sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A NATUREZA DA CONVERSÃO (fim)



 Alleine
(2). Voltamos para as leis, as ordenanças e os caminhos de Cristo. O coração que outrora era contra tudo isso, e não podia suportar a rigidez desses lagos, a severidade desses caminhos, agora se apaixona por eles e os escolhe como normas e guias eternos. Com referência às leis e caminhos de Cristo, tenho observado que Deus opera quatro coisas em cada verdadeiro convertido, pelas quais vocês podem conhecer o seu estado, se forem fiéis às suas próprias almas. Portanto, vigiem os seus corações, à medida que prosseguem.
         (i). O juízo é levado a aprovar essas leis e caminhos e a aceitá-los como os mais justos e racionais. A mente é levada a apreciar os caminhos de Deus, e os corruptos preconceitos que outrora eram contrários a eles — considerando-os irracionais e intoleráveis— são agora removidos. O entendimento reconhece-os como santos, justos e bons (Romanos 7:12). Vejam como Davi exaltava as excelências das leis de Deus. Como ele falava pormenorizadamente dos seus louvores, tanto quanto das suas qualidades inerentes, bem como dos seus admiráveis efeitos! (Salmo 19:8-10 etc.).
         Há um duplo juízo do entendimento: o absoluto e o comparativo. O juízo absoluto é quando o homem considera um determinado caminho como o melhor, em geral; mas não para ele, ou pelo menos não sob as suas atuais circunstâncias. Ora, o juízo de um homem piedoso é em favor dos caminhos de Deus, e não se trata apenas de um juízo absoluto, mas comparativo. Considera-os não apenas os melhores, de modo geral, mas são os melhores para ele, em particular. Não considera as leis da religião apenas toleráveis; considera-as desejáveis; sim, mais desejáveis do que o ouro, do que o ouro puro — sim, do que muito ouro puro.
         O seu juízo está plenamente persuadido que é melhor ser santo, que é melhor ser rígido, que este é o melhor caminho, e, para ele, é a mais sábia, a mais racional e a mais desejável escolha. Veja o conceito do homem de Deus: "Sei, ó Senhor, que os teus juízos são retos; amo os teus mandamentos mais do que o ouro, e ainda mais do que o ouro fino. Por isso tenho em tudo como retos todos os teus preceitos, e aborreço toda a falsa vereda" (Salmo 119:127-128). Observe que ele aprova tudo o que Deus ordena e desaprova tudo o que Ele proíbe. "Justo és, ó Senhor, e retos são os teus juízos. Os teus testemunhos que ordenaste são retos e muito fiéis. A tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre" (Salmo 119:137-138, 160). Vejam quão pronta e completamente ele aceita os juízos de Deus; declara a sua aprovação e aceitação desses juízos e de cada coisa neles contida.
         (ii). O desenho do coração é conhecer a mente completa de Cristo. Não quer que nenhum pecado fique encoberto nem quer ser ignorante de nenhum dever requerido dele. A aspiração natural e honesta de um coração santificado é: "Senhor, se há algum caminho mau em mim, revela-o. O que eu não sei, ensina-me; e se tenho cometido iniquidade, não cometerei mais". O falso convertido é deliberadamente ignorante, não ama o caminho da luz. Quer continuar com tais e tais pecados, e, portanto, detesta reconhecer que está cometendo pecado e não permitirá que a luz o penetre. Agora o coração bondoso deseja conhecer toda a largura e amplidão das leis do seu Criador. Recebe com total aceitação a Palavra que o convence de qualquer dever que antes desconhecia ou desprezava, cujo dever revela pecados que outrora permaneciam escondidos.
         (iii). A livre e resoluta escolha da vontade é pelos caminhos de Cristo, antes de todos os prazeres do pecado e de toda a prosperidade do mundo. A sua aceitação não é oriunda de uma situação angustiante, nem se trata apenas de uma resolução súbita e apressada, mas o cristão está resolvido e faz a escolha voluntária deliberadamente. Na verdade, a carne irá rebelar-se; contudo, a parte predominante da sua vontade decide-se pelas leis e pelo governo de Cristo, de modo que o cristão adere a elas — não como um peso ou carga, mas como uma bem-aventurança. Enquanto o não santificado anda nos caminhos de Cristo como se estivesse preso em cadeias e grilhões, o verdadeiro convertido fá-lo de coração aberto e considera as leis de Cristo a sua liberdade. O seu prazer está nas belezas da santidade e tem esta característica inseparável. Se pudesse escolher, preferiria uma vida rígida e santa a uma vida próspera e florescente, porém mundana. "... e foram com ele (Saull) do exército aqueles cujos corações Deus tocara". (I Samuel 10:26). Quando Deus toca os corações dos Seus escolhidos, eles seguem a Cristo imediatamente e, embora atraídos por Deus, seguem-nO voluntariamente e desejosos de se devotarem ao Seu serviço, buscando-O de todo o coração. O temor tem o seu valor, mas ele não é a principal fonte propulsora de um coração santificado. Cristo não controla os Seus súditos pela força, mas é Rei de um povo voluntário que, através da Sua graça, se dedica espontaneamente ao Seu serviço. Eles O servem por livre escolha — não como escravos, mas como um filho ou uma esposa; escolha essa, proveniente de uma fonte de amor e de uma mente fiel. Em suma, as leis de Cristo são o amor, gozo e objeto de estudo contínuo do cristão.
