terça-feira, 2 de outubro de 2012

A NECESSIDADE DE CONVERSÃO (continuação)



               Alleine
3. Sem a conversão a sua religião é vã. Todas as suas práticas religiosas são nada mais que perdas, pois elas não cumprem os verdadeiros propósitos do Evangelho, isto é, não podem agradar a Deus nem salvar a sua alma (Romanos 8:8; I Coríntios 13:2-3). Mesmo que os seus cultos sejam muito especiais, Deus não tem prazer neles (Isaías 1:14; Malaquias 1:10). Não é terrível a situação daquele homem, cujos sacrifícios são como homicídios e cujas orações como um sopro de abominação? (Isaías 66:3; Provérbios 28:9). Muitos, sob convição, pensam que estão determinados a corrigirem-se e que algumas orações e esmolas poderão consertar tudo; mas que tristeza, senhores, enquanto os seus corações permanecerem sem santificação, nenhuma de suas obrigações será aceita.
         Quão meticuloso era Jeú! No entanto, tudo foi rejeitado porque o seu coração não era justo (II Reis 10 com Oséias 1:4). Quão irrepreensível era Paulo! Contudo, não sendo convertido, tudo não passava de perda (Filipenses 3:6-7). Os homens acham que fazem muito em dar atenção ao serviço de Deus, e até O consideram em débito com eles, entretanto, não estando santificados, as suas práticas religiosas não podem ser aceitas.
         Ó alma, não pense que quando os seus pecados a perseguem, uma simples oraçãozinha e uma reformazinha de sua conduta poderão apaziguar a Deus. É necessário começar com o seu coração. Se ele não for renovado, você não pode agradar a Deus mais do que alguém que, tendo-o ofendido indizivelmente, viesse trazer-lhe a coisa mais asquerosa para acalmá-lo; ou, havendo caído no lodo, pensasse em reconciliar-se com você com seus abraços imundos.
         É uma grande desgraça labutar no fogo. Os poetas não poderiam inventar um Inferno pior para Sísifo, do que ficar labutando eternamente, a fim de levar para cima da montanha a pesada pedra que sempre rolava para baixo novamente, obrigando-o a recomeçar o seu trabalho. Para Deus o maior dos julgamentos temporais é que os que desobedecem edifiquem uma casa sem habitar nela, plantem e não colham, e o seu trabalho seja devorado pelos estrangeiros (Deuteronômio 28:20, 38-41). Não é uma grande desgraça perder todo o nosso trabalho, semear e construir em vão? Mas é muito pior perder os nossos esforços religiosos — orar, ouvir a Palavra de Deus e jejuar em vão! Trata-se de uma perda eterna e irreparável. Não se deixe enganar: se você continuar no seu estado pecaminoso, ainda que estenda as suas mãos, Deus vai esconder os olhos; mesmo que você faça muitas orações, Ele não ouvirá (Isaías 1:15).
         Se um homem incapaz começa a fazer o nosso trabalho e o estraga, mesmo que ele capriche, não lhe agradecemos por isso. Deus tem de ser adorado conforme a Sua determinação. Se um servo faz o nosso trabalho totalmente contrário à nossa ordem, ele deverá receber açoites ao invés de louvores. A obra de Deus precisa ser feita de acordo com a Sua vontade, ou Ele não Se agradará; e isto não pode ser, a menos que seja feito com um coração santo.
         4.Sem a conversão verdadeira, as suas esperanças são em vão. "... a esperança do hipócrita perecerá." (Job 8:12-13). "... porque o Senhor rejeitou as tuas confianças." (Jeremias 2:37).
         (1) A esperança de conforto aqui é vã. É preciso que você seja convertido não somente por segurança, mas também para o conforto da sua condição. Sem a conversão, você não conhecerá a paz (Isaías 59:8). Sem o temor de Deus, você não pode ter o conforto do Espírito Santo (Atos 9:31). Deus fala de paz somente ao Seu povo e aos Seus santos (Salmo 85:8). Se permanecendo em seus pecados você tem uma falsa paz, ela não provém de Deus e, portanto, você pode adivinhar quem é o autor dela. O pecado é uma verdadeira doença (Isaías 1:5); sim, a pior das doenças; é uma lepra na cabeça (Levítico 13:44); uma chaga no coração (I Reis 8:38); uma quebradura nos ossos (Salmo 51:8); ele traspassa, fere, tortura, atormenta (I Timóteo 6:10). Do mesmo modo que um homem não pode esperar alívio quando a doença está na sua força total, ou quando os ossos estão desjuntados, também não pode esperar conforto enquanto estiver em seus pecados.
         Ó homem infeliz, que não tem alívio nessa situação, mas sim aquilo que provém da mortalidade da doença! Na sua irreflexão, o pobre homem enfermo diz que está bem; com a morte já estampada em sua face, ele ainda se levantaria e estaria ativo em seus negócios, quando o próximo passo seria, provavelmente, a sepultura. Os homens não santificados geralmente não vêem nada defeituoso; consideram-se sadios e não chamam o médico; mas isso simplesmente mostra o perigo da situação em que se encontram.
         O pecado produz naturalmente doenças e distúrbios na alma. Que tumulto contínuo há numa mente descontente! Que mal consumidor é a preocupação desordenada! O que é a paixão, senão uma verdadeira febre na mente? O que é a luxúria, senão um fogo nos ossos? O que é o orgulho, senão um edema mortal? O que é a cobiça, senão uma sede insaciável e insuportável? O que é a malícia, senão um veneno no próprio coração? A preguiça espiritual nada mais é que um escorbuto na mente, e a segurança carnal é uma letargia mortal. Como essa alma pode ter conforto verdadeiro, se está acometida de tantos males? Mas a graça da conversão cura e, portanto, alivia a mente e prepara a alma para uma paz firme, duradoura e imortal. "Muita paz têm os que amam a tua lei, e para eles não há tropeço". (Salmo 119:165). São os caminhos da sabedoria que garantem o prazer e a paz (Provérbios 3:17). O salmista tinha muito mais prazer na Palavra de Deus do que em todas as delícias da sua mansão. (Salmo 119:103, 127). A consciência não pode ter paz completa enquanto não for totalmente purificada (Hebreus 10:22). Maldita é aquela paz que se mantém no caminho do pecado (Deuteronômio 29:19-20). Há duas espécies de paz que devem ser temidas, mais do que todas as aflições deste mundo: a paz com o pecado e a paz no pecado.

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