Spurgeon
“...e Dele não fizemos caso” (Isaías 53:3)
(continuação)
III.
Chegamos agora à parte prática desta meditação e consideraremos as emoções
despertadas por dela.
Primeiro,
vemos que a profunda tristeza penitente nos fica bem. Tal qual a lágrima é a
melhor rega para o túmulo, e as cinzas são a coroa certa para a cabeça de luto,
assim os sentimentos de penitência são a maneira certa de lembrar uma conduta que abandonamos agora e
repugnamos. Não conseguimos entender o cristianismo daqueles que são capazes de
narrar a história de seu passado com satisfação. Já vimos pessoas recontarem
seus crimes com tanto prazer quanto um velho soldado descreve suas façanhas na
guerra. Tais pessoas chegam a exagerar seu mal para tornar seus casos mais
dignos de admiração, e a gloriar-se de seus pecados do passado como se fossem
ornamentos de sua nova vida. Para estes, repetimos as palavras de Paulo aos
romanos: “Agora vos envergonhais” (Romanos 6:21). Há ocasiões em que é próprio,
benéfico e louvável que o convertido descreva a triste história de sua vida
anterior; assim a graça é glorificada e o poder divino exaltado, e a história
de sua experiência pode servir para despertar fé em ou tr4as pessoas que se
julgam abomináveis demais; é necessário, porém, que isto seja feito num
espírito correto, que expresse um sincero arrependimento e pesar. Não objetamos
a que se narre os feitos do estado anterior à regeneração mas, sim, o modo como
isso geralmente ocorre. Se o pecado tem o seu monumento, que seja num monte de
pedras arremeçadas pelas mãos pelas mãos da excomunhão – não um mausoléu
erigido por mãos de ternura. Vamos dar-lhe o enterro de Absalão – não permitindo
que descanse no sepulcro real.
A libação de
lágrimas não deve ser a única oferta no santuário de Jesus; vamos também
exultar com alegria indizível. Se temos de lamentar pelos pecados cometidos,
quanto mais havemos de nos alegrar pelo seu perdão! Se o nosso estado anterior
enche-nos os olhos de lágrimas, será que o novo estado em que nos encontramos
não fará nossos corações pularem de alegria? Sim, precisamos e iremos louvar o
Senhor pela Sua graça soberana e incomparável. A nós cabe entoar-lhe um canto
eterno pela mudança de nosso estado; Ele nos deu discernimento, e fê-lo por
mera e imerecida misericórdia, uma vez que, assim como outros, “Dele não
fizemos caso”. Certamente Jesus não nos elegeu para a alta honra de sermos um
com Ele por causa de nosso amor por Ele, pois de fato confessamos exatamente o
oposto. Dizem que, ao perguntarem ao santificado antepassado deste escritor, o
Dr. Rippon, por que Deus escolheu Seu povo, ele respondeu: “Porque o escolheu”,
e quando repetiu-se a pergunta, ele novamente respondeu: “Porque o escolheu, e
se me perguntarem isso mais cem vezes, não poderei dar-lhes outra razão”. “Sim,
ó Pai, porque assim foi do Teu agrado” (Mateus 11:26). Que a nossa gratidão
pela graça divina redunde em louvores; que todo o nosso ser entoe honras a Ele,
o qual nos elegeu de modo soberano, nos redimiu por sangue e nos chamou pela
graça.
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