terça-feira, 25 de setembro de 2012

A NATUREZA DA CONVERSÃO (4)



Joseph Alleine
         (3). A vida e a prática. O novo homem segue um novo curso (Efésios 2:2-3). A sua conversação é celestial (Filipenses 3:20). Mal Cristo o chama, através de Sua graça eficaz, imediatamente ele se torna um seguidor. Após dar-lhe um novo coração e escrever a Sua lei em sua mente, daí em diante o homem anda nos Seus estatutos e guarda os Seus mandamentos.
         Embora o pecado possa habitar nele — um hóspede verdadeiramente enfadonho e indesejável — já não tem domínio sobre ele. Tem agora os frutos da santidade e ainda que cometa muitos erros, a lei e a vida de Jesus são os seus padrões e nutrem nele um sincero respeito por todos os mandamentos de Deus. Ele se sensibiliza ante os mínimos pecados e os menores deveres. As suas próprias enfermidades — as quais ele não pode evitar, mesmo se quisesse — são o peso da sua alma e são como ciscos nos olhos de alguém, que apesar de pequenos o perturbam bastante. (Ó leitor, será que você lê isso e nunca se detêm para examinar-se a si mesmo?)
         O verdadeiro convertido não apresenta um comportamento na igreja e outro em casa. Não é um santo quando está de joelhos e um impostor no seu trabalho. Ele não vai dar o dízimo da hortelã e do cominho e negligenciar a misericórdia e o julgamento ou os aspectos mais importantes da lei. Ele não aspira a piedade, negligenciando a moralidade. Mas deixa todos os pecados e guarda todos os estatutos de Deus; embora não o faça com perfeição (a não ser naquilo que se refere ao desejo e ao esforço), contudo, o faz com sinceridade, não se permitindo infringir nenhum deles. Agora ele se deleita na Palavra, dedica-se à oração, abre a sua mão e a sua alma aos famintos. Rompe com o pecado praticando a justiça, e afasta as suas iniquidades demonstrando misericórdia para com os pobres (Daniel 4:27). Tem uma boa consciência, desejando em tudo viver honestamente (Hebreus 13:18), evitando ofender a Deus e aos homens.
         Aqui, novamente, você encontrará as deficiências de muitos que se consideram bons cristãos. São parciais na lei (Malaquias 2:9) e cumprem os deveres insignificantes e fáceis da religião, mas não fazem o trabalho completo. São como um bolo meio assado e meio cru. Talvez os ache corretos nas suas palavras, pontuais em seus feitos, mas não se exercitam na santidade; não se examinam a si mesmos e não governam os seus corações. Talvez você os veja regularmente na igreja; mas acompanhe-os ao convívio familiar e ali vai constatar pouco mais que uma mente mundana; ou, se cumprirem os deveres familiares, acompanhe-os aos seus quartos e lá verificará que suas almas são mal cuidadas. Talvez tenham a aparência de religiosos, mas não reprimem as suas línguas, e, portanto, toda a sua religião é vã (Tiago 1:26). Talvez pratiquem a oração íntima e a familiar, mas siga-os até o balcão de suas lojas e vai encontrar neles o hábito de mentir ou alguma maneira elegante de enganar. Portanto, o hipócrita não é uma pessoa obediente.
         6. As coisas que deixamos ao sermos convertidos são: pecado, Satanás, o mundo e nossa justiça própria.
         (1). Deixamos o pecado. Quando alguém se converte, passa a viver em eterna inimizade com o pecado; sim, com todo o pecado, mas, acima de tudo, os com seus próprios pecados e, especialmente, com seus pecados mais íntimos. O pecado passa a ser objeto da sua indignação. O seu pecado aumenta as suas tristezas. É o pecado que o transpassa e o fere; ele o sente como um espinho a penetrar-lhe o lado, como uma ferroada no olho. Ele geme e luta com o pecado e clama — não de modo formal, mas sinceramente: "Miserável homem que eu sou!" Nenhum outro peso o torna tão impaciente como o peso do seu pecado. Se Deus lhe concedesse o direito de escolher, escolheria qualquer outra aflição para se ver livre do pecado; sente-o como uma pedra cortante no sapato, picando e ferindo o seu pé à medida que anda.
