Spurgeon
“...e
Dele não fizemos caso” (Isaías 53:3) (continuação)
Agora podemos
apreciar a afeição em êxtase de Herbert, expressa em seu poema:
Ó
livro infinitamente doce!
Que
eu coma cada letra, como mel;
É
bom para curar que quer que fosse,
Aliviar
a dor, tirar o fel.
Naquele
tempo um poema efêmero ou romance fútil podia comover nossos corações milhares
de vezes mais facilmente do que este “livro de estrelas”, este “deus dos livros”.
Ah, essa Bíblia negligenciada prova muito bem que estimamos Cristo muito pouco.
Na verdade, se estivéssemos cheios de afeto por Ele, teríamos procurado por Ele
em Sua Palavra. Nela, ele se despe, mostrando o íntimo do Seu coração. Nela,
cada página está manchada com gotas do seu sangue ou ornada com raios da Sua
glória. A cada momento O vemos, divino e humano, morrendo e mesmo assim vivo,
sepultado e agora ressurreto. Vítima e Sacerdote, Príncipe e Salvador, e todos
esses diferentes papéis, relações e condições O tornam valioso para Seu povo e
precioso para Seus santos. Ah, ajoelhemo-nos diante do Senhor e reconheçamos
que “Dele não fizemos caso”, ou teríamos andado com Ele nos campos das
Escrituras e tido comunhão com Ele nos canteiros da inspiração.
O Trono da
Graça, que por tanto tempo não visitamos, igualmente proclama nossa culpa
anterior. Raramente nossas súplicas eram ouvidas no céu; nossas petições eram
formais e sem vida e morriam nos lábios desatentos que as pronunciavam. Ah, que
crime quando não nos consagrávamos à adoração, o incensário do louvor não
levava um aroma aceitável ao Senhor, nem os frascos da oração exalavam um
perfume precioso!
Sem serem
branqueados pela devoção, os dias do calendário ficavam sujos pelo pecado; não
sendo impedido por nossas súplicas, o anjo do julgamento acelerava sua vinda
para a nossa destruição. À lembrança daqueles dias de silêncio pecaminoso
nossas mentes humilham-se no pó; não podemos nos achegar ao trono de
misericórdia sem adorar a graça que recebe com boas-vindas aqueles que O
desprezaram.
Todavia, por
que “nosso coração não esteve em peregrinação”? Por que não cantamos a “melodia
que todos ouvem e temem”? Por que não nos alimentamos do “banquete da igreja”,
e do “maná precioso”? Que resposta podemos dar mais completa e plena do que
esta? “Dele não fizemos caso”? Nossa pouca consideração de Jesus afastou-nos de
Seu trono. A afeição verdadeira teria conseguido o pronto acesso que a oração
dá ao aposento secreto de Jesus recebendo abundância de amor. Podemos abandonar
agora o trono? Não; nossos momentos mais felizes são quando nos ajoelhamos,
pois assim é que Jesus Se manifesta a nós. Apreciamos a companhia deste que é o
melhor amigo, pois Sua presença divina “traz tal beleza interior para a casa
onde Ele habita, que os palácios mais suntuosos invejam seu esplendor”. Com
prazer procuramos o lugar secreto, pois ali nosso Salvador nos permite
desabafar nossas alegrias e tristezas, passando-as para Ele.
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