Spurgeon
“...e
Dele não fizemos caso” (Isaías 53:3) (continuação)
II. Iniciaremos
agora um exame das causas ocultas deste pecado. Uma vez curada a doença, pode
ser útil saber sua origem para servir a outros e beneficiar a si mesmo.
Nossa frieza em relação ao Salvador
resultou primeiramente do mal natural de nossos corações. Podemos discernir
claramente por que o dissoluto e o perverso têm pouco apreço por pureza e
excelência: a mesma razão pode ser dada do nosso desprezo pela encarnação da
virtude na pessoa de nosso Senhor Jesus. O pecado é loucura que desqualifica a
mente para o julgamento sóbrio, cegueira que torna a alma incapaz de apreciar a
beleza moral; é de fato uma perversão de todas as capacidades em tal escala
que, sob sua terrível influência, os homens “ao mal chamam bem e ao bem, mal;
fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce
por amargo” (Isaías 5:20). Para nós em condição caída, demônios muitas vezes
parecem ser mais justos do que anjos; confundimos os portões do inferno com os
portais da glória e preferimos as mentiras camufladas de Satanás, às verdades
eternas do Altíssimo. Vingança, luxúria, ambição, orgulho e vontade-própria são
mui frequentemente exaltados como os deuses da idolatria dos homens, enquanto
santidade, paz, contentamento e humildade são vistos como indignos de uma
consideração mais séria. Ah, pecado, o que foi que fizeste! Ou melhor, o que
desfizeste! Não te contentaste em roubar à humanidade a coroa, desviá-la de seu
reino feliz, estragar suas vestes reais e saquear seu tesouro; tens feito muito
mais do que isto! Não basta degradar e desonrar; feres tuas vítimas, cegas-lhes
os olhos, fechas seus ouvidos, confundes seu julgamento e amordaças sua
consciência; sim, o veneno de tua flecha malévola contamina a fonte com morte.
Tua malícia penetrou o coração da humanidade e, por conseguinte, encheu suas
artérias com corrupção e seus ossos com depravação. Sim, monstro, te tornaste
um assassino, pois nos deixaste mortos em transgressões e pecados!
Este último termo desvenda todo o
mistério, pois se estamos espiritualmente mortos, naturalmente é impossível
conhecer e reverenciar o Príncipe da glória. Acaso um morto pode ser levado ao
êxtase ou pode seu corpo ser motivado à contemplação sublime? Tente estimular
um corpo sem vida, enquanto ele ainda não virou banquete para os vermes e a
moldura ainda está completa, embora sem vida. Traga para perto dele o alaúde e
harpa, deixe que melodias suaves e harmonias lindas tentem induzir esse homem
ao prazer: ele não vai sorrir com a melodia harmoniosa, nem se comoverá com a
cadência melancólica; sim, ainda que a orquestra do redentor extravasasse com
fulgor sua música, ele se manteria surdo ao encanto celestial.
Você quer assaltar a cidade por outro
portão? Então, coloque perante os olhos desse ser as mais lindas flores
colhidas desde que as plantas do Éden foram criadas. Será que ele atentará para
a delicadeza da rosa ou a brancura do lírio? Não, esse homem não reconhece a
ternura delas mais do que as águas do Nilo percebem a flor-de-lótus que
sustenta em seu leito.
(continua)
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