Spurgeon
“...e
Dele não fizemos caso” (Isaías 53:3) (continuação)
Ó, Cordeiro
de Deus! Nossa negligência na oração nos leva a confessar que houve um tempo em
que não víamos em Ti aparência nem formosura.
Ademais, o
fato de evitarmos o povo de Deus, confirma a verdade humilhante. Nós que agora
fazemos parte do exército sagrado dos eleitos de Deus, nos alegrando na amizade
dos justos, éramos outrora “estrangeiros e peregrinos”. A língua de Canaã era
aos nossos ouvidos um gaguejar sem significado, do qual escarnecíamos, uma
gíria grosseira que não tentávamos imitar, ou uma “língua estranha” além da
nossa capacidade de interpretação. Os herdeiros da vida eram os desprezados por
nós como “objetos de barro, obra das mãos de oleiro”, ou nos retirávamos da companhia
deles cientes de que não éramos companheiros dignos dos “nobres filhos de Sião,
comparáveis a ouro puro” (Lamentações 4:2). Muitas vezes olhamos cansados para
o relógio quando, em companhia de alguém, o tema era espiritual demais para
nossa compreensão fraca; tantas vezes preferimos a amizade de mundanos risonhos
à de crentes mais sérios.
Será preciso
indagar qual a origem desta antipatia? O rio amargo não compara ao rio do
Egito, silencioso quanto à sua nascente: ele proclama sua origem abertamente, e
o ouvido da auto preferência não pode ser a voz da verdade – “não amastes os
servos, porque não fizestes caso de Seu Mestre; nem convivestes entre os
irmãos, pois não estabelecestes amizade com o primogênito da família”.
Uma das
evidências mais claras da alienação de Deus é a falta de vínculo com Seu povo.
Num grau maior ou menor cada um de nós já passou por isso. É verdade que há
certos cristãos com quem gostávamos de estar; contudo, havemos de convir que
esse prazer em sua companhia devia-se mais à amabilidade de suas maneiras ou ao
estilo cativante de falarem, do que à Sua excelência intrínseca. Avaliamos a
joia pelo seu engaste, mas um seixo comum no mesmo anel teria igualmente nos
chamado à atenção. Os santos, como santos, não eram nossos amigos diletos, nem
podíamos dizer: “Sou amigo de todos os que temem a Deus”.
Tais
sentimentos são produto da mais elevada estima pelo Redentor, e sua ausência
anterior constitui uma prova conclusiva de que nesse tempo “Dele não fizemos
caso”. Não temos mais necessidade de ajuda nesta auto condenação.
Domingos
profanados partem como guerreiros de um clã selvagem da mata fechada do tempo
desperdiçado; eles investem contra o santuário deserto, ameaçando-o com uma
vingança terrível, se o escudo de Jesus não nos protegesse; as cordas de Seus arcos
são ordenanças negligenciadas, e Suas flechas são mensagens de misericórdia
desprezadas.
Todavia,
para que esses acusadores? A consciência, guarda da alma, já viu o suficiente.
Ela afirmará que viu nossos ouvidos fechados para a voz convidativa do amigo
dos pecadores; e que por diversas vezes desviamos os olhos da cruz, quando
Jesus estava bem visível.
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