Joseph Alleine
(3).
A vida e a prática. O novo homem segue um novo curso (Efésios 2:2-3). A sua
conversação é celestial (Filipenses 3:20). Mal Cristo o chama, através de Sua
graça eficaz, imediatamente ele se torna um seguidor. Após dar-lhe um novo
coração e escrever a Sua lei em sua mente, daí em diante o homem anda nos Seus
estatutos e guarda os Seus mandamentos.
Embora
o pecado possa habitar nele — um hóspede verdadeiramente enfadonho e
indesejável — já não tem domínio sobre ele. Tem agora os frutos da santidade e ainda
que cometa muitos erros, a lei e a vida de Jesus são os seus padrões e nutrem
nele um sincero respeito por todos os mandamentos de Deus. Ele se sensibiliza
ante os mínimos pecados e os menores deveres. As suas próprias enfermidades —
as quais ele não pode evitar, mesmo se quisesse — são o peso da sua alma e são
como ciscos nos olhos de alguém, que apesar de pequenos o perturbam bastante.
(Ó leitor, será que você lê isso e nunca se detêm para examinar-se a si mesmo?)
O
verdadeiro convertido não apresenta um comportamento na igreja e outro em casa.
Não é um santo quando está de joelhos e um impostor no seu trabalho. Ele não
vai dar o dízimo da hortelã e do cominho e negligenciar a misericórdia e o
julgamento ou os aspectos mais importantes da lei. Ele não aspira a piedade,
negligenciando a moralidade. Mas deixa todos os pecados e guarda todos os
estatutos de Deus; embora não o faça com perfeição (a não ser naquilo que se
refere ao desejo e ao esforço), contudo, o faz com sinceridade, não se
permitindo infringir nenhum deles. Agora ele se deleita na Palavra, dedica-se à
oração, abre a sua mão e a sua alma aos famintos. Rompe com o pecado praticando
a justiça, e afasta as suas iniquidades demonstrando misericórdia para com os
pobres (Daniel 4:27). Tem uma boa consciência, desejando em tudo viver
honestamente (Hebreus 13:18), evitando ofender a Deus e aos homens.
Aqui,
novamente, você encontrará as deficiências de muitos que se consideram bons
cristãos. São parciais na lei (Malaquias 2:9) e cumprem os deveres
insignificantes e fáceis da religião, mas não fazem o trabalho completo. São
como um bolo meio assado e meio cru. Talvez os ache corretos nas suas palavras,
pontuais em seus feitos, mas não se exercitam na santidade; não se examinam a
si mesmos e não governam os seus corações. Talvez você os veja regularmente na
igreja; mas acompanhe-os ao convívio familiar e ali vai constatar pouco
mais que uma mente mundana; ou, se cumprirem os deveres familiares,
acompanhe-os aos seus quartos e lá verificará que suas almas são mal cuidadas.
Talvez tenham a aparência de religiosos, mas não reprimem as suas línguas, e,
portanto, toda a sua religião é vã (Tiago 1:26). Talvez pratiquem a oração
íntima e a familiar, mas siga-os até o balcão de suas lojas e vai encontrar neles
o hábito de mentir ou alguma maneira elegante de enganar. Portanto, o hipócrita
não é uma pessoa obediente.
6.
As coisas que deixamos ao sermos convertidos são: pecado, Satanás, o mundo e
nossa justiça própria.
(1).
Deixamos o pecado. Quando alguém se converte, passa a viver em eterna inimizade
com o pecado; sim, com todo o pecado, mas, acima de tudo, os com seus próprios
pecados e, especialmente, com seus pecados mais íntimos. O pecado passa a ser
objeto da sua indignação. O seu pecado aumenta as suas tristezas. É o pecado
que o transpassa e o fere; ele o sente como um espinho a penetrar-lhe o lado,
como uma ferroada no olho. Ele geme e luta com o pecado e clama — não de modo
formal, mas sinceramente: "Miserável homem que eu sou!" Nenhum outro
peso o torna tão impaciente como o peso do seu pecado. Se Deus lhe concedesse o
direito de escolher, escolheria qualquer outra aflição para se ver livre do
pecado; sente-o como uma pedra cortante no sapato, picando e ferindo o seu pé à
medida que anda.
