quarta-feira, 14 de novembro de 2012

SALVAÇÃO PELA FÉ (1)



     Wesley
“Pela graça sois salvos mediante a fé”. (Efésios 2.8)
1.      TODAS as bênçãos que Deus comunica ao homem vêm de sua mera graça, munificência ou favor; de sua livre, imerecida benevolência, representando graça inteiramente espontânea, visto nenhum direito ter o homem à menor clemência por parte da Divindade. Foi a livre graça que “formou o homem do pó da terra e nele soprou a alma vivente”, estampando nessa alma a imagem de Deus e “sujeitando todas as coisas debaixo de seus pés”. A mesma graça chega até nós, neste dia, traduzindo-se em vida, respiração e todas as coisas. Nada do que somos, ou possuímos, ou realizamos, merece o mínimo favor das mãos de Deus. “Todas as nossas obras, ó Deus, tu as operaste em nós”. Assim, elas são outras tantas manifestações de livre misericórdia; e, qualquer que seja a justiça que se encontre no homem, ainda será também uma dádiva de Deus.
2.      Com que fará o pecador propiciação pelo menor de seus pecados? Com suas obras? Não. Ainda que estas sejam muitas e sejam santas, não lhe pertencem, mas são de Deus. Na verdade todas essas obras são ímpias e pecaminosas, reclamando nova propiciação. Somente frutos corrompidos pendem de uma árvore corrupta. E o coração do homem é ao mesmo tempo corrupto e abominável, estando “desprovido da glória de Deus”— a justiça gloriosa de inicio impressa em sua alma, segundo a imagem de seu grande Criador.
         Assim, pois, nada tendo, nem justiça nem obras, que alegar, seus lábios inteiramente se calam diante de Deus.

3.      Se o homem pecaminoso acha, pois, favor à vista de Deus, isto vem a ser “graça sobre graça!” Se Deus ainda concede que desçam sobre nós outras bênçãos e, ademais, a maior de todas, que é a salvação, que, podemos dizer a essas coisas, senão repetir: “Graças sejam dadas a Deus por seu dom inefável!” E assim é. Nisto “Deus recomenda seu amor para conosco, em que, quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu para salvar-nos. “Pela graça”, pois, “sois salvos mediante a fé”. A graça é a fonte; a condição é a fé.

Para não decairmos da graça de Deus, cabe-nos inquirir cuidadosamente:

I. Qual é a fé mediante a qual somos salvos.

II. Qual é a salvação que é mediante a fé.

III. Como podemos responder a certas objeções.
I Qual é a fé mediante a qual somos salvos?
1. Em primeiro lugar, não é meramente a fé dos pagãos.
         Deus exige que o pagão creia que “Deus existe e que é remunerador dos que o buscam”; que essa procura diligente se faça, glorificando-o como a Deus, dando-lhe graças por todas as coisas e praticando cuidadosamente a virtude moral, a justiça, a misericórdia e a verdade para com seus semelhantes. O grego ou o romano, o cita ou o indiano, não teria, portanto, nenhuma desculpa, se não acreditasse suficientemente nisto: o Ser e atributos de Deus, o estado futuro de recompensa ou punição e o caráter obrigatório da virtude moral. Este é simplesmente o credo de um pagão.
         2.      Não é, também, em segundo lugar, a fé do demônio, embora ela vá multo além da dos pagãos. O demônio crê não somente que há um Deus poderoso e sábio, gracioso no recompensar e justo no punir, mas também crê que Jesus é o Filho de Deus, o Cristo, o Salvador do mundo. Encontramo-lo, de fato, declarando, em termos categóricos: “Bem sei quem és: tu és o Santo de Deus” (Lucas 4.34). Nem podemos duvidar de que o infeliz espírito creia em todas as palavras que saíram dos lábios do Santo e mais em quaisquer outras que foram escritas pelos homens santos do passado, acerca de dois dos quais ele fora compelido àquele glorioso testemunho: “Estes homens são servos do Altíssimo, que vos mostram o caminho da Salvação”. Não é demais, pois, que o grande inimigo de Deus e dos homens creia e, crendo, estremeça, – que Deus se manifestou em carne; que “submeterá todos os inimigos debaixo dos pés”; e que “toda Escritura foi dada por inspiração de Deus”. Até aí vai a fé do demônio.
         3. Em terceiro lugar: a fé mediante a qual somos salvos, no sentido em que a Palavra será mais adiante explanada, não é meramente a que nutriam os apóstolos, quando Cristo estava ainda sobre a terra, muito embora nele cressem a ponto “de deixarem tudo para segui-lo”; embora tivessem já nesse tempo o poder de operar milagres, de “curar todas as espécies de doença e toda forma de enfermidade”; embora tivessem “poder e autoridade sobre os demônios”, e, o que vale mais que tudo isso, fossem enviados por seu Mestre a “pregar o Reino de Deus”.
         4. Qual é a fé mediante a qual somos salvos? Pode-se responder, de modo geral, que é, primeiro, a fé em Cristo: Cristo e Deus através de Cristo são os próprios fundamentos dessa fé. Nisto se distingue ela suficientemente, absolutamente, da fé, seja dos antigos ou dos modernos pagãos. Da fé que possui o demônio ela se distingue por isto: não é uma coisa meramente especulativa, racional, um assentimento frio e morto, uma série de ideias que se amontoam na cabeça, mas uma disposição do coração. Por isso diz a Escritura: “Com o coração o homem crê para a justiça”; e: “se tu confessares com tua boca o Senhor Jesus, e creres em teu coração que Deus o levantou dentre os mortos, serás salvo”.
         5. Nisto ela difere daquela fé que os próprios apóstolos nutriam enquanto nosso Senhor estava na terra: reconhece a necessidade e os méritos de sua morte e o poder de sua ressurreição. Reconhece sua morte como o único meio suficiente de redimir o homem da morte eterna, e sua ressurreição como a restauração de todos nós à vida e imortalidade, tanto mais que ele “foi entregue por nossos pecados e ressurgiu para nossa justificação”. A fé cristã é, portanto, não só um assentimento a todo o Evangelho de Cristo, mas também plena confiança no sangue de Cristo; confiança nos méritos de sua vida, morte e ressurreição; descanso nele como nossa propiciação e nossa vida — vida divina que foi dada por nós e vive em nós; e, em consequência disto, união com ele, adesão à sua pessoa, coma “nossa sabedoria, justiça, santificação e redenção”, ou, numa palavra, — nossa Salvação.

Nenhum comentário: