Spurgeon
“...e Dele não fizemos caso” (Isaías 53:3)
(continuação)
Como o
marujo prestes a naufragar agarra-se à tábua flutuante, o moribundo olha para o
médico, e o criminoso valoriza a clemência – assim estamos o libertador das
nossas almas como Príncipe dos reis da terra. A repugnância de si mesmo
proporciona uma paixão ardente pelo “Amante de nossas almas” cheio de graça; a
autocomplacência esconde de nós Sua glória.
O amor ao
mundo também tem sua participação no mau uso deste querido amigo. Quando Ele
bateu na porta, nós Lhe recusamos a entrada porque outro já havia entrado. Já
tínhamos escolhido outro esposo a quem basicamente entregamos o coração. “Dá-me
riquezas”, diz alguém, Jesus responde: “Eis-me aqui; Eu sou melhor que as
riquezas do Egito, e vale mais a pena passar vergonha por mim do que desejar
tesouros escondidos”. Mas o outro replica: “Tu não és a riqueza que procuro;
não busco uma riqueza assim sem substância, ó Jesus! Não me importa uma riqueza
para o futuro – desejo uma riqueza para o presente; quero um tesouro em que
posso por a mão agora; quero ouro para comprar uma casa, uma fazenda, bens;
anseio por joias brilhantes que adornem meus dedos; não te peço aquilo que está
por vir; pensarei nisto depois que os anos passarem”.
Outro de nós
suplica: “Eu peço por saúde, pois estou doente”. O melhor dos médicos aparece e
gentilmente promete: “Vou curar a sua alma, tirarei a lepra e o tornarei são”. “Não,
não”, respondemos, “não foi isso o que pedi, ó Jesus! Peço um corpo forte, para
que eu possa correr como Asael ou lutar como Hércules; quero me livrar da dor
física, mas não te peço saúde espiritual, porque não é isso que quero”. Um
terceiro implora por felicidade: “Ouve-me”, disse Jesus, “Meus caminhos são
agradáveis e minhas veredas tranquilas”. “Não é essa alegria que procuro”,
replicamos precipitadamente. “Quero um cálice transbordante, para saboreá-lo
deliciosamente; tenho paixão por noitadas festivas e dias alegres; quero
danças, festanças e outros prazeres comuns deste mundo; reserve o Seu porvir
para os fanáticos – que eles vivam de esperança; eu prefiro este mundo e o
presente”.
Assim cada
um de nós, a seu modo, dirigiu seu amor para coisas terrenas e desprezou as do
alto. Certamente não foi um pintor malvado que rascunhou nossas vidas com seu
lápis de desenho: “O intérprete levou-os novamente, e os colocou numa sala onde
havia um homem que não podia olhar para outro lado senão para baixo e segurava
na mão um escovão; acima dele havia outro com uma coroa celestial na mão; este
lhe ofereceu a coroa em troca do escovão; o homem, porém, sem olhar para cima
nem prestar a menor atenção, varreu para junto de si a palha e o pó”.
Enquanto
amamos o mundo, “o amor do Pai não está em nós” (1 João 2:15), nem o do Filho
Jesus. Não se pode servir a dois senhores. O mundo e Jesus jamais estarão de
acordo. Precisamos poder cantar a primeira parte da estrofe de Madame Guion,
antes de podermos concordar com sinceridade com a segunda:
Adeus!
Prezares vãos daqui,
Esportes
e alegrias mil,
Pra
mim não têm sabor.
Felicidade,
só na cruz,
O
resto, vi com meu Jesus,
É
lixo sem valor.
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