Um sermão de J. C. Ryle
Não
afirmo que a enfermidade confira estes benefícios a todos aqueles a quem
visita. Ai, não posso dizer nada parecido a isso! Miríades de pessoas são
tombadas anualmente pela enfermidade, e sua saúde é logo restaurada, os quais,
evidentemente, não aprendem qualquer lição no seu leito de doentes, e retornam
novamente ao Mundo. Miríades passam anualmente à tumba através de uma
enfermidade, e sem embargo, não recebem dela uma impressão mais espiritual do
que as bestas que perecem. Enquanto vivem, e quando morrem, não tem qualquer
sentimento. Dizer isto é terrível. Mas é verdade. O grau de dureza a que pode
alcançar o coração e a consciência do homem é duma profundidade tal, que não
posso pretender medi-la.
Mas, a enfermidade confere os
benefícios acerca dos quais estive falando apenas a uns quantos? Não vou
aceitar isso. Creio que em abundantes casos a enfermidade produz impressões
mais ou menos afins a essas como as que acabo de mencionar. Creio que em muitas
mentes, a enfermidade é o "dia de visitação" de Deus, e que os
sentimentos são continuamente estimulados sobre o leito da enfermidade, pelo
que, se aperfeiçoados, poderiam, pela graça de Deus, resultar na
salvação. creio que em terras pagãs a enfermidade frequentemente
pavimenta o caminho para o missionário, e faz com que o pobre idólatra preste
um ouvido atento às boas novas do Evangelho.
Creio que no nosso próprio país, a
enfermidade é uma das grandes ajudas para o ministro do Evangelho, e que os
sermões e os conselhos frequentemente são efetivos no dia da enfermidade, mas
que foram negligenciados quando se goza de saúde. Creio que a enfermidade é um
dos instrumentos subordinados mais importantes na salvação dos homens, e que
ainda que os sentimentos que provoca são muitas vezes temporárias, é muitas
vezes um meio pelo qual o Espírito obra eficazmente no coração. Resumindo,
creio firmemente que a enfermidade corporal dos homens conduziu amiúde, na
maravilhosa providência de Deus, para a salvação das almas dos homens.
Lamentaria deixar o tema da enfermidade
sem uma observação. Se a enfermidade pode fazer as coisas das quais estive
falando (e, quem pode negá-lo?), se a enfermidade num mundo perverso pode
ajudar a fazer com que os homens pensem em Deus e nas suas almas, então confere
benefícios à humanidade.
Não temos nenhum direito de murmurar da
enfermidade, nem de nos queixarmos da sua presença no Mundo. Antes pelo
contrário, devemos dar graças a Deus por ela. É uma testemunha de Deus. É
conselheira da alma. Certamente tenho o direito de vos dizer que a enfermidade
é uma bênção e não uma maldição, uma ajuda e não uma lesão, um ganho e não uma
perda, um amigo e não um inimigo para a humanidade. Enquanto tenhamos um Mundo
no qual há pecado, é uma misericórdia que seja um Mundo no qual há enfermidade.
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