Não tenho
coragem de deixá-los com os olhos semi-cerrados, à semelhança daquele que viu
"os homens como se fossem árvores ambulantes." A Palavra é proveitosa
tanto para ensinar como para redarguir. E, portanto, havendo conduzido vocês
através das rochas e declives de erros tão perigosos, gostaria de guiá-los,
finalmente, ao porto da verdade.
A
conversão então, em resumo, consiste na mudança completa do coração e da vida.
Vou descrevê-la rapidamente em sua natureza e em suas causas.
1. O autor da conversão é o Espírito de
Deus e, portanto, ela é chamada "a santificação do Espírito" (II
Tessalonicenses 2:13) e a "renovação do Espírito Santo" (Tito 3:5).
Isto não exclui as outras pessoas da Trindade, pois o apóstolo nos ensina que
devemos bendizer o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que "nos gerou de
novo para uma viva esperança". (I Pedro 1:3). E Cristo é mencionado como
aquele que dá "a Israel o arrependimento" (Atos 5:31); e é chamado de
"Pai da eternidade" (Isaías 9:6) e nós somos Sua semente e "os
filhos que Deus (Lhe) deu" (Hebreus 2:13). Contudo, esta obra é atribuída
principalmente ao Espírito Santo, e por isso é dito que somos "nascidos do
Espírito" (João 3:5-6).
Portanto,
a conversão é algo que supera o poder humano. Somos "nascidos, não do
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus"
(João 1:13). Vocês jamais devem pensar que podem converter-se a si mesmos. Se
tiverem de ser convertidos para a salvação, abandonem qualquer esperança de fazê-lo
segundo a sua própria força. É uma ressurreição dos mortos (Efésios 2:1), uma
nova criação (Gaiatas 6:15; Efésios 2:10), uma obra de absoluta omnipotência
(Efésios 1:19). Isto tudo não está fora do alcance humano? Se não têm nada mais
do que aquilo que receberam na ocasião do primeiro "nascimento — uma boa
natureza, um temperamento humilde e casto etc. — estão longe da verdadeira
conversão. Trata-se de uma obra sobrenatural.
2.
A causa eficaz da conversão é tanto interna quanto externa.
(1).
A causa interna é somente a livre graça. "Não pelas obras de justiça que
houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou... " e
"... (pela) renovação do Espírito Santo" (Tito 3:5). "Segundo a
sua vontade, ele nos gerou..." (Tiago 1:18). "Somos escolhidos e
chamados para a santificação, e não por causa dela." (Efésios 1:4).
Deus
não encontra nada no homem para comover o Seu coração, mas encontra o
suficiente para nausear o Seu estômago; Ele encontra o bastante para provocar a
Sua repugnância, mas não encontra nada para despertar o Seu amor. Olhe para si
mesmo, crente! Considere a respeito da sua natureza imunda, do seu lixo imundo,
do lodaçal que você amava (II Pedro 2). Contemple o seu lodo e a sua corrupção.
As suas próprias roupas não o abominam? (Jó 9:31). Como, então, a santidade e a
pureza poderiam amá-lo? Assombrai-vos, ó céus, diante disso; move-te, ó Terra !
Quem não precisa clamar "graça! graça!"? (Zacarias 4:7). Ouçam e
envergonhem-se, ó filhos do Altíssimo. Ó homens ingratos, a livre graça já não
está mais em vossos lábios, em vossas mentes; já não é mais adorada, admirada e
recomendada por indivíduos como vocês! Pensar-se-ia que vocês não deveriam
fazer outra coisa senão louvar e admirar a Deus onde quer que estivessem. Como
podem esquecer-se de tal graça ou desprezá-la com uma menção ligeira e formal?
O que mais senão a livre graça poderia levar Deus a amá-los, a menos que a
inimizade pudesse fazê-lo, a menos que a deformidade pudesse fazê-lo? Com que
sentimento Pedro levanta as suas mãos e diz: "Bendito seja o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de
novo" (I Pedro 1:3). Com que sentimento Paulo magnifica a livre
misericórdia de Deus: "Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo
seu muito amor que nos amou,... nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça
sois salvos)" (Efésios 2:4-5).
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