sexta-feira, 2 de maio de 2014

SALMO 23 (6) Spurgeon




Desafio o mundo a tirar um, dentre as suas alegres companhias, que possa fazer tudo isto. Vinde, jovens amalucados no vosso folguedo; trazei as vossas harpas e violas; acrescentai o que quiserdes para completar o concerto; servi vinhos ricos; juntai as cabeças e esforçai-vos por agregar o que contribua para o prazer! Bem, já o tendes feito? Agora recorda, pecador, que esta noite a tua alma tem de comparecer diante de Deus.
Bem, o que dizes agora, jovem? Falta-te o ânimo. Chama os teus alegres companheiros para que animem o teu coração. Estica a mão agora para alcançar uma taça, uma cortesã; não temas, não temas. Tem bom ânimo. Pode tremer um homem tão valoroso, que se ria e ameaçava ao Deus Todo-Poderoso? Antes tão jovial e brincalhão, mas, agora a sua boca está fechada. Que mudança!
E, onde estão os teus alegres companheiros, pergunto-te eu? Todos fugiram. Onde estão os teus prazeres? Todos te abandonaram. Por que tens de estar abatido? Vês-te privado de todo o consolo. O que se passa? O que se passa? Há uma pergunta que com todo o meu coração tenho de fazer a um homem que tem de comparecer ante Deus à manhã pela manhã. Bem, pois, parece que o teu coração desfalece. O que significavam todos aqueles gozos e prazeres? Onde é que isto veio parar?
Ali temos a um que agora tem o coração tão cheio de consolo e fortaleza que não pode contê-los, e os mesmos pensamentos sobre a eternidade que abatem a tua alma, levantam a sua. Queres saber a razão? Ele sabe que vai para o seu Amigo; e ainda mais, o seu Amigo acompanha-o pela ruela escura. Olha que bom e agradável é que Deus e a alma habitem juntos em unidade! (unity - unicidade;  homogeneidade; harmonia, concórdia, união, acordo, unificação). Isto é ter a Deus por amigo. “Bem-aventurada é a alma que assim se encontra; sim, bem-aventurada a alma cujo Deus é SENHOR.”
Segundo um antigo provérbio, quando alguém havia realizado uma grande façanha, dizia-se dele que “tinha tirado da barba do leão”; quando um leão tem morrido, até os meninos pequenos podem fazê-lo.
Inclusive um menino, quando vê um urso, um leão ou um lobo morto na rua, pode arrancar-lhe pêlo, insultá-lo e fazer-lhe o que queira; pisá-lo e tudo o que nem por sombras se atreveria a intentar se ele estivesse vivo.
Uma coisa assim é a morte: uma fera raivosa, um leão rugente, um lobo devorador; contudo, Cristo deu morte à morte, para que os filhos de Deus possam triunfar sobre ela, como os mártires dos tempos primitivos, que alegremente se ofereciam ao fogo, à espada, à violência das feras famintas; e pela fé que havia na vida de Cristo se burlavam da morte porque Ele a tinha submetido a Si mesmo (I Coríntios 15).
O Salmista confia inclusivamente ante o desconhecido. Aqui, sem dúvida, há confiança completa. Temos o desconhecido por cima do que podemos ver; um pequeno ruído na escuridão aterroriza-nos, quando até mesmo os graves perigos à luz do dia não assustam; o desconhecido, com o seu mistério, e a sua incerteza, com frequência enche o coração de ansiedade, se não de pressentimentos e angústia.
Aqui o Salmista faz frente à forma extrema do desconhecido, ao seu aspeto mais terrível para o homem, e diz que até no meio disto vai confiar. O que é o que pode haver tão distante do alcance da experiência e da especulação humanas, até da imaginação, como “o vale de sombra de morte”, com tudo o que faz referência ao mesmo?; mas o Salmista não faz reserva do seu caso; ele vai confiar ali onde não pode ver.
Com que frequência, estamos aterrorizados ante o desconhecido, como os discípulos o estavam “ao entrar na nuvem”! Com que frequência é a incerteza do futuro uma prova mais difícil para nossa fé que a pressão de algum mau presente! Muitos filhos queridos de Deus podem confiar Nele em todos os males conhecidos; mas, por quê estes temores e pressentimentos, este decaimento do coração, se podem confiar igualmente nEle para o desconhecido?

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