sábado, 22 de setembro de 2012

A NATUREZA DA CONVERSÃO (1) Joseph Alleine






Não tenho coragem de deixá-los com os olhos semi-cerrados, à semelhança daquele que viu "os homens como se fossem árvores ambulantes." A Palavra é proveitosa tanto para ensinar como para redarguir. E, portanto, havendo conduzido vocês através das rochas e declives de erros tão perigosos, gostaria de guiá-los, finalmente, ao porto da verdade.
         A conversão então, em resumo, consiste na mudança completa do coração e da vida. Vou descrevê-la rapidamente em sua natureza e em suas causas.
         1. O autor da conversão é o Espírito de Deus e, portanto, ela é chamada "a santificação do Espírito" (II Tessalonicenses 2:13) e a "renovação do Espírito Santo" (Tito 3:5). Isto não exclui as outras pessoas da Trindade, pois o apóstolo nos ensina que devemos bendizer o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que "nos gerou de novo para uma viva esperança". (I Pedro 1:3). E Cristo é mencionado como aquele que dá "a Israel o arrependimento" (Atos 5:31); e é chamado de "Pai da eternidade" (Isaías 9:6) e nós somos Sua semente e "os filhos que Deus (Lhe) deu" (Hebreus 2:13). Contudo, esta obra é atribuída principalmente ao Espírito Santo, e por isso é dito que somos "nascidos do Espírito" (João 3:5-6).
         Portanto, a conversão é algo que supera o poder humano. Somos "nascidos, não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus" (João 1:13). Vocês jamais devem pensar que podem converter-se a si mesmos. Se tiverem de ser convertidos para a salvação, abandonem qualquer esperança de fazê-lo segundo a sua própria força. É uma ressurreição dos mortos (Efésios 2:1), uma nova criação (Gaiatas 6:15; Efésios 2:10), uma obra de absoluta omnipotência (Efésios 1:19). Isto tudo não está fora do alcance humano? Se não têm nada mais do que aquilo que receberam na ocasião do primeiro "nascimento — uma boa natureza, um temperamento humilde e casto etc. — estão longe da verdadeira conversão. Trata-se de uma obra sobrenatural.
         2. A causa eficaz da conversão é tanto interna quanto externa.
         (1). A causa interna é somente a livre graça. "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou... " e "... (pela) renovação do Espírito Santo" (Tito 3:5). "Segundo a sua vontade, ele nos gerou..." (Tiago 1:18). "Somos escolhidos e chamados para a santificação, e não por causa dela." (Efésios 1:4).
         Deus não encontra nada no homem para comover o Seu coração, mas encontra o suficiente para nausear o Seu estômago; Ele encontra o bastante para provocar a Sua repugnância, mas não encontra nada para despertar o Seu amor. Olhe para si mesmo, crente! Considere a respeito da sua natureza imunda, do seu lixo imundo, do lodaçal que você amava (II Pedro 2). Contemple o seu lodo e a sua corrupção. As suas próprias roupas não o abominam? (Jó 9:31). Como, então, a santidade e a pureza poderiam amá-lo? Assombrai-vos, ó céus, diante disso; move-te, ó Terra ! Quem não precisa clamar "graça! graça!"? (Zacarias 4:7). Ouçam e envergonhem-se, ó filhos do Altíssimo. Ó homens ingratos, a livre graça já não está mais em vossos lábios, em vossas mentes; já não é mais adorada, admirada e recomendada por indivíduos como vocês! Pensar-se-ia que vocês não deveriam fazer outra coisa senão louvar e admirar a Deus onde quer que estivessem. Como podem esquecer-se de tal graça ou desprezá-la com uma menção ligeira e formal? O que mais senão a livre graça poderia levar Deus a amá-los, a menos que a inimizade pudesse fazê-lo, a menos que a deformidade pudesse fazê-lo? Com que sentimento Pedro levanta as suas mãos e diz: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo" (I Pedro 1:3). Com que sentimento Paulo magnifica a livre misericórdia de Deus: "Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor que nos amou,... nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)" (Efésios 2:4-5).

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