segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O AMIGO DESPREZADO (4)




Spurgeon
                “...e Dele não fizemos caso” (Isaías 53:3) (continuação)
        Agora podemos apreciar a afeição em êxtase de Herbert, expressa em seu poema:
                                               Ó livro infinitamente doce!
                                               Que eu coma cada letra, como mel;
                                              É bom para curar que quer que fosse,
                                               Aliviar a dor, tirar o fel.
        Naquele tempo um poema efêmero ou romance fútil podia comover nossos corações milhares de vezes mais facilmente do que este “livro de estrelas”, este “deus dos livros”. Ah, essa Bíblia negligenciada prova muito bem que estimamos Cristo muito pouco. Na verdade, se estivéssemos cheios de afeto por Ele, teríamos procurado por Ele em Sua Palavra. Nela, ele se despe, mostrando o íntimo do Seu coração. Nela, cada página está manchada com gotas do seu sangue ou ornada com raios da Sua glória. A cada momento O vemos, divino e humano, morrendo e mesmo assim vivo, sepultado e agora ressurreto. Vítima e Sacerdote, Príncipe e Salvador, e todos esses diferentes papéis, relações e condições O tornam valioso para Seu povo e precioso para Seus santos. Ah, ajoelhemo-nos diante do Senhor e reconheçamos que “Dele não fizemos caso”, ou teríamos andado com Ele nos campos das Escrituras e tido comunhão com Ele nos canteiros da inspiração.
        O Trono da Graça, que por tanto tempo não visitamos, igualmente proclama nossa culpa anterior. Raramente nossas súplicas eram ouvidas no céu; nossas petições eram formais e sem vida e morriam nos lábios desatentos que as pronunciavam. Ah, que crime quando não nos consagrávamos à adoração, o incensário do louvor não levava um aroma aceitável ao Senhor, nem os frascos da oração exalavam um perfume precioso!
        Sem serem branqueados pela devoção, os dias do calendário ficavam sujos pelo pecado; não sendo impedido por nossas súplicas, o anjo do julgamento acelerava sua vinda para a nossa destruição. À lembrança daqueles dias de silêncio pecaminoso nossas mentes humilham-se no pó; não podemos nos achegar ao trono de misericórdia sem adorar a graça que recebe com boas-vindas aqueles que O desprezaram.
        Todavia, por que “nosso coração não esteve em peregrinação”? Por que não cantamos a “melodia que todos ouvem e temem”? Por que não nos alimentamos do “banquete da igreja”, e do “maná precioso”? Que resposta podemos dar mais completa e plena do que esta? “Dele não fizemos caso”? Nossa pouca consideração de Jesus afastou-nos de Seu trono. A afeição verdadeira teria conseguido o pronto acesso que a oração dá ao aposento secreto de Jesus recebendo abundância de amor. Podemos abandonar agora o trono? Não; nossos momentos mais felizes são quando nos ajoelhamos, pois assim é que Jesus Se manifesta a nós. Apreciamos a companhia deste que é o melhor amigo, pois Sua presença divina “traz tal beleza interior para a casa onde Ele habita, que os palácios mais suntuosos invejam seu esplendor”. Com prazer procuramos o lugar secreto, pois ali nosso Salvador nos permite desabafar nossas alegrias e tristezas, passando-as para Ele.












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