.
(1)
Ele não tem habilidade para fazê-la. É tão completamente incapaz na obra quanto
na palavra da justiça. Há grandes mistérios tanto na prática como nos
princípios da santidade. Ora, o homem não regenerado desconhece os mistérios do
reino do Céu. Do mesmo modo que não se pode esperar boa leitura da parte
daquele que nunca aprendeu as primeiras letras, ou a boa música do alaúde
daquele que jamais pegou num instrumento, também não se pode esperar que o
homem natural ofereça serviço algum agradável ao Senhor. Antes ele precisa ser
ensinado por Deus (João 6:45); ensinado a orar (Lucas 11:1); ensinado a ser
útil (Isaías 48:17); ensinado a ir (Oséias 11:3); senão ele estará
completamente incapacitado.
(2)
Ele não tem forças para realizá-la. Quão frágil é o seu coração! (Ezequiel
16:30). Logo fica cansado. Que canseira é o dia do Senhor!! (Malaquias 1:13).
Ele está sem forças (Romanos 5:6), sim, está morto em pecados (Efésios 2:5).
(3)
Ele não tem vontade de fazer a obra de Deus. Não deseja ter o conhecimento dos
caminhos de Deus (Jó 21:14). Não os conhece e não se importa em conhecê-los
(Salmo 82:5). Ele não os conhece nem jamais os entenderá.
(4)
Ele não tem instrumentos nem materiais adequados para a obra. Da mesma forma
que não se pode talhar o mármore sem ferramentas, nem pintar sem pincéis e
tintas, nem construir sem materiais, não é possível realizar qualquer serviço
agradável a Deus sem as graças do Espírito, que são tanto os materiais como os
instrumentos de trabalho. A caridade não é um serviço a Deus, mas um ato de
ostentação, a menos que brote do amor a Deus. O que é a oração dos lábios sem a
graça no coração, senão uma carcaça sem vida? O que são todas as nossas
confissões se não forem práticas de contrição piedosa e de arrependimento
sincero? O que são as nossas petições, se não forem animadas de desejos santos
e de fé nos atributos e promessas de Deus? O que são os nossos louvores e ações
de graças, se não brotarem do amor de Deus e se não forem uma santa gratidão e
um sentimento das misericórdias de Deus em nossos corações? Portanto, assim
como não se pode esperar que as árvores falem ou que os mortos se movimentem,
também não se pode esperar que o nãoconvertido apresente um serviço santo e
agradável a Deus. Se a árvore é má, como pode dar bons frutos?
Da
mesma forma, sem conversão você vive para um mau propósito. A alma não
convertida é uma verdadeira gaiola de aves imundas (Apocalipse 18:2), um
sepulcro cheio de corrupção e imundícia (Mateus 23:27), uma repugnante carcaça
cheia de vermes rastejantes, que exalam um mau cheio muito nojento às narinas
de Deus (Salmo 14:3). Oh, que situação terrível! Você ainda não percebeu que é
necessário que haja uma mudança? Não nos teria entristecido ver os consagrados
vasos de ouro do templo de Deus transformados em copos de bebidas alcoólicas e
poluídos com o culto aos ídolos? (Daniel 5:2-3). Os judeus não consideraram uma
terrível abominação quando Antíoco colocou a figura de um suíno na entrada do
Templo? Quão mais abominável, então, teria sido se o próprio Templo fosse
transformado num estábulo ou num chiqueiro e o Santo dos santos fosse servido
como a casa de Baal! É exatamente este o caso do não regenerado. Todos os seus
membros estão transformados em instrumentos de injustiça, em servos de Satanás
e, o mais íntimo de seu coração, em um receptáculo de impureza. Você pode ter
ideia do tipo de convidados que estão dentro da casa, por aqueles que vêm para
fora; pois, "do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios,
prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias" (Mateus 15:19).
Este bando negro mostra o Inferno que há no interior.
Oh
que abuso insuportável ver uma alma nascida para o Céu humilhada a tal baixeza;
ver a glória da criação de Deus, a principal obra de Deus, o Senhor desta
Terra, comendo bolotas como o pródigo! Não foi lamentável ver aqueles que se
alimentavam de delicadas iguarias, sentados desfalecidos nas ruas; e os
preciosos filhos de Sião, comparáveis ao ouro puro, reputados como vasos de
barro; e aqueles que estavam vestidos de carmesim, abraçando o estéreo?
(Lamentações de Jeremias 4:2, 5). E não é muito mais terrível ver o único ser
nesta Terra que é dotado de imortalidade e que tem o sinete de Deus, tornar-se
um vaso no qual não há prazer, destinado ao mais sórdido uso? Oh, que
indignidade intolerável! Seria melhor que você fosse quebrado em mil pedaços do
que continuar a ser rebaixado a um serviço tão vil.
2.
Sem a conversão, não somente o homem é inútil, mas também toda a criação
visível. Deus fez todas as criaturas visíveis no Céu e na Terra para servirem
ao homem, e o homem é somente o porta-voz de todo o resto. O homem é, no mundo,
o que a língua é para o corpo, isto é, fala por todos os membros. As outras
criaturas não podem louvar o seu Criador, a não ser através de sinais mudos e
insinuações dirigidas ao homem, para que ele fale por elas. O homem é, como se
fosse, o sumo-sacerdote da criação de Deus, para oferecer o sacrifício de
louvor por todas as suas criaturas. O Senhor Deus espera um tributo de louvor
de todas as Suas obras. Ora, todas as demais criaturas trazem os seus tributos
ao homem e pagam esses tributos através das mãos dele. Então, se o homem é
falso, infiel, egoísta, Deus é roubado por todas as criaturas e não recebe a
glória ativa de nenhuma de Suas obras.
Oh
que pensamento horrível! Imaginem, Deus criar um mundo como este, despender tão
infinito poder, sabedoria e bondade, e no fim ser tudo em vão! Pensem no homem
ser culpado, afinal, de roubar a Deus e de privá-lO da glória de tudo! Reflitam
bem nisso. Enquanto alguém for um não convertido, todos os préstimos das outras
criaturas lhe são inúteis. A sua comida o alimenta inutilmente. O Sol brilha
para ele inutilmente. As suas roupas aquecem-no em vão. O seu animal carrega-o
em vão. Em resumo, o incansável trabalho e o contínuo serviço de toda a
criação, são inúteis para ele. O serviço de todas as criaturas que trabalham
arduamente e submetem toda a sua força ao homem, com a qual ele deveria servir
o Criador delas, não passa de trabalho perdido. Por isso, "toda a criação
geme" (Romanos 8:22) sob o abuso de homens profanos que pervertem todas as
coisas, usando-as para satisfazer suas luxúrias, uso bastante contrário ao
verdadeiro propósito da existência delas.
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