         (iv). A inclinação do seu caminho está direcionada no sentido de guardar os estatutos de Deus. A sua preocupação diária é andar com Deus. Busca grandes coisas, tem projetos nobres, embora falhe em realizá-los. O seu alvo não é nada menos do que a perfeição; ele a deseja, ele esforça-se para obtê-la; não descansará em nenhum degrau da graça enquanto não se livrar, por completo, do pecado e estar aperfeiçoado na santidade (Filipenses 3:11-14).
         É aqui que a podridão do hipócrita pode ser descoberta. Ele deseja a santidade, como já disse alguém muito bem, apenas como uma ponte para o Céu e procura sinceramente descobrir qual é o mínimo necessário para servir ao seu propósito; e se ele puder conseguir esse mínimo necessário, ficará satisfeito. Mas o verdadeiro convertido deseja a santidade por causa da santidade, e não simplesmente por causa do Céu. Não ficaria satisfeito apenas com aquilo que poderia apenas salvá-lo do Inferno, mas deseja o ponto mais alto. Contudo, os desejos não são suficientes. Qual é o seu caminho e a sua trajetória? O intento e o objetivo da sua vida foram alterados? A santidade é o seu objetivo e a religião o seu empreendimento? Se não é assim, então você não alcançou a verdadeira conversão.
         E será que isto que temos descrito se constitui na conversão que é absolutamente necessária para a salvação? Então esteja informado de que estreita é a porta e apertado o caminho que conduzem à vida — de que são poucos os que a encontram — de que há necessidade de poder divino para converter um pecador a Jesus Cristo.
         Por conseguinte, ó leitor, novamente o exorto a examinar-se a si mesmo. O que diz a sua consciência? Ela começa a acusá-lo? Ela o aferroa à medida que você prossegue? Aquilo que temos descrito corresponde ao seu juízo, à sua escolha e ao seu caminho? Se for assim, então está tudo bem. Ou porventura o seu coração o condena e lhe fala de um certo pecado no qual está vivendo em desacordo com a sua consciência? Acaso não lhe fala que há tal e tal caminho secreto da iniquidade no qual você deseja prosseguir, tal e tal dever do qual você ainda não se conscientizou?
         A sua consciência não o leva para o seu quarto a fim de lhe dizer quão raramente a oração e a leitura da Palavra de Deus são ali realizadas? Ela não o leva à sua família, para lhe mostrar a exortação de Deus, e, às almas dos seus filhos, as quais você tem negligenciado? A sua consciência não o conduz até à sua loja, até ao seu comércio para lhe falar de uma determinada iniquidade que existe ali? Ela não o leva até ao botequim da esquina ou ao clube privado, a fim de culpá-lo pelas amizades dissolutas que você mantém ali, como também, o tempo e os talentos preciosos gastos ali? Ela não o leva ao seu aposento secreto para ali proferir a sua condenação?
         Ó consciência, cumpra com o seu dever! Em nome do Deus vivo, eu lhe ordeno: cumpra a sua missão. Agarre este pecador, caia sobre ele, prenda-o, apreenda-o, abra-lhe os olhos. O quê?! Você vai lisonjeá-lo e confortá-lo enquanto ele permanece vivendo no pecado? Acorde, ó consciência! O que pretende, ó dormente?! O quê?! Você não tem qualquer censura nos seus lábios? O quê?! Irá esta alma morrer na sua descuidada negligência de Deus e da eternidade e você mantém-se completamente sossegada? O quê?! Ele vai continuar nos seus pecados e ainda terá paz? Oh, levante-se e faça o seu trabalho. Deixe o pregador que há em você falar. Grite e não poupe o pecador; levante a sua voz como uma trombeta. Não deixe que o sangue dele seja requerido de suas mãos.


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