terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O AMIGO DESPREZADO (5)




Spurgeon
                “...e Dele não fizemos caso” (Isaías 53:3) (continuação)
        Ó, Cordeiro de Deus! Nossa negligência na oração nos leva a confessar que houve um tempo em que não víamos em Ti aparência nem formosura.
        Ademais, o fato de evitarmos o povo de Deus, confirma a verdade humilhante. Nós que agora fazemos parte do exército sagrado dos eleitos de Deus, nos alegrando na amizade dos justos, éramos outrora “estrangeiros e peregrinos”. A língua de Canaã era aos nossos ouvidos um gaguejar sem significado, do qual escarnecíamos, uma gíria grosseira que não tentávamos imitar, ou uma “língua estranha” além da nossa capacidade de interpretação. Os herdeiros da vida eram os desprezados por nós como “objetos de barro, obra das mãos de oleiro”, ou nos retirávamos da companhia deles cientes de que não éramos companheiros dignos dos “nobres filhos de Sião, comparáveis a ouro puro” (Lamentações 4:2). Muitas vezes olhamos cansados para o relógio quando, em companhia de alguém, o tema era espiritual demais para nossa compreensão fraca; tantas vezes preferimos a amizade de mundanos risonhos à de crentes mais sérios.
        Será preciso indagar qual a origem desta antipatia? O rio amargo não compara ao rio do Egito, silencioso quanto à sua nascente: ele proclama sua origem abertamente, e o ouvido da auto preferência não pode ser a voz da verdade – “não amastes os servos, porque não fizestes caso de Seu Mestre; nem convivestes entre os irmãos, pois não estabelecestes amizade com o primogênito da família”.
        Uma das evidências mais claras da alienação de Deus é a falta de vínculo com Seu povo. Num grau maior ou menor cada um de nós já passou por isso. É verdade que há certos cristãos com quem gostávamos de estar; contudo, havemos de convir que esse prazer em sua companhia devia-se mais à amabilidade de suas maneiras ou ao estilo cativante de falarem, do que à Sua excelência intrínseca. Avaliamos a joia pelo seu engaste, mas um seixo comum no mesmo anel teria igualmente nos chamado à atenção. Os santos, como santos, não eram nossos amigos diletos, nem podíamos dizer: “Sou amigo de todos os que temem a Deus”.
        Tais sentimentos são produto da mais elevada estima pelo Redentor, e sua ausência anterior constitui uma prova conclusiva de que nesse tempo “Dele não fizemos caso”. Não temos mais necessidade de ajuda nesta auto condenação.
        Domingos profanados partem como guerreiros de um clã selvagem da mata fechada do tempo desperdiçado; eles investem contra o santuário deserto, ameaçando-o com uma vingança terrível, se o escudo de Jesus não nos protegesse; as cordas de Seus arcos são ordenanças negligenciadas, e Suas flechas são mensagens de misericórdia desprezadas.
        Todavia, para que esses acusadores? A consciência, guarda da alma, já viu o suficiente. Ela afirmará que viu nossos ouvidos fechados para a voz convidativa do amigo dos pecadores; e que por diversas vezes desviamos os olhos da cruz, quando Jesus estava bem visível.










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