por
Leonard Ravenhill
Os profetas da antiguidade,
marcados por Deus, eram tremendamente conscientes da imensidão e da
impopularidade da sua tarefa. Insistindo na sua própria ineficácia e
insuficiência, e sentindo a pesada carga da mensagem de Deus, estes homens às
vezes tentavam se livrar de tão grande responsabilidade sobre suas almas.
Moisés,
por exemplo, tentou fugir do compromisso com uma nação inteira, argumentando
ter uma “língua pesada” ou gaga. Entretanto, Deus não aceitou sua fuga e lhe
deu um porta-voz em Arão.
Jeremias, também, arrazoou que era
apenas uma criança. E, como no caso de Moisés, a desculpa não foi aceita. Pois
homens escolhidos por Deus não são enviados a câmaras especiais da sabedoria humana
– onde suas personalidades podem ser polidas ou seu conhecimento aperfeiçoado.
Deus, pelo contrário, sempre encontra um jeito de fechar as saídas para eles e
os deixar enclausurados consigo mesmo.
De acordo com o famoso poeta
norte-americano, Oliver Wendell Holmes, a mente do homem, uma vez “esticada”
através de uma nova idéia, nunca mais consegue voltar às suas dimensões
originais. O que diríamos, então, da alma que ouviu o sussurro da Voz Eterna?
“As palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (João 6.63).
Nossa pregação é muito debilitada hoje,
por se basear mais em pensamentos emprestados das mentes de pessoas mortas do
que na inspiração do nosso Senhor. Livros são bons quando nos servem de guias,
mas são péssimos quando se transformam em correntes.
Assim
como na energia atômica, os cientistas modernos encontraram uma nova dimensão
de poder, da mesma forma, a igreja precisa redescobrir o poder ilimitado do
Espírito Santo. Precisa-se, urgentemente, de algo novo, a fim de dar um golpe na
maldade desta era impregnada de pecado, e de abalar a complacência dos santos
adormecidos. Pregações vigorosas e vidas vitoriosas precisam ser geradas
através de vigílias prolongadas no recinto secreto de oração.
Alguém diz: “Ah, mas precisamos orar a
fim de poder viver uma vida santa”. Isto está certo, mas do modo inverso,
precisamos viver uma vida santa se quisermos orar. De acordo com Davi, “Quem
subirá ao monte do Senhor? ... O que é limpo de mãos e puro de coração” (Sl
24.3,4).
O segredo da oração é orar em secreto.
Livros sobre oração são excelentes, mas são insuficientes. Livros sobre
cozinhar podem ser muito bons, porém se tornam inúteis se não houver alimentos
para se fazer algo prático; assim também é a oração. Pode-se ler uma biblioteca
de livros sobre oração e não obter, como resultado, nenhum poder para orar.
Precisamos aprender a orar, e para isso, é preciso orar.
Enquanto estiver sentado numa cadeira,
pode-se ler o melhor livro do mundo sobre saúde física e, ao mesmo tempo, ir
definhando cada vez mais. Igualmente, podemos ler sobre oração, admirar a
perseverança de Moisés, ficar espantados diante das lágrimas e dos gemidos do
profeta Jeremias – e ainda não estar prontos, nem para o bê-á-bá da oração
intercessória. Como uma bala de rifle que nunca foi usada jamais apanhará uma
presa, tão-pouco o coração que ora sem carga do Espírito conseguirá em tempo
algum alcançar resultados.
“Em nome de Deus, eu vos suplico, que a
oração alimente vossa alma tal qual a refeição refaz seu corpo!”, dizia o fiel
Fenelon. Henry Martyn, certa vez, afirmou o seguinte: “Meu atual estado de
morte espiritual pode ser atribuído à falta de tempo e tranqüilidade
suficientes para minhas devoções particulares. Oh, que eu fosse um homem de
oração!”
Um
escritor de tempos passados declarou: “Grande parte da nossa oração é como o
moleque que aperta a campainha da casa, mas corre antes de se abrir a porta”.
Disso podemos estar certos: A área de recursos divinos menos explorada até
agora é o lugar da oração.
Qual o Potencial da Oração?
Quem pode calcular as dimensões do
poder de Deus? Os cientistas fazem estimativas do peso total do globo
terrestre, os estudiosos da Bíblia chegam a decifrar as medidas da Cidade
Celestial, os astrônomos contam as estrelas no céu, outros medem a velocidade
do relâmpago e dizem precisamente quando o sol se levanta e se põe – no
entanto, é impossível estimar o poder da oração.
A oração é tão vasta quanto o próprio
Deus, porque é ele mesmo que está por trás dela. A oração é tão poderosa quanto
Deus, pois ele se comprometeu a respondê-la. Que Deus tenha compaixão de nós,
por sermos tão gagos e hesitantes nesta que é a atividade mais nobre da língua
e do espírito do homem. Se Deus não nos iluminar no nosso recinto privado de
oração, andaremos em trevas. No tribunal de Cristo, o fato mais vergonhoso que
o cristão haverá de enfrentar será a pobreza da sua vida de oração.