         Antes da sua conversão, o cristão tinha pensamentos levianos a respeito do pecado. Ele o acariciava em seu seio, como Urias acariciava a sua cordeirinha; ele o nutria e o mesmo crescia juntamente consigo, comendo como se fosse de sua própria carne, e bebendo do seu próprio copo. Ele o abrigava em seu seio, como a um filho. Mas quando Deus abriu os seus olhos através da conversão, atirou o pecado para longe, com repugnância, da mesma forma que faria com um sapo asqueroso, que, na escuridão, houvesse apertado em seu peito, imaginando que fosse um belo e inofensivo pássaro.
         Quando um homem é convertido torna-se profundamente convencido não só do perigo, mas também da corrupção do pecado; e quão fervoroso ele se torna para com Deus, a fim de ser purificado! Ele sente aversão por si mesmo por causa de seus pecados. Corre para Cristo e lança-se na fonte aberta por Ele para o pecado e a impureza. Se ele cair, que agitação haverá ali para que fique limpo novamente! Ele não terá descanso enquanto não se refugiar na Palavra, lavando-se, esfregando-se, enxaguando-se na fonte infinita e esforçando-se para purificar-se de toda a imundícia da carne e do espírito.
         O verdadeiro convertido está sinceramente engajado contra o pecado. Luta com ele, combate contra ele; é, também, frequentemente derrotado, mas, enquanto houver vida em seu corpo, jamais abandonará a causa nem deporá as armas. Não vai reconciliar-se com o pecado, não vai dar-lhe abrigo. Pode esquecer-se de seus outros inimigos, pode apiedar-se deles e orar por eles; mas com o pecado é implacável, está empenhado em exterminá-lo. Ele persegue-o como se o fizesse em favor de uma vida preciosa; não terá misericórdia do seu olho nem poupará a sua mão, ainda que seja a mão direita ou o olho direito. Pode ser um pecado proveitoso, muito agradável à sua natureza ou importante para sustentar a estima dos seus amigos mundanos; ainda assim, preferirá lançar o seu lucro na sarjeta, ver o seu crédito ruir ou a flor do seu prazer murchar na sua mão, a permitir-se caminhar qualquer trilha conhecida de pecado. Não será indulgente, não será tolerante. Ele se lança contra o pecado onde quer que o encontre, e o desaprova com esta mal acolhida saudação. "Ó meu inimigo, eu o achei?!"
         Leitor, você tem posto a sua consciência em ação enquanto está analisando estas linhas? Tem ponderado estas coisas em seu coração? Tem examinado o livro intimamente, para ver se estas coisas são assim? Caso contrário, leia-o novamente e faça a sua consciência falar se de fato é ou não é assim com você.
         Você tem crucificado sua carne com suas paixões e concupiscências? Você não apenas tem confessado, mas também se tem afastado dos seus pecados — todo pecado em seus ardentes desejos — e a prática regular de cada pecado deliberado e obstinado de sua vida? Se não tiver feito isso, você ainda não é convertido. À medida que lê, acaso a consciência não se lança na sua face e lhe diz que você vive de forma mentirosa em seu proveito próprio? Que você esta usando o engano no seu chamado? Que há, de certa maneira, um capricho secreto no qual você está vivendo? Então, deixe de enganar-se a si mesmo. "Você vive no fel da amargura e na prisão do pecado".
         Porventura a sua língua desenfreada, o seu vício de apetite, as suas más companhias, a sua negligência na oração, na leitura e no ouvir da Palavra de Deus não testemunham agora contra você dizendo: "Somos as suas obras e o seguiremos"? Ou, se não lhe acertei em cheio, o conselheiro interior não lhe diz que há tais e tais maneiras que você sabe serem más e que, contudo, por causa de algum aspecto carnal, acaba tolerando em si mesmo? Se este for o seu caso, então não está regenerado até hoje, e tem de ser transformado ou condenado.

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