sexta-feira, 16 de novembro de 2012

SALVAÇÃO PELA GRAÇA




Wesley
         II       O segundo ponto a ser considerado é: Qual é a Salvação que é mediante a fé?
1. Primeiro qualquer que seja essa salvação, ela é uma salvação presente. É alguma coisa atingível desde já, atualmente atingível na terra, pelos que são participantes dessa fé. Por isso diz o apóstolo aos crentes de Éfeso e, através destes, aos crentes de todos os tempos: “Vós sois salvos mediante a fé”, e não: “Vós sereis salvos”, embora também seja verdadeira esta última afirmativa. 
2. Vós sois salvos (para abranger tudo numa só palavra), do pecado. Esta é a salvação que vem pela fé.
         Esta é a grande salvação predita pelo anjo, antes que Deus introduzisse no mundo seu primogênito: “... a quem chamarás JESUS, porque ele salvará seu povo de seus pecados”. Nem aqui, nem nas outras partes do Escrito Sagrado, aparece qualquer limitação ou restrição. Todo seu povo, ou, como se diz em outros lugares, “todo o que crê”, Cristo o salvará dos pecados; do pecado original e atual, passado e presente, “da carne e do espírito”. Mediante a fé que há em Cristo, os pecadores são salvos, tanto da culpa como do poder da culpa.
3. Primeiro, da culpa de todos os pecados passados: Porque, conquanto todo o mundo seja culpado diante de Deus, de modo que, se o Senhor quisesse “assinalar que os que cometem erros, ninguém poderia nele permanecer”; e uma vez que “pela lei vem”, somente, “o conhecimento do pecado”, mas não a libertação dele, já que pelo cumprimento “das obras da lei nenhuma carne pode ser justificada à sua vista”,— agora, todavia, “a justiça de Deus, que é pela fé em Jesus Cristo, é manifestada a todo aquele que crê”.
         “São justificados livremente por sua graça, através da redenção que há em Jesus Cristo”. “A este Deus enviou para ser a propiciação mediante a fé em seu sangue, para declarar sua justiça para (ou pela) remissão dos pecados passados”. Agora, Cristo suprimiu a “maldição da lei, fazendo-se maldição por nós”. “Cancelou o escrito de dívida que era contra nós, levando-o e cravando-o em sua cruz”. “Agora não há, pois, condenação para os que creem em Cristo Jesus”.
4. Sendo salvos da culpa, os homens são também salvos do temor. Não, em verdade, do filial temor de conceber qualquer ofensa, mas do medo servil que escraviza; do medo, que causa tormento; do medo de punição; do medo da ira de Deus, — desse Deus que eles agora não mais contemplam como um Senhor severo, mas como um Pai indulgente. “Não receberam outra vez o espírito de escravidão, mas o espírito de adoção, pelo qual exclamam: Abba, Pai; testificando também o mesmo Espírito com seu espírito, que eles são filhos de Deus”. São também salvos não da possibilidade, mas do receio de decaírem da graça de Deus e de serem privados das grandes e preciosas promessas. Deste modo “têm paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo”. Regozijam-se na esperança da glória de Deus — e o amor de Deus se derrama abundantemente em seus corações, através do Espírito Santo, que lhes é dado. Pelo Espírito são persuadidos (talvez não em todos os tempos, nem com a mesma plenitude de convicção), de que “nem a morte, nem a vida, nem as coisas presentes, nem as coisas futuras, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura será capaz de os separar do amor de Deus, que, é em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
5. Ainda mais: mediante essa fé, são eles salvos do poder do pecado e, bem assim, da culpa inerente ao pecado. Isto o apóstolo o declara: “Sabemos que ele se manifestou para tirar nossos pecados, e nele não há pecado. O que nele permanece, não peca”. (1Jo 3.5). E em outro lugar: “Filhinhos, que ninguém vos engane. O que comete pecado é do diabo. Quem quer que crê é nascido de Deus. E quem é nascido de Deus não comete pecado; porque sua filiação permanece nele e ele não pode pecar, parque é nascido de Deus”. Ainda mais: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; pelo contrário, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o maligno não o segura”. (1Jo 5.18).
6. Aquele que pela fé é nascido de Deus, não peca: (1) Por pecado habitual: porque todo pecado habitual é pecado dominante, — mas o pecado não pode dominar a qualquer que creia; nem por pecado voluntário: porque, enquanto permanece na fé, sua vontade tenazmente se opõe a todo pecado, aborrecendo-o como se fora veneno mortal; nem por qualquer desejo pecaminoso, porque almeja constantemente a santa e perfeita vontade de Deus— e qualquer tendência para o desejo profano ele a sufoca desde o inicio, pela graça de Deus; nem (4) peca por enfermidade, quer pela prática de qualquer ato, quer por palavra ou pensamento, porque suas fraquezas não têm o concurso da vontade; e, sem tal concurso, não há, propriamente; pecado. Assim, “o que é nascido de Deus não peca”; e, embora não possa dizer que não tenha pecado, certo é que atualmente ele não peca.
7. Esta é, pois; a salvação pela fé, mesmo no mundo presente: salvação do pecado e das consequências do pecado expressas com frequência pela palavra justificação, a qual, tomada em sentido mais lato, implica na libertação da culpa e do castigo, pela propiciação de Cristo atualmente aplicada à alma do pecador, agora crente em Jesus, e libertação do domínio do pecado, mediante o mesmo Senhor, formado em seu coração. Assim, aquele que é justificado, ou salvo pela fé, é, na verdade, nascido de novo. Nasce outra vez do Espírito para uma nova vida, que “está escondida com Cristo em Deus”. Como um recém-nascido, gradualmente recebe o αδολον, o “leite racional, sem dolo, da Palavra — e cresce por ele”, subindo de fé em fé, de graça em graça, até chegar, afinal, a “homem perfeito, segundo a medida da estatura da plenitude de Cristo”.

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