Desafio o
mundo a tirar um, dentre as suas alegres companhias, que possa fazer tudo isto.
Vinde, jovens amalucados no vosso folguedo; trazei as vossas harpas e violas;
acrescentai o que quiserdes para completar o concerto; servi vinhos ricos;
juntai as cabeças e esforçai-vos por agregar o que contribua para o prazer!
Bem, já o tendes feito? Agora recorda, pecador, que esta noite a tua alma tem
de comparecer diante de Deus.
Bem, o
que dizes agora, jovem? Falta-te o ânimo. Chama os teus alegres companheiros
para que animem o teu coração. Estica a mão agora para alcançar uma taça, uma
cortesã; não temas, não temas. Tem bom ânimo. Pode tremer um homem tão
valoroso, que se ria e ameaçava ao Deus Todo-Poderoso? Antes tão jovial e brincalhão,
mas, agora a sua boca está fechada. Que mudança!
E, onde
estão os teus alegres companheiros, pergunto-te eu? Todos fugiram. Onde estão
os teus prazeres? Todos te abandonaram. Por que tens de estar abatido? Vês-te
privado de todo o consolo. O que se passa? O que se passa? Há uma pergunta que
com todo o meu coração tenho de fazer a um homem que tem de comparecer ante
Deus à manhã pela manhã. Bem, pois, parece que o teu coração desfalece. O que
significavam todos aqueles gozos e prazeres? Onde é que isto veio parar?
Ali temos
a um que agora tem o coração tão cheio de consolo e fortaleza que não pode
contê-los, e os mesmos pensamentos sobre a eternidade que abatem a tua alma,
levantam a sua. Queres saber a razão? Ele sabe que vai para o seu Amigo; e
ainda mais, o seu Amigo acompanha-o pela ruela escura. Olha que bom e agradável
é que Deus e a alma habitem juntos em unidade! (unity - unicidade;
homogeneidade; harmonia, concórdia, união, acordo, unificação). Isto é ter a
Deus por amigo. “Bem-aventurada é a alma que assim se encontra; sim,
bem-aventurada a alma cujo Deus é SENHOR.”
Segundo
um antigo provérbio, quando alguém havia realizado uma grande façanha, dizia-se
dele que “tinha tirado da barba do leão”; quando um leão tem morrido, até os
meninos pequenos podem fazê-lo.
Inclusive
um menino, quando vê um urso, um leão ou um lobo morto na rua, pode
arrancar-lhe pêlo, insultá-lo e fazer-lhe o que queira; pisá-lo e tudo o que
nem por sombras se atreveria a intentar se ele estivesse vivo.
Uma coisa
assim é a morte: uma fera raivosa, um leão rugente, um lobo devorador; contudo,
Cristo deu morte à morte, para que os filhos de Deus possam triunfar sobre ela,
como os mártires dos tempos primitivos, que alegremente se ofereciam ao fogo, à
espada, à violência das feras famintas; e pela fé que havia na vida de Cristo
se burlavam da morte porque Ele a tinha submetido a Si mesmo (I Coríntios 15).
O
Salmista confia inclusivamente ante o desconhecido. Aqui, sem dúvida, há
confiança completa. Temos o desconhecido por cima do que podemos ver; um
pequeno ruído na escuridão aterroriza-nos, quando até mesmo os graves perigos à
luz do dia não assustam; o desconhecido, com o seu mistério, e a sua incerteza,
com frequência enche o coração de ansiedade, se não de pressentimentos e
angústia.
Aqui o
Salmista faz frente à forma extrema do desconhecido, ao seu aspeto mais
terrível para o homem, e diz que até no meio disto vai confiar. O que é o que
pode haver tão distante do alcance da experiência e da especulação humanas, até
da imaginação, como “o vale de sombra de morte”, com tudo o que
faz referência ao mesmo?; mas o Salmista não faz reserva do seu caso; ele vai
confiar ali onde não pode ver.
Com que
frequência, estamos aterrorizados ante o desconhecido, como os discípulos o
estavam “ao entrar na nuvem”! Com que frequência é a incerteza do
futuro uma prova mais difícil para nossa fé que a pressão de algum mau
presente! Muitos filhos queridos de Deus podem confiar Nele em todos os males
conhecidos; mas, por quê estes temores e pressentimentos, este decaimento do
coração, se podem confiar igualmente nEle para o desconhecido?
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