sexta-feira, 23 de maio de 2014

A ENFERMIDADE (6)



 Um sermão de J. C. Ryle

Não afirmo que a enfermidade confira estes benefícios a todos aqueles a quem visita. Ai, não posso dizer nada parecido a isso! Miríades de pessoas são tombadas anualmente pela enfermidade, e sua saúde é logo restaurada, os quais, evidentemente, não aprendem qualquer lição no seu leito de doentes, e retornam novamente ao Mundo. Miríades passam anualmente à tumba através de uma enfermidade, e sem embargo, não recebem dela uma impressão mais espiritual do que as bestas que perecem. Enquanto vivem, e quando morrem, não tem qualquer sentimento. Dizer isto é terrível. Mas é verdade. O grau de dureza a que pode alcançar o coração e a consciência do homem é duma profundidade tal, que não  posso pretender medi-la.
         Mas, a enfermidade confere os benefícios acerca dos quais estive falando apenas a uns quantos? Não vou aceitar isso. Creio que em abundantes casos a enfermidade produz impressões mais ou menos afins a essas como as que acabo de mencionar. Creio que em muitas mentes, a enfermidade é o "dia de visitação" de Deus, e que os sentimentos são continuamente estimulados sobre o leito da enfermidade, pelo que, se aperfeiçoados, poderiam, pela graça de Deus, resultar na salvação.  creio que em terras pagãs a enfermidade frequentemente pavimenta o caminho para o missionário, e faz com que o pobre idólatra preste um ouvido atento às boas novas do Evangelho.
         Creio que no nosso próprio país, a enfermidade é uma das grandes ajudas para o ministro do Evangelho, e que os sermões e os conselhos frequentemente são efetivos no dia da enfermidade, mas que foram negligenciados quando se goza de saúde. Creio que a enfermidade é um dos instrumentos subordinados mais importantes na salvação dos homens, e que ainda que os sentimentos que provoca são muitas vezes temporárias, é muitas vezes um meio pelo qual o Espírito obra eficazmente no coração. Resumindo, creio firmemente que a enfermidade corporal dos homens conduziu amiúde, na maravilhosa providência de Deus, para a salvação das almas dos homens.
         Lamentaria deixar o tema da enfermidade sem uma observação. Se a enfermidade pode fazer as coisas das quais estive falando (e, quem pode negá-lo?), se a enfermidade num mundo perverso pode ajudar a fazer com que os homens pensem em Deus e nas suas almas, então confere benefícios à humanidade.
         Não temos nenhum direito de murmurar da enfermidade, nem de nos queixarmos da sua presença no Mundo. Antes pelo contrário, devemos dar graças a Deus por ela. É uma testemunha de Deus. É conselheira da alma. Certamente tenho o direito de vos dizer que a enfermidade é uma bênção e não uma maldição, uma ajuda e não uma lesão, um ganho e não uma perda, um amigo e não um inimigo para a humanidade. Enquanto tenhamos um Mundo no qual há pecado, é uma misericórdia que seja um Mundo no qual há enfermidade.




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