quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A NECESSIDADE DE CONVERSÃO



Alleine
        
         (1) Salvar os homens em seus pecados, seria ir contra a Sua fidelidade. O Mediador é o servo do Pai, apresenta o encargo que o Pai Lhe deu, age em nome Dele, e pleiteia a ordem dEle para Sua justificação (João 10:18,36; João 6:38,40). Deus O encarregou de tudo, confiou-Lhe a Sua própria glória e a salvação de Seus eleitos (Mateus 11:27; João 17:2). Assim, antes de deixar o mundo, Cristo apresenta ao Pai um relato de ambas as partes daquilo que Ele Lhe confiou (João 17). Ora, Cristo iria impedir completamente a glória do Pai, empanar o Seu maior crédito, se Ele salvasse os homens que estivessem em pecado; pois isso iria derrubar todos os Seus juízos e profanar a todos os Seus atributos.
         Iria derrubar todos os juízos de Deus, cuja ordem é que os homens sejam levados à salvação através da santificação (II Tessalonicenses 2:13). Ele os escolheu para que fossem santos (Efésios 1:4). São eleitos para o perdão e para a vida, através da santificação (I Pedro 1:2). Se vocês puderem anular a lei dos imutáveis juízos de Deus ou corromper Aquele que o Pai selou, fazendo com que vá frontalmente contra o Seu mandamento, então poderão ir para o Céu na condição em que se encontram. Mas, esperar que Cristo os salve enquanto não forem convertidos, é esperar que Ele Se revele infiel ao Seu encargo. Ele jamais salvou nem salvará uma alma que não Lhe tenha sido dada pelo Pai na eleição, e levada a Ele por um chamamento eficaz (João 6:37,44). Estejam certos de que Cristo não salvará pessoa alguma de forma contrária à vontade do Pai.
         Salvar os homens em seus pecados, significaria profanar todos os atributos de Deus.
         A Sua justiça. A justiça do julgamento de Deus está em retribuir a todos segundo as suas obras. Ora, se os homens semeassem para a carne e colhessem do Espírito vida eterna, onde ficaria a glória da justiça divina, uma vez que seria dada ao ímpio tal qual é dada ao justo?
         A Sua santidade. Se Deus não apenas salvasse os pecadores, mas os salvasse em seus pecados, Sua tão pura e irrepreensível santidade seria extremamente deturpada. Aos olhos santíssimos de Deus, aqueles que ainda não foram santificados são piores do que um porco ou do que uma víbora. Seria uma extrema profanação da infinita pureza da pessoa de Deus, permitir que tais elementos habitassem com Ele. Eles não podem suportar o Seu julgamento e não poderiam permanecer na presença Dele. Se Davi que era santo não aguentou tal coisa em sua casa, nem mesmo diante de seus olhos (Salmo 101:3,7), como podemos pensar que Deus a pode suportar? Se Deus pegasse os homens no estado em que estão e os tirasse do lamaçal de sua imundícia para a glória do Céu, o mundo iria pensar que Deus não está a uma distância muito grande do pecado nem que sente repugnância por ele, como nos é dito que Ele sente. O mundo estaria pronto a concluir que Deus seria exatamente igual a qualquer homem, como alguns dos antigos impiamente concluíram, por causa da paciência Dele. (Salmo 50:21).
         A Sua veracidade. Deus declarou lá do Céu que se alguém dissesse que teria paz, embora andasse segundo o parecer do seu coração, Sua ira fumegaria contra aquela pessoa (Deuteronômio 29:19-20). Ele declarou que somente aqueles que confessassem e deixassem os seus pecados achariam misericórdia (Provérbios 28:13). Ele declarou que somente aqueles que fossem limpos de mão e puros de coração subiriam ao Seu monte e entrariam no Seu santuário (Salmo 24:3-4). Onde estaria a verdade de Deus se, apesar disso tudo, Ele conduzisse os homens à salvação, sem conversão? Ó pecador desesperado, que se atreve a esperar que Cristo fará Seu Pai mentiroso e anulará a Palavra Dele para salvá-lo!
         A Sua sabedoria. Isto seria o mesmo que lançar as mais preciosas misericórdias sobre aqueles que não dão qualquer valor a elas, nem seriam de modo algum dignos delas.
Eles não dariam valor a elas. O pecador ainda não santificado dá pouca importância à grande salvação de Deus. Ele não dá maior valor a Cristo do que os sadios dão ao médico. Ele não valoriza o Seu bálsamo, não valoriza a Sua cura, mas pisa no Seu sangue. Ora, seria sábio forçar o perdão e a vida àqueles que não iriam manifestar qualquer agradecimento? Será que o Deus sapientíssimo, que nos proibiu de fazê-lo, iria lançar as Suas coisas santas aos cães e as Suas pérolas aos porcos, os quais não iriam fazer outra coisa senão voltar-se novamente e dilacerá-lO? Isto seria, realmente, fazer com que a misericórdia fosse desprezada. A sabedoria requer que a vida seja dada conforme a honra de Deus, e que Deus cuide da Sua glória, bem como da felicidade do homem. Seria uma desonra para Deus outorgar as Suas mais preciosas riquezas àqueles que têm maior prazer nos seus pecados do que nos deleites celestiais que Ele oferece. Deus perderia o louvor e a glória da Sua graça, se Ele a lançasse sobre aqueles que não apenas são indignos dela, mas também não a desejam.
         Além disso, as misericórdias de Deus não são próprias para os não convertidos. A sabedoria de Deus é vista em coisas que são próprias umas às outras: os meios aos fins; o objetivo ao poder de realização; a qualidade do dom à capacidade do receptor. Ora, se Cristo levasse o pecador não regenerado para o Céu, esse pecador sentir-se-ia tão mal ali como um animal que fosse levado à bonita sala de uma sociedade de homens eruditos, uma vez que a pobre criatura preferiria estar pastando com os seus companheiros no campo. Digam-me: o que um homem não santificado faria no Céu? Não poderia ficar contente lá porque nada é apropriado para ele. O lugar não lhe convém e sentir-se-ia completamente deslocado, como um peixe fora d'água. A companhia não poderia agradá-lo, pois que comunhão têm as trevas com a luz? A corrupção com a perfeição? A baixeza e o pecado com a glória e a imortalidade? O trabalho ali não lhe agradaria, pois os cânticos do Céu não se adaptam à sua boca nem agradam aos seus ouvidos. Quem poderia cativar um jumento com a música ou levá-lo para junto do seu órgão e esperar que ele produza uma melodia ou mantenha o ritmo com um coral harmonioso? Se ele tivesse habilidade, não teria vontade para fazer tal coisa e, portanto, não teria prazer nisso. Seria uma ofensa para um doente enfraquecido pôr diante dele uma mesa repleta de iguarias deliciosas. Se o pobre pecador considera um sermão muito longo e comenta sobre um culto: "que canseira!", imagine quão miserável ele se sentiria ao pensar na eventualidade de estar engajado num culto eterno!
         A Sua imutabilidade, ou a Sua onisciência ou a Sua onipotência. Está aprovado no Céu e registrado no decreto da corte celestial, que somente os limpos de coração verão a Deus (Mateus 5:8). Ora, se Cristo levar não convertidos para o Céu sem o conhecimento do Pai, onde estará a onisciência de Deus? Se Ele os levar contra a vontade do Pai, onde estará a onipotência de Deus? Ou se Ele tiver que mudar a vontade do Pai, onde estará a imutabilidade de Deus?

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