sexta-feira, 30 de maio de 2014

A ENFERMIDADE (9)



 Um sermão de J. C. Ryle


         Tens algum desejo de demonstrar a realidade da tua caridade: essa graça bendita da qual tanto se fala, mas que muito poucos praticam? Se o tens, tem cuidado do egoísmo insensível e do descuido dos teus irmãos enfermos. Busca-os. Ajuda-os, se necessitarem de apoio. Mostra-lhes simpatia. Procura aliviar as suas cargas. Sobre tudo, esforça-te por fazer bem às suas almas. Far-te-á bem, ainda que não lhes faça bem a eles. Acautelará o teu coração da murmuração. Pode ser uma bênção para a tua própria alma. Creio, com firmeza, que Deus nos está provando e examinando, por meio, de cada caso de enfermidade ao nosso alcance. Ao permitir o sofrimento, Ele comprova se os cristãos têm algum sentimento. Tomai cuidado, não seja que ao serdes pesados na balança, sejais achados em falta. Se vós podeis viver num mundo doente e moribundo sem sentir nada pelos outros, tendes ainda muito para aprender.
         Deixo esta seção do meu tema aqui, entrego os pontos que tenho mencionado como sugestões, e rogo a Deus para que possam obrar em muitas mentes. Repito, essa preparação habitual para nos encontrarmos com Deus, preparação habitual para sofrer pacientemente e essa disposição habitual para simpatizar de todo coração, são claros deveres que a enfermidade impõe a todos. Há deveres ao alcance de cada pessoa. Ao mencioná-los, não peço nada extravagante ou irracional. Não peço a ninguém que se retire para um mosteiro ou que ignore os deveres da sua posição. Só quero que os homens se deem conta de que vivem num Mundo doente e moribundo, e que vivam de acordo com isso. E digo sem temor que o homem que vive a vida da fé, da santidade, da paciência e do amor, é, não apenas o mais verdadeiro cristão, mas é também o homem mais sábio e razoável.
         E agora concluo com quatro palavras de aplicação prática. Quero que o tema deste sermão tenha algum uso espiritual. O desejo do meu coração e a minha oração a Deus ao escrevê-lo, é que faça bem às almas.
         (1) Em primeiro lugar, faço uma pergunta, a qual, como embaixador de Deus, peço a vossa séria atenção. É uma pergunta que surge naturalmente do tema sobre o qual tenho estado escrevendo. É uma pergunta que concerne a todos, de cada posição, classe, e condição. Pergunto-vos, o que fareis quando estiverdes doentes?
         Chegará o tempo quando vós, assim tanto como outros, deveis descer ao escuro vale da sombra da morte. Chegará a hora quando vós, da mesma maneira, como os que vos antecederam, deveis adoecer e morrer. Esse momento pode estar próximo ou distante. Só Deus sabe. Porém, quando chegar o momento, pergunto de novo, o que ides vós fazer? Aonde buscareis consolo? Sobre o que pretendeis que descanse a vossa alma? Sobre o que pretendeis construir a vossa esperança? Onde encontrareis o vosso consolo?
         Suplico-vos que não punhais de lado estas perguntas. Permiti que elas obrem na vossa consciência, e não descanseis até que possais dar-lhes uma resposta satisfatória. Não brinqueis com esse precioso dom, uma alma imortal. Não adieis a consideração do assunto para um momento mais conveniente. Não deis por certo um arrependimento no vosso leito de morte. O mais grandioso assunto não deve ser posposto até ao final. Um ladrão moribundo foi salvo para que os homens não possam desesperar, mas apenas um, para que os outros não presumam disso. Repito a pergunta. Estou certo que merece uma resposta. "O que farás quando estiveres doente?"

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