sua justiça aparente e das suas supostas virtudes, como
por causa dos pecados crassos, ou seja, quando ele confia em coisas como a sua
justiça própria e as apresenta diante de Deus para satisfazer a Sua justiça,
apaziguar a Sua ira, buscar o Seu favor e obter o Seu perdão.
Isso significa demitir Cristo do
Seu ofício e produzir um salvador a partir de nossas obras e virtudes.
Acautelem-se disso, cristãos professos; vocês são muito atuantes, mas isso pode
estragar tudo. Quando tiverem feito o máximo e o melhor, fujam de vós mesmos
para Cristo; reconheçam que as vossas justiças próprias são como trapos imundos
(Filipenses 3:9; Isaías 64:6).
6).
Uma secreta inimizade contra o rigor da religião. Muitas pessoas moralmente
corretas, cumpridoras dos seus deveres religiosos, têm uma amarga inimizade
contra o rigor e o zelo religiosos, e odeiam a vida e o poder da religião. Não
apreciam esta solicitude nem gostam que os homens sejam tão zelosos. Condenam
os rigores da religião como se fossem singularidade, indiscrição, zelo
exagerado, e consideram o pregador zeloso e o crente fervoroso nada mais do que
extremistas. Tais homens não amam a santidade como santidade (porque então
amariam a perfeição da santidade) e portanto são corruptos em seus corações,
seja qual for o bom conceito que tenham sobre si mesmos. (continua)
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