Antes
da sua conversão, o cristão tinha pensamentos levianos a respeito do pecado.
Ele o acariciava em seu seio, como Urias acariciava a sua cordeirinha; ele o
nutria e o mesmo crescia juntamente consigo, comendo como se fosse de sua
própria carne, e bebendo do seu próprio copo. Ele o abrigava em seu seio, como
a um filho. Mas quando Deus abriu os seus olhos através da conversão, atirou o
pecado para longe, com repugnância, da mesma forma que faria com um sapo
asqueroso, que, na escuridão, houvesse apertado em seu peito, imaginando que
fosse um belo e inofensivo pássaro.
Quando
um homem é convertido torna-se profundamente convencido não só do perigo, mas
também da corrupção do pecado; e quão fervoroso ele se torna para com Deus, a
fim de ser purificado! Ele sente aversão por si mesmo por causa de seus
pecados. Corre para Cristo e lança-se na fonte aberta por Ele para o pecado e a
impureza. Se ele cair, que agitação haverá ali para que fique limpo novamente!
Ele não terá descanso enquanto não se refugiar na Palavra, lavando-se,
esfregando-se, enxaguando-se na fonte infinita e esforçando-se para
purificar-se de toda a imundícia da carne e do espírito.
O
verdadeiro convertido está sinceramente engajado contra o pecado. Luta com ele,
combate contra ele; é, também, frequentemente derrotado, mas, enquanto houver
vida em seu corpo, jamais abandonará a causa nem deporá as armas. Não vai
reconciliar-se com o pecado, não vai dar-lhe abrigo. Pode esquecer-se de seus
outros inimigos, pode apiedar-se deles e orar por eles; mas com o pecado é
implacável, está empenhado em exterminá-lo. Ele persegue-o como se o fizesse em
favor de uma vida preciosa; não terá misericórdia do seu olho nem poupará a sua
mão, ainda que seja a mão direita ou o olho direito. Pode ser um pecado
proveitoso, muito agradável à sua natureza ou importante para sustentar a
estima dos seus amigos mundanos; ainda assim, preferirá lançar o seu lucro na
sarjeta, ver o seu crédito ruir ou a flor do seu prazer murchar na sua mão, a
permitir-se caminhar qualquer trilha conhecida de pecado. Não será indulgente,
não será tolerante. Ele se lança contra o pecado onde quer que o encontre, e o
desaprova com esta mal acolhida saudação. "Ó meu inimigo, eu o
achei?!"
Leitor,
você tem posto a sua consciência em ação enquanto está analisando estas linhas?
Tem ponderado estas coisas em seu coração? Tem examinado o livro intimamente,
para ver se estas coisas são assim? Caso contrário, leia-o novamente e faça a
sua consciência falar se de fato é ou não é assim com você.
Você
tem crucificado sua carne com suas paixões e concupiscências? Você não apenas
tem confessado, mas também se tem afastado dos seus pecados — todo pecado em
seus ardentes desejos — e a prática regular de cada pecado deliberado e
obstinado de sua vida? Se não tiver feito isso, você ainda não é convertido. À
medida que lê, acaso a consciência não se lança na sua face e lhe diz que você
vive de forma mentirosa em seu proveito próprio? Que você esta usando o engano
no seu chamado? Que há, de certa maneira, um capricho secreto no qual você está
vivendo? Então, deixe de enganar-se a si mesmo. "Você vive no fel da
amargura e na prisão do pecado".
Porventura
a sua língua desenfreada, o seu vício de apetite, as suas más companhias, a sua
negligência na oração, na leitura e no ouvir da Palavra de Deus não testemunham
agora contra você dizendo: "Somos as suas obras e o seguiremos"? Ou,
se não lhe acertei em cheio, o conselheiro interior não lhe diz que há tais e
tais maneiras que você sabe serem más e que, contudo, por causa de algum
aspecto carnal, acaba tolerando em si mesmo? Se este for o seu caso, então não
está regenerado até hoje, e tem de ser transformado ou condenado.
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