quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O AMIGO DESPREZADO (6)




Spurgeon
  “...e Dele não fizemos caso” (Isaías 53:3) (continuação)

        II.     Iniciaremos agora um exame das causas ocultas deste pecado. Uma vez curada a doença, pode ser útil saber sua origem para servir a outros e beneficiar a si mesmo.
        Nossa frieza em relação ao Salvador resultou primeiramente do mal natural de nossos corações. Podemos discernir claramente por que o dissoluto e o perverso têm pouco apreço por pureza e excelência: a mesma razão pode ser dada do nosso desprezo pela encarnação da virtude na pessoa de nosso Senhor Jesus. O pecado é loucura que desqualifica a mente para o julgamento sóbrio, cegueira que torna a alma incapaz de apreciar a beleza moral; é de fato uma perversão de todas as capacidades em tal escala que, sob sua terrível influência, os homens “ao mal chamam bem e ao bem, mal; fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce por amargo” (Isaías 5:20). Para nós em condição caída, demônios muitas vezes parecem ser mais justos do que anjos; confundimos os portões do inferno com os portais da glória e preferimos as mentiras camufladas de Satanás, às verdades eternas do Altíssimo. Vingança, luxúria, ambição, orgulho e vontade-própria são mui frequentemente exaltados como os deuses da idolatria dos homens, enquanto santidade, paz, contentamento e humildade são vistos como indignos de uma consideração mais séria. Ah, pecado, o que foi que fizeste! Ou melhor, o que desfizeste! Não te contentaste em roubar à humanidade a coroa, desviá-la de seu reino feliz, estragar suas vestes reais e saquear seu tesouro; tens feito muito mais do que isto! Não basta degradar e desonrar; feres tuas vítimas, cegas-lhes os olhos, fechas seus ouvidos, confundes seu julgamento e amordaças sua consciência; sim, o veneno de tua flecha malévola contamina a fonte com morte. Tua malícia penetrou o coração da humanidade e, por conseguinte, encheu suas artérias com corrupção e seus ossos com depravação. Sim, monstro, te tornaste um assassino, pois nos deixaste mortos em transgressões e pecados!
        Este último termo desvenda todo o mistério, pois se estamos espiritualmente mortos, naturalmente é impossível conhecer e reverenciar o Príncipe da glória. Acaso um morto pode ser levado ao êxtase ou pode seu corpo ser motivado à contemplação sublime? Tente estimular um corpo sem vida, enquanto ele ainda não virou banquete para os vermes e a moldura ainda está completa, embora sem vida. Traga para perto dele o alaúde e harpa, deixe que melodias suaves e harmonias lindas tentem induzir esse homem ao prazer: ele não vai sorrir com a melodia harmoniosa, nem se comoverá com a cadência melancólica; sim, ainda que a orquestra do redentor extravasasse com fulgor sua música, ele se manteria surdo ao encanto celestial.
        Você quer assaltar a cidade por outro portão? Então, coloque perante os olhos desse ser as mais lindas flores colhidas desde que as plantas do Éden foram criadas. Será que ele atentará para a delicadeza da rosa ou a brancura do lírio? Não, esse homem não reconhece a ternura delas mais do que as águas do Nilo percebem a flor-de-lótus que sustenta em seu leito.
(continua)
       


Nenhum comentário: