John
Bunyan
Tradução:
Felipe Sabino de Araújo Neto1
Oração é o derramar
de modo sincero, consciente e afetuoso o coração ou alma
diante de Deus, por meio de Cristo, no poder e ajuda do Espírito Santo, buscando
as coisas que Deus prometeu, ou que são conforme a Sua Palavra,
para o bem da igreja, com submissão, em fé, à vontade de Deus. Nessa
descrição há sete coisas. Primeiro, de modo sincero; segundo, de modo
consciente; terceiro, de modo afetuoso, derramando a alma diante de Deus, por
meio de Cristo; quarto, no poder ou ajuda do Espírito Santo; quinto, buscando
as coisas que Deus prometeu, ou que são conforme a Sua Palavra;
sexto, para o bem da igreja; sétimo, com submissão em fé à vontade de Deus.
Com relação à
primeira destas: é um derramar de modo sincero a alma diante de Deus. A
sinceridade é uma graça que permeia todas as demais que Deus nos dá, e todas as
atividades do cristão, e influenciando-as, pois do contrário Deus não as
estimaria. Assim ocorre na oração, como particularmente disse Davi, falando
deste tema: “A ele clamei com a minha boca, e ele foi exaltado pela minha
língua. Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá”
(Salmos 66:17,18).
A sinceridade faz
parte da oração, pois sem ela Deus não a consideraria como tal. “E
buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração”
(Jeremias 29:13). A falta de sinceridade fez que Jeová recusasse as orações
daqueles descritos em Oséias 7:14, onde é dito: “E não clamaram a mim com se coração”
(isto é, com sinceridade), “mas davam uivos nas suas camas”. Mas oram para
simular, para exibirem-se hipocritamente, para serem vistos dos homens e
aplaudidos por eles. A sinceridade é o que Cristo recomendou em Natanael,
quando este estava debaixo da figueira: “Eis aqui um verdadeiro israelita, em
quem não há dolo”. Provavelmente este bom homem tinha estado derramando sua
alma a Deus em oração debaixo da figueira, fazendo-lhe em espírito sincero e
não dissimulado, diante do Senhor. A oração que contém este elemento como um de
seus ingredientes principais, é a oração que Deus ouve. Assim, “a oração dos
retos é o Seu deleite” (Provérbios 15:81). Por que a sinceridade deve ser um
dos elementos essenciais na oração que Deus aceita? Porque a sinceridade induz
a alma a abrir o coração diante de Deus com toda simplicidade, a apresentar-lhe
o caso de forma franca, sem equívocos; a condenar-se claramente, sem
dissimulação; a clamar a Deus desde o mais profundo do coração, sem palavras
ocas e artificiais. “Bem ouvi eu que Efraim se queixava, dizendo: Castigaste-me
e fui castigado, como novilho ainda não domado” (Jeremias 31:18).
A sinceridade é a
mesma num canto sozinha, assim como quando está diante do mundo. Não sabe levar
duas máscaras, uma para comparecer diante dos homens, e outra para os breves
momentos que passa sozinho. Ela se oferece ao olho perscrutador de Deus, e
anseia estar com Ele no dever da oração. Não tem apreço pelo esforço de lábios,
pois sabe que o que Deus vê é o coração, de onde brota a oração, para ver se a
mesma vem acompanhada com sinceridade. Em segundo lugar, a oração é um derramar
de modo sincero e consciente o coração ou alma. Não se trata, como
muitos pensam, de umas poucas expressões balbuciantes, de tagarelices, de
expressões lisonjeiras, mas de um sentimento consciente do coração.
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