quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O AMIGO DESPREZADO (7)




Spurgeon
  “...e Dele não fizemos caso” (Isaías 53:3) (continuação)
        Venham, ainda, as tâmaras da Arábia e os ventos impregnados de odores aromáticos do Ceilão, e que o incenso de substâncias fragrantes, de olíbano e mirra, exale diante dele; eis que suas narinas permanecem tão imóveis quanto uma estátua, e seus lábios não manifestam nenhum prazer. Sim, você pode trazer auxílios mais poderosos, como o estrondo de uma avalanche, o bramido de cataratas, a fúria do oceano, o uivo dos ventos, o ribombar de um terremoto e o reboo de um trovão: ainda que todos esses sons unidos de uma só vez ressoassem, não levantariam o dormente de seu divã fatal. Está morto, e este fato desvenda todo o mistério. Assim também nós, agora avivado pelo Espírito Santo, estivemos um dia, mortos no pecado e “Dele não fizemos caso”. Eis aí a raiz de todos os nossos delitos, a origem de todos os nossos delitos, a origem de toda a nossa iniquidade.
        As causas secundárias da loucura que cometemos estão logo abaixo da superfície e requerem apenas um momento de observação. O amor próprio contribuiu em muito para que maltratássemos o “amigo dos pecadores”. A presunção com nossos méritos próprios fez-nos indiferentes às reivindicações daquele que buscava para nós uma justiça perfeita. “Os são não precisam de médico” (Marcos 2:17): nos sentíamos insultados pela linguagem de um evangelho que nos falava como se fôssemos seres indignos. A cruz pode exercer pouco poder onde o orgulho oculta a necessidade de perdão; um sacrifício é pouco valorizado quando não estamos conscientes de que precisamos dele. Em nossa opinião, éramos as criaturas mais nobres; a oração do fariseu poderia sinceramente provir de nós. Ganhamos algumas ninharias aqui e ali desonestamente mas, no geral, pensávamos que estávamos nos tornando “ricos e abastados” (Apocalipse 3:17), e mesmo quando sob a poderosa voz da lei éramos defrontados com nossa pobreza, ainda esperávamos, através da obediência futura, reverter a nossa sentença, e estávamos totalmente relutantes em aceitar a salvação que exigia uma renúncia de todos os méritos e uma confiança simples no Redentor crucificado. Jamais deixaríamos a nossa lida nem abandonaríamos a “teia de aranha” do esforço próprio, até que todo o trabalho nos fosse tirado das mãos e nossos dedos se tornassem incapazes; somente então nos vestiríamos com a justificação pela graça. Ninguém pode pensar muito em Cristo até que pense pouco de si mesmo. Quanto mais baixa for a visão de nós mesmos, tanto mais elevados serão os pensamentos sobre Jesus; somente quando o aniquilamento próprio for completo, o Filho de Deus poderá ser “tudo em todos”.
        A vanglória e o amor-próprio são férteis progenitores do mal. Crisóstomo chama o amor-próprio de uma das três grandes armadilhas do maligno; e Bernardo o denomina “uma flecha que perfura a alma e a mata; um inimigo insensível e astuto, não percebido”. Sob a má influência deste poder nós comumente amamos mais quem nos causa mais danos, pois o adulador que alimenta nossa vaidade com clamores agradáveis de “paz, paz”, é muita mais considerado do que o bendito Jesus, que com seriedade nos adverte de nosso estado doentio. Mas, quando a autoconfiança é retirada – quando a alma é despida pela convicção de pecado, quando a luz do espírito revela o estado repugnante do coração, quando o poder da criatura fracassa, quão precioso é Jesus!













Nenhum comentário: