quinta-feira, 22 de maio de 2014

A ENFERMIDADE (5)



Um sermão de J. C. Ryle

(a) A enfermidade ajuda a recordar aos homens a morte. A maioria vive como se nunca tivesse de morrer. Fazem os seus negócios, ou buscam o prazer, ou dedicam-se à política ou à ciência, como se a terra fosse o seu lar eterno. Planeiam e desenham os seus esquemas para o futuro, como o rico insensato da parábola, como se tivessem um longo contrato de vida, e aqui fossem locatários à sua vontade. Uma grave enfermidade é de grande ajuda para dissipar estes enganos. Faz despertar os homens dos seus sonhos, e recorda-lhes que têm de morrer, assim como têm de viver. Isto, afirmo-o  enfaticamente, é um bem poderoso.
         (b) A enfermidade ajuda para fazer com que os homens pensem seriamente em Deus, e nas suas almas e no Mundo Vindouro. A maioria das pessoas, quando goza de saúde, não tem tempo para tais pensamentos. Desgosta-as. Afastam-nos de si. Consideram-nos molestos e desagradáveis. Porém, uma severa enfermidade tem, às vezes, um maravilhoso poder de convocar e reunir estes pensamentos, e de expô-los, à vista da alma do homem. Até o perverso rei Ben-Hadad, quando adoeceu, pôde pensar em Elias. (2 Reis 8: 7) Até os marinheiros pagãos, quando a morte estava à vista, tiveram medo e "cada um clamava ao seu Deus." (Jonas 1: 5.) Certamente que tudo o que sirva de ajuda para fazer com que os homens pensem é bom.
         (c) A enfermidade ajuda a suavizar os corações dos homens, e ensina-lhes sabedoria. O coração natural é tão duro como uma pedra. Não pode ver nenhum bem em nada que não seja deste Mundo, e nenhuma felicidade exceto neste mundo. Uma longa enfermidade algumas vezes é de muita ajuda para corrigir estas ideias. Expõe o vazio e a falsidade do que o mundo chama coisas "boas," e ensina-nos a evitá-las com uma mão firme. O homem de negócios descobre que o dinheiro em si não é tudo o que o coração requer. A mulher mundana descobre que os vestidos custosos, e a literatura, e as crônicas das festas e das óperas, são consoladores miseráveis no aposento de um doente. Certamente, tudo o que nos obrigue a alterar os nossos pesos e medidas das coisas terrestres é um bem real.
         (d) A enfermidade ajuda a inclinar-nos e a humilhar-nos. Todos nós somos por natureza orgulhosos e altivos. Poucos, incluindo os mais pobres, estão livres desta infecção. Haverá muito poucos que não vejam com desprezo os outros, e que não se adulem a si mesmos em segredo porque não são "como os outros homens." Uma cama de doente é uma domadora poderosa de pensamentos como estes. Força em nós a clara verdade de que todos nós somos pobres vermes, que "habitamos em casas de barro," e que somos "esmagados pela traça" (Jó 4:19), e que reis e súditos, senhores e servos, ricos e pobres, todos são criaturas que morrem, e que logo estarão lado a lado no tribunal de Deus. Não é fácil ser orgulhoso ante o féretro e a tumba. Certamente, tudo o que nos ensine essa lição, é bom.
         (e) Finalmente, a enfermidade ajuda a provar a religião dos homens, de que tipo é. Não há muitas pessoas na terra que não tenham alguma religião. Sem embargo, poucas pessoas têm uma religião que pode passar uma inspeção. A maioria está contente com tradições recebidas de seus pais, e não pode proporcionar nenhuma razão para a esperança que possuem. Agora, a enfermidade é às vezes mais útil para o homem ao expor-lhe a total falta de valor do alicerce da sua alma. Frequentemente mostra-lhe que não tem nada de sólido sob os seus pés, e nada de firme sob a sua mão. Fá-lo descobrir que, ainda que possa ter tido uma forma de religião, esteve durante toda a sua vida adorando a "um Deus desconhecido." Muitos credos luzem bem sobre as águas tranquilas da saúde, porém, tornam-se totalmente falsos e inúteis sobre as águas agitadas do leito do enfermo. As tormentas invernais trazem à luz frequentemente os defeitos de uma casa, e assim também, a enfermidade expõe frequentemente a falta de graça da alma de um homem. Certamente, tudo o que nos faça descobrir o caráter real de nossa fé, é bom.

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