Alleine
3. Sem a conversão a sua religião
é vã. Todas as suas práticas religiosas são nada mais que perdas, pois elas não
cumprem os verdadeiros propósitos do Evangelho, isto é, não podem agradar a
Deus nem salvar a sua alma (Romanos 8:8; I Coríntios 13:2-3). Mesmo que os seus
cultos sejam muito especiais, Deus não tem prazer neles (Isaías 1:14; Malaquias
1:10). Não é terrível a situação daquele homem, cujos sacrifícios são como
homicídios e cujas orações como um sopro de abominação? (Isaías 66:3;
Provérbios 28:9). Muitos, sob convição, pensam que estão determinados a
corrigirem-se e que algumas orações e esmolas poderão consertar tudo; mas que
tristeza, senhores, enquanto os seus corações permanecerem sem santificação,
nenhuma de suas obrigações será aceita.
Quão
meticuloso era Jeú! No entanto, tudo foi rejeitado porque o seu coração não era
justo (II Reis 10 com Oséias 1:4). Quão irrepreensível era Paulo! Contudo, não
sendo convertido, tudo não passava de perda (Filipenses 3:6-7). Os homens acham
que fazem muito em dar atenção ao serviço de Deus, e até O consideram em débito
com eles, entretanto, não estando santificados, as suas práticas religiosas não
podem ser aceitas.
Ó
alma, não pense que quando os seus pecados a perseguem, uma simples oraçãozinha
e uma reformazinha de sua conduta poderão apaziguar a Deus. É necessário
começar com o seu coração. Se ele não for renovado, você não pode agradar a
Deus mais do que alguém que, tendo-o ofendido indizivelmente, viesse trazer-lhe
a coisa mais asquerosa para acalmá-lo; ou, havendo caído no lodo, pensasse em
reconciliar-se com você com seus abraços imundos.
É
uma grande desgraça labutar no fogo. Os poetas não poderiam inventar um Inferno
pior para Sísifo, do que ficar labutando eternamente, a fim de levar para cima
da montanha a pesada pedra que sempre rolava para baixo novamente, obrigando-o
a recomeçar o seu trabalho. Para Deus o maior dos julgamentos temporais é que
os que desobedecem edifiquem uma casa sem habitar nela, plantem e não colham, e
o seu trabalho seja devorado pelos estrangeiros (Deuteronômio 28:20, 38-41).
Não é uma grande desgraça perder todo o nosso trabalho, semear e construir em
vão? Mas é muito pior perder os nossos esforços religiosos — orar, ouvir a
Palavra de Deus e jejuar em vão! Trata-se de uma perda eterna e irreparável.
Não se deixe enganar: se você continuar no seu estado pecaminoso, ainda que
estenda as suas mãos, Deus vai esconder os olhos; mesmo que você faça muitas
orações, Ele não ouvirá (Isaías 1:15).
Se
um homem incapaz começa a fazer o nosso trabalho e o estraga, mesmo que ele
capriche, não lhe agradecemos por isso. Deus tem de ser adorado conforme a Sua
determinação. Se um servo faz o nosso trabalho totalmente contrário à nossa
ordem, ele deverá receber açoites ao invés de louvores. A obra de Deus precisa
ser feita de acordo com a Sua vontade, ou Ele não Se agradará; e isto não pode
ser, a menos que seja feito com um coração santo.
4.Sem
a conversão verdadeira, as suas esperanças são em vão. "... a esperança do
hipócrita perecerá." (Job 8:12-13). "... porque o Senhor rejeitou as
tuas confianças." (Jeremias 2:37).
(1)
A esperança de conforto aqui é vã. É preciso que você seja convertido não
somente por segurança, mas também para o conforto da sua condição. Sem a
conversão, você não conhecerá a paz (Isaías 59:8). Sem o temor de Deus, você
não pode ter o conforto do Espírito Santo (Atos 9:31). Deus fala de paz somente
ao Seu povo e aos Seus santos (Salmo 85:8). Se permanecendo em seus pecados
você tem uma falsa paz, ela não provém de Deus e, portanto, você pode adivinhar
quem é o autor dela. O pecado é uma verdadeira doença (Isaías 1:5); sim, a pior
das doenças; é uma lepra na cabeça (Levítico 13:44); uma chaga no coração (I
Reis 8:38); uma quebradura nos ossos (Salmo 51:8); ele traspassa, fere,
tortura, atormenta (I Timóteo 6:10). Do mesmo modo que um homem não pode
esperar alívio quando a doença está na sua força total, ou quando os ossos
estão desjuntados, também não pode esperar conforto enquanto estiver em seus
pecados.
Ó
homem infeliz, que não tem alívio nessa situação, mas sim aquilo que provém da
mortalidade da doença! Na sua irreflexão, o pobre homem enfermo diz que está
bem; com a morte já estampada em sua face, ele ainda se levantaria e estaria
ativo em seus negócios, quando o próximo passo seria, provavelmente, a
sepultura. Os homens não santificados geralmente não vêem nada defeituoso;
consideram-se sadios e não chamam o médico; mas isso simplesmente mostra o
perigo da situação em que se encontram.
O
pecado produz naturalmente doenças e distúrbios na alma. Que tumulto contínuo
há numa mente descontente! Que mal consumidor é a preocupação desordenada! O
que é a paixão, senão uma verdadeira febre na mente? O que é a luxúria, senão
um fogo nos ossos? O que é o orgulho, senão um edema mortal? O que é a cobiça,
senão uma sede insaciável e insuportável? O que é a malícia, senão um veneno no
próprio coração? A preguiça espiritual nada mais é que um escorbuto na mente, e
a segurança carnal é uma letargia mortal. Como essa alma pode ter conforto
verdadeiro, se está acometida de tantos males? Mas a graça da conversão cura e,
portanto, alivia a mente e prepara a alma para uma paz firme, duradoura e
imortal. "Muita paz têm os que amam a tua lei, e para eles não há
tropeço". (Salmo 119:165). São os
caminhos da sabedoria que garantem o prazer e a paz (Provérbios 3:17). O
salmista tinha muito mais prazer na Palavra de Deus do que em todas as delícias
da sua mansão. (Salmo 119:103, 127). A consciência não pode ter paz completa
enquanto não for totalmente purificada (Hebreus 10:22). Maldita é aquela paz
que se mantém no caminho do pecado (Deuteronômio 29:19-20). Há duas espécies de
paz que devem ser temidas, mais do que todas as aflições deste mundo: a paz com
o pecado e a paz no pecado.
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