quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A NECESSIDADE DE CONVERSÃO



Alleine
         (2) A esperança da salvação na vida futura é vã. Essa esperança é a mais ofensiva a Deus e a mais perniciosa para você. Nessa esperança há morte, desespero e blasfêmia.
         Reitero: há morte nela. A sua confiança, ó homem, será arrancada dos seus tabernáculos, Deus a arrancará com raízes e ramos; ela o conduzirá ao rei dos terrores (Job 18:14). Embora você possa encostar-se nessa casa, ela não resistirá; ao contrário, provará ser como um edifício arruinado que, quando o homem põe nele a sua confiança, desmorona em cima dele (Jó 8:15).
         Há desespero nessa esperança. "... qual será a esperança do hipócrita..., quando Deus lhe arrancar a sua alma?" (Jó 27:8). Então há um fim eterno para essa esperança. De fato, a esperança do justo tem um fim, mas não se trata de um fim destruidor, e sim de um fim aperfeiçoador. A sua esperança termina em gozo; a de outros, em frustração. O homem justo, no momento da morte, diz: "Está acabado"; mas o ímpio diz: "Está perdido", e pode, sinceramente, lamentar-se como Jó (embora esse o tenha feito por equívoco) na sua situação: "Onde está a minha esperança? "Quebrou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou a minha esperança, como a uma árvore". (Jó 19:10) "... o justo até na sua morte tem esperança". (Provérbios 14:32).
         Quando a natureza está agonizando, as esperanças do justo estão vivas; quando o corpo está desfalecendo, as esperanças estão florescendo; a esperança do justo é uma esperança viva, mas a de outros é uma esperança morta, condenadora, que destrói a alma. "Morrendo o homem ímpio perece a sua expectação, e a esperança dos injustos se perde". (Provérbios 11:7). Tal esperança fica frustrada e mostrará que é como uma teia de aranha (Job 8:41), que gera de suas próprias entranhas; mas então chega a morte e destrói tudo e há, portanto, um fim eterno da sua confiança, na qual se firmava. "Os olhos dos ímpios desfalecerão, e perecerá o seu refúgio; e a sua esperança será o expirar da alma". (Jó 11:20). Os ímpios fixam-se na sua esperança carnal, e não se apartarão dela; eles seguram-na firmemente, não deixarão que ela se vá; mas a morte a arrancará dos seus dedos. Embora não possamos desenganá-los, a morte e o julgamento o farão. Quando a morte arremessar o seu dardo através do seu fígado, destruirá num só golpe a sua alma e as suas esperanças. Os ímpios têm esperança apenas nesta vida e, portanto, são os mais miseráveis de todos os homens. Quando a morte chega, deixa-os no espantoso abismo do infindável desespero.
         Há blasfêmia nessa esperança. Esperar que sejamos salvos apesar de continuarmos não convertidos, é esperar que provemos que Deus é mentiroso. Misericordioso e compassivo como é, Deus tem-lhes dito que jamais os salvará se continuarem nos caminhos da ignorância e da injustiça. Em suma: Ele tem lhes dito que não importa o que sejam ou façam, nada lhes garantirá a salvação, a menos que se tornem novas criaturas. Ora, dizer que Deus é misericordioso e que Ele nos salvará sem conversão, é o mesmo que dizer: "Esperamos que Deus não cumpra aquilo que Ele diz." Não podemos pôr em antagonismo os atributos de Deus. Ele decidiu glorificar a Sua misericórdia mas sem prejudicar a Sua verdade, fato que o pecado presunçoso descobrirá para seu desespero eterno.
         Objeção: mas nós esperamos em Jesus Cristo. Colocamos toda a nossa confiança em Deus, portanto não há dúvida de que seremos salvos.
         Resposta: isso não é esperar em Cristo, mas esperar contra Cristo. Esperar ver o reino de Deus sem nascer de novo, esperar achar a vida eterna no caminho largo, é esperar que Cristo Se revele um falso profeta. O clamor do salmista é: "... mas confiei na tua palavra." (Salmo 119:81). Mas a esperança do opositor é contra a Palavra de Deus. Mostre-me uma palavra de Cristo que sustente a sua esperança de que Ele o salvará na ignorância ou na negligência profana do Seu serviço, e eu jamais tentarei abalar a sua confiança.

         Deus rejeita essa esperança com repugnância. Os que foram condenados pelo profeta, continuaram em seus pecados; contudo, diz o profeta: "... e ainda se encostam ao Senhor. . ." (Miquéias 3:11). Deus não suportará ser transformado em esteio para o homem em seus pecados. O Senhor rejeitou aqueles pecadores arrogantes que continuaram nas suas transgressões e ainda se apoiavam no Deus de Israel, da mesma forma que se sacode o pó que adere à roupa.
         Se a sua esperança vale alguma coisa, ela os purificará de seus pecados (I João 3:3), mas maldita é a esperança que acalenta o homem em seus pecados.
         Objeção: então, quer que caiamos no desespero?
         Resposta: vocês devem perder a esperança de ir para o Céu do jeito que estão, isto é, enquanto não forem convertidos. Devem perder a esperança de ver a face de Deus, sem santificação. Mas não devem, de modo algum, desesperar de achar misericórdia se se arrependerem e forem convertidos. Nem precisam desesperar de alcançar arrependimento e conversão se usarem os meios de Deus.
         5. Sem a conversão, tudo que Cristo fez e sofreu será em vão para vocês. A Sua obra não vai ajudá-los, de forma alguma, para obterem a salvação. Muitos alegam que o fato de Cristo haver morrido pelos pecadores é uma base suficiente para a salvação deles; mas devo dizer-lhes que Cristo jamais morreu para salvar pecadores impenitentes e não convertidos. Um notável teólogo costumava fazer duas perguntas ao tratar particularmente com as almas: "O que Cristo fez para você? O que Cristo realizou em você?" Sem a atuação do Espírito na regeneração, não temos participação nos benefícios da redenção. Digo-lhes, da parte de Deus, que o próprio Cristo não pode salvá-los se continuarem nesse estado.

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