DISCURSOS DOS AMIGOS DE JOB
Não é, de maneira nenhuma o nosso propósito realizar um exame minucioso das extensas discussões que aconteceram entre Job e os seus amigos, discussões que abrangem mais de 29 capítulos. Só citaremos alguns fragmentos dos discursos dos três amigos, o qual possibilitará ao leitor formar uma ideia do verdadeiro terreno no qual se acham estes homens enganados.
ELIFAZ E A EXPERIÊNCIA
ELIFAZ E A EXPERIÊNCIA
Elifaz é o primeiro a tomar a palavra. “Então respondeu Elifaz o temanita, e disse: Se intentarmos falar-te, enfadar-te-ás? Mas quem poderia conter as palavras? Eis que ensinaste a muitos, e tens fortalecido as mãos fracas. As tuas palavras firmaram os que tropeçavam e os joelhos desfalecestes tens fortalecido. Mas agora, que se trata de ti, te enfadas; e tocando-te a ti, te perturbas. Porventura não é o teu temor de Deus a tua confiança, e a tua esperança a integridade dos teus caminhos? Lembra-te agora qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos? Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade, e semeiam mal, segam o mesmo.” (Jb 4:1-8 ACF) Assim também: “Bem vi eu o louco lançar raízes; mas logo amaldiçoei a sua habitação” (Jb 5:3 ACF). E também: “Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus castiga; não desprezes, pois, o castigo do Todo-Poderoso” (Jb 5:17).
A partir destas declarações resulta evidente que Elifaz pertencia a essa classe de gente que gosta de arguir baseando-se na sua própria experiência. A sua máxima era: “Eu vi.” Agora bem, é possível que o que «tenhamos visto», seja o que for, seja absolutamente verdadeiro. Mas é um engano garrafal fazer da nossa experiência individual uma regra geral; não obstante, milhares têm esta inclinação. O que tinha que ver, por exemplo, a experiência de Elifaz com a situação de Jó?
Talvez ele jamais se tenha encontrado com outro caso exatamente igual ao de Jó; e de modo que, se tivesse havido só um traço de disparidade entre os dois casos, todo o argumento apoiado na experiência de um deles, não teria sido de nenhuma utilidade para o outro. E isto se fica claro no acontecido com Job: assim que Elifaz terminou de falar, Job —o qual não lhe tinha prestado a menor atenção— prosseguiu falando das suas próprias aflições, intercalando palavras de justificação própria e amargas recriminações contra os intuitos de Deus (Jó caps. 6 e 7).
BILDADE E A TRADIÇÃO
Bildade é o segundo a falar. Ele coloca-se sobre um terreno completamente diferente do seu amigo. Não menciona nem uma só vez as suas experiências nem o que fosse resultado de sua própria observação. Apela à antiguidade. “Porque, eu te peço, pergunta agora às gerações passadas, e prepara-te para a inquirição de seus pais. Porque nós somos de ontem, e nada sabemos; porquanto os nossos dias sobre a terra são como a sombra. Porventura não te ensinarão eles, e não te falarão, e do seu coração não tirarão razões?” (Jó 8:8-10).
Agora bem, devemos admitir que Bildade nos conduz a um campo muito mais vasto que o do Elifaz. A autoridade de uma multidão de «pais» tem muito mais peso e respeitabilidade que a experiência de um simples indivíduo. Por outro lado, deixar-se guiar pela voz de uma multidão de homens sábios e eruditos parece muito mais modesto que fazê-lo pela luz da experiência de tão somente de um deles. Mas o assunto é que nem a experiência nem a tradição servirão de nada. A primeira, até onde chega, pode ser verdadeira; mas com muita dificuldade acharemos a duas pessoas cujas experiências coincidam de forma exata. Quanto à última, é uma torrente de confusão; pois um pai difere de outro, e nada pode ser mais volúvel e incerto que a voz da tradição ou a autoridade dos pais.
Em consequência, como era de esperar-se, as palavras do Bildade não afetaram mais Jó do que as de Elifaz. Um estava tão longe da verdade como o outro. Se eles tivessem apelado à revelação divina, quão diferentes teriam sido os resultados! A verdade de Deus é a única regra, a única grande autoridade. É segundo a sua medida que tudo deve ser medido; e todos, mais cedo ou mais tarde, haverão de inclinar-se sob a sua autoridade. Ninguém tem o direito de estabelecer a sua experiência como regra para os demais. E se nenhum homem tem este direito, tampouco o tem uma multidão de homens. Por outras palavras, é a voz de Deus — não a voz do homem — a que nos deve governar. Nem a experiência nem a tradição, senão a Palavra de Deus sozinha é a que pronunciará o juízo no dia último. Fato solene e importante! Não o percamos nunca de vista! Se Bildade e Elifaz tivessem discernido isto, as suas palavras teriam exercido muita mais influência no seu aflito amigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário