segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O AMIGO DESPREZADO (10)




Spurgeon
  “...e Dele não fizemos caso” (Isaías 53:3) (continuação)
        III. Chegamos agora à parte prática desta meditação e consideraremos as emoções despertadas por dela.
        Primeiro, vemos que a profunda tristeza penitente nos fica bem. Tal qual a lágrima é a melhor rega para o túmulo, e as cinzas são a coroa certa para a cabeça de luto, assim os sentimentos de penitência são a maneira certa de lembrar  uma conduta que abandonamos agora e repugnamos. Não conseguimos entender o cristianismo daqueles que são capazes de narrar a história de seu passado com satisfação. Já vimos pessoas recontarem seus crimes com tanto prazer quanto um velho soldado descreve suas façanhas na guerra. Tais pessoas chegam a exagerar seu mal para tornar seus casos mais dignos de admiração, e a gloriar-se de seus pecados do passado como se fossem ornamentos de sua nova vida. Para estes, repetimos as palavras de Paulo aos romanos: “Agora vos envergonhais” (Romanos 6:21). Há ocasiões em que é próprio, benéfico e louvável que o convertido descreva a triste história de sua vida anterior; assim a graça é glorificada e o poder divino exaltado, e a história de sua experiência pode servir para despertar fé em ou tr4as pessoas que se julgam abomináveis demais; é necessário, porém, que isto seja feito num espírito correto, que expresse um sincero arrependimento e pesar. Não objetamos a que se narre os feitos do estado anterior à regeneração mas, sim, o modo como isso geralmente ocorre. Se o pecado tem o seu monumento, que seja num monte de pedras arremeçadas pelas mãos pelas mãos da excomunhão – não um mausoléu erigido por mãos de ternura. Vamos dar-lhe o enterro de Absalão – não permitindo que descanse no sepulcro real.
        A libação de lágrimas não deve ser a única oferta no santuário de Jesus; vamos também exultar com alegria indizível. Se temos de lamentar pelos pecados cometidos, quanto mais havemos de nos alegrar pelo seu perdão! Se o nosso estado anterior enche-nos os olhos de lágrimas, será que o novo estado em que nos encontramos não fará nossos corações pularem de alegria? Sim, precisamos e iremos louvar o Senhor pela Sua graça soberana e incomparável. A nós cabe entoar-lhe um canto eterno pela mudança de nosso estado; Ele nos deu discernimento, e fê-lo por mera e imerecida misericórdia, uma vez que, assim como outros, “Dele não fizemos caso”. Certamente Jesus não nos elegeu para a alta honra de sermos um com Ele por causa de nosso amor por Ele, pois de fato confessamos exatamente o oposto. Dizem que, ao perguntarem ao santificado antepassado deste escritor, o Dr. Rippon, por que Deus escolheu Seu povo, ele respondeu: “Porque o escolheu”, e quando repetiu-se a pergunta, ele novamente respondeu: “Porque o escolheu, e se me perguntarem isso mais cem vezes, não poderei dar-lhes outra razão”. “Sim, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado” (Mateus 11:26). Que a nossa gratidão pela graça divina redunde em louvores; que todo o nosso ser entoe honras a Ele, o qual nos elegeu de modo soberano, nos redimiu por sangue e nos chamou pela graça.


















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