(2). Nós nos afastamos de
Satanás. A conversão amarra o homem forte, estraga a sua armadura, lança fora
os seus bens, faz com que os homens se voltem do poder de Satanás para Deus.
Antes, tão logo que o diabo levantasse o seu dedo para chamá-los à sua companhia
pecaminosa, jogos pecaminosos e prazeres imundos eles o seguiam imediatamente
"como um boi vai para o matadouro ou como um louco vai para o castigo das
prisões, como o pássaro que se apressa para o laço e não sabe que está ali
contra a sua vida" (Provérbios 7:22-23). Logo que Satanás os mandasse
mentir, imediatamente eles estariam com a língua pronta para proferir mentiras;
tão logo o Inimigo oferecesse um objeto lascivo, já seriam aguilhoados pela
lascívia. Se o diabo lhes dissesse: "Deixem esses deveres
familiares", esteja certo de que tais deveres raramente seriam cumpridos
em suas casas. Se ele lhes dissesse: "Larguem dessa rigidez, dessa
precisão", eles ficariam bastante longe delas. Se ele lhes dissesse:
"Não há necessidade dessas devoções domésticas", dia a dia iriam
deixando de fazê-las. Mas após sua conversão o cristão serve a outro Mestre e
toma um rumo bem diferente; ele anda segundo os mandamentos de Cristo. Satanás
pode, de vez em quando, apanhá-lo na sua armadilha, mas ele já não será mais um
cativo voluntário. Está vigilante contra os laços e engodos do Inimigo, e
procura cientificar-se dos seus ardis. Torna-se bastante desconfiado das suas
tramas e muito zeloso daquilo que lhe acontece, caso Satanás tenha algum
propósito a seu respeito. Luta contra os principados e poderes; trata com o
mensageiro de Satanás do mesmo modo que os homens tratam com o mensageiro da
morte. Mantém os seus olhos sobre o Inimigo e está atento aos seus deveres para
que o mesmo não leve vantagem.
(3).
Nós nos afastamos do mundo. Antes de ter uma fé verdadeira, o homem é dominado
pelo mundo. Inclina-se a Mamon ou idolatra a sua reputação; ou ama os prazeres
mais do que a Deus. Aqui está a raiz da miséria do homem na queda. Ele volve-se
à criatura e dá-lhe a estima, a confiança e afeição que são devidas somente a
Deus.
Ó
homem miserável, que monstro deformado o pecado fez de você! Deus o fez
"um pouco menor do que os anjos"; o pecado o fez um pouco melhor que
os demônios, um monstro que tem a cabeça e o coração no lugar dos pés, e estes,
esperneando contra o Céu — tudo fora de lugar. O mundo, que foi formado para
servir você, está prestes a dominá-lo — a meretriz enganosa o enfeitiçou com os
seus encantos e o fez inclinar-se diante dela e servi-la.
Mas
a graça que converte põe tudo em ordem novamente e coloca Deus no trono, e o
mundo aos Seus pés; Cristo está no coração e o mundo sob os pés. "...
o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo". (Gálatas
6:14). Antes dessa mudança, todo clamor era: "quem nos mostrará algum bem
(mundano)?", mas, agora, ele ora: "Senhor, exalta sobre mim a luz do
Teu rosto", e quem quiser fique com o trigo e o vinho (Salmo 4:6-7).
Anteriormente o prazer e o contentamento de seu coração estavam no mundo;
então, a sua canção era: "Alma, tens em depósito muitos bens para muitos
anos; descansa, come, bebe e folga". Mas, agora, tudo isto já perdeu a sua
importância e já não tem graça para que o deseje; e ele se afina com o doce
salmista de Israel: "O senhor é a porção da minha herança; as linhas
caem-me em lugares deliciosos; sim, coube-me uma formosa herança". Nada
mais pode deixá-lo contente. Escreveu "vaidade" e
"tormento" sobre todos os prazeres mundanos; e "perda" e
"imundícia" sobre todas as virtudes humanas. Está em busca, agora, da
vida e da imortalidade. Anseia por graça e glória, e tem uma coroa
incorruptível em vista. Seu coração está empenhado em buscar ao Senhor. Busca
primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e a religião não se trata mais de um
assunto casual para ele, mas é a sua principal preocupação. Outrora o mundo
tinha domínio sobre ele. Ele faria mais para obter lucro do que para obter
santidade — mais para agradar ao seu amigo ou à sua carne, do que a Deus que o
fez; e Deus precisava esperar enquanto o mundo era servido em primeiro lugar.
Mas agora, tudo precisa esperar; ele odeia pai, mãe, a vida e tudo o mais em
comparação a Cristo.
Bem,
leitor, pare um pouco e olhe para dentro de si mesmo. Isso não o preocupa? Você
finge ser de Cristo, mas o mundo o domina? Você não sente gozo e contentamento
mais reais no mundo do que Nele? Você não se sente mais à vontade quando o
mundo está na sua mente e quando está rodeado de prazeres carnais do que quando
a sós, em seu quarto, para orar e meditar, ou, assistindo ao culto e adorando
ao Senhor? Não há evidência mais segura do estado de falta de conversão, do que
ter as coisas do mundo em primeiro plano, no que se refere aos nossos
interesses, amor e estima.
Para
o verdadeiro convertido, Cristo tem a supremacia. Quão querido é o Seu nome
para ele! Quão preciosa é a Sua graça! O nome de Jesus está gravado em seu
coração. Para ele, a honra é simples aparência; o riso é apenas loucura; e
Mamon caiu por Terra como Dagom diante da arca, com as mãos e a cabeça
quebradas na soleira, quando Cristo é revelado de maneira salvadora. Aqui está
a pérola de grande preço para o verdadeiro convertido; aqui está o seu tesouro;
aqui está a sua esperança. Esta é a sua glória: "Meu amado é meu, e eu sou
dele". Oh, é mais doce para ele ser capaz de dizer: "Cristo é
meu", do que se ele pudesse dizer: "O reino é meu; as índias são
minhas".
(4).
Nós afastamo-nos da nossa justiça própria. Antes da conversão o homem procura
cobrir-se com folhas de figueira e santificar-se com os seus próprios deveres.
Está apto a confiar em si mesmo, a estabelecer a sua justiça própria e a contabilizar
os seus bens como ouro, mas não está apto a se submeter à justiça de Deus. Mas
a conversão muda a sua mente; agora ele considera sua justiça própria como
trapos de imundícia. Ele a lança fora como uma pessoa faria com os trapos
repugnantes de um mendigo asqueroso. É, agora, levado à pobreza de espírito;
condena-se e reclama de si mesmo; considera todos os seus bens
"desgraçados, e miseráveis, e pobres, e cegos, e nus". Vê um mundo de
iniquidade nas suas coisas santas, e a sua justiça — antes idolatrada — chama
de imundícia e prejuízo; e nem por milhares de mundos se acharia vestido nela.
Agora
começa a dar um alto valor à justiça de Cristo. Vê a necessidade de Cristo em
cada dever, para justificar a sua pessoa e santificar os seus atos; não pode
viver sem Ele; não pode orar sem Ele. Cristo precisa de ir com ele, caso contrário,
não pode chegar à presença de Deus; inclina-se para Cristo e, portanto,
encurva-se na casa do seu Deus. Esconde-se em Cristo, como a raiz de uma árvore
se espalha na Terra para ter estabilidade e nutrir-se. Outrora as novas de
Cristo eram uma coisa sem graça e sem sabor; mas, agora, quão doce é Cristo.
Agostinho não podia apreciar o seu tão admirado Cícero, porque não podia
encontrar nos escritos dele o nome de Cristo. Quão enfaticamente ele exclama:
"Ó suavíssimo, amantíssimo, bondosíssimo, queridíssimo, preciosíssimo,
desejadíssimo, adorabilíssimo, justíssimo!" tudo de um só fôlego, quando fala de e para
Cristo. Em suma, o convertido brada juntamente com o mártir: "Ninguém,
senão Cristo".
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