Leia este trecho majestoso do ilustre
pregador do quarto século, Crisóstomo: “O
imenso poder da oração já sujeitou a força do fogo; amarrou a ira de leões,
acalmou as insurreições de anarquia, pôs fim a guerras, aplacou as forças
selvagens da natureza, expeliu demônios, rompeu os grilhões da morte, expandiu
os limites do reino dos céus, aliviou enfermidades, afastou fraudes, resgatou
cidadãos da destruição, parou o sol no seu curso, e impediu o avanço do raio
destruidor.
“A oração é
uma panóplia (armadura) contra todo mal, um tesouro que nunca se diminui, uma
mina que jamais poderá ser esgotada, um céu sem qualquer obstrução de nuvem, um
horizonte imperturbado por tempestades. É a raiz, a fonte, a mãe, de
incontáveis bênçãos.”
Estas
palavras são mera retórica, tentando dar uma aparência superlativa a algo
comum? A Bíblia não conhece tais engenhosidades humanas.
Oh,
Por um Elias!
Elias era um homem experimentado na
arte da oração, que alterou o curso da natureza, estrangulou a economia de uma
nação, orou e o fogo caiu, orou e o povo caiu, orou e a chuva caiu. Precisamos
hoje de chuva, chuva e mais chuva! As igrejas estão tão ressecadas que a
semente não pode germinar. Nossos altares estão secos, sem lágrimas quentes de
suplicantes penitentes.
Oh, por um Elias! Quando Israel clamou
por água, um homem feriu a rocha e aquela enorme fortaleza de pedra se
transformou numa madre, que deu à luz uma fonte de águas a dar vida. “Acaso
para Deus há coisa demasiadamente difícil?” (Gn 18.14). Que Deus nos envie
alguém que possa ferir aquela rocha!
De uma coisa estejamos certos: O
recinto de oração não é lugar para simplesmente entregar ao Senhor uma lista de
pedidos urgentes. A oração pode mudar as coisas? Certamente, mas, acima de
tudo, a oração muda os homens. A oração não só tirou a desonra de Ana, mas a
mudou – transformou-a de mulher estéril em frutífera, de pessoa tristonha em
alguém cheio de gozo (1 Sm 1.10 e 2.1); de fato, converteu o seu “pranto em
dança” (Sl 30.11).
Quem
sabe, estamos orando para dançar quando ainda não aprendemos a lamentar!
Estamos buscando uma veste de louvor, quando Deus disse: “... e dar a todos os
que choram ... veste de louvor em vez de espírito angustiado” (Is 61.3, NVI).
Se quisermos colher, a mesma ordem é dada: “Quem sai andando e chorando
enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes” (Sl 126.6).
Foi preciso um homem de coração partido,
que lamentava profundamente, como Moisés, para poder dizer: Ó Deus, este “povo
cometeu grande pecado... Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não,
risca-me, peço-te, do livro que escreveste” (Êx 32.31,32). Somente um homem que
sentisse uma profunda carga de dor, como Paulo, poderia dizer: “... tenho
grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser
anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas,
segundo a carne” (Rm 9.2,3).
Se John Knox tivesse orado: “Dá-me
sucesso!”, nunca mais teríamos ouvido falar dele. Porém, ele fez uma oração
expurgada de desejos pessoais: “Dá-me a Escócia, senão eu morro!”, e assim
marcou as páginas da história. Se David Livingstone tivesse orado para
conseguir abrir o continente africano, como prova de seu espírito indomável e
habilidade com o sextante, sua oração teria morrido com o vento da floresta;
porém, sua oração foi: “Senhor, quando será curada a ferida do pecado deste
mundo?” Livingstone vivia em oração e, literalmente, morreu de joelhos, em
oração.
A solução para este mundo tão
insaciável por pecado é uma igreja insaciável por oração. Precisamos explorar
novamente as “preciosas e mui grandes promessas” de Deus (2 Pe 1.4). Naquele
grande dia, o fogo do juízo haverá de provar o tipo, e não a quantidade, da
obra que fizemos. Aquilo que nasceu em oração passará pela prova.
Na
oração, tratamos com Deus e coisas acontecem. Na oração, fome de ganhar almas é
gerada; quando há fome para ganhar almas, mais oração é gerada. O coração que
tem entendimento ora; o coração que ora adquire entendimento. O coração que
ora, reconhecendo sua própria fraqueza, recebe força sobrenatural do Senhor.
Oh, que fôssemos pessoas de oração, tal qual Elias – que era um homem sujeito
aos mesmos sentimentos que nós! Senhor, ajuda-nos a orar!
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