quinta-feira, 1 de maio de 2014

SALMO 23 (5) Spurgeon

Não temeria mal algum. Não diz que não tenha de haver qualquer mal; tinha ido para além, inclusivamente desta garantia, e sabia que Jesus tinha eliminado todo o mal; se não “não temeria mal algum”; como se inclusivamente os seus temores, estas sombras do mal, tivessem desaparecido para sempre.
Os piores males da vida são os que não existem exceto na nossa imaginação. Se não tivéssemos mais que tribulações reais, estas não seriam mais do que uma décima parte das nossas presentes aflições. Sentimos mil mortes ao temer uma; mas o Salmista estava curado da enfermidade do temor. C. H. S.
Assim, esta morte corporal é uma porta para entrar na vida, e portanto não é de temer se o consideramos devidamente, posto que é confortável; não um dano ou ofensa, mas o remédio para o mesmo; não um inimigo, porém um amigo; não um cruel tirano, porém um guia considerado que nos leva, não à mortalidade, mas à imortalidade; não à aflição e à dor, porém ao gozo e ao prazer, e isto para durar para sempre.
Ainda que fosse chamado para contemplar uma visão como a de Ezequiel, um vale cheio de ossos de mortos; ainda que o rei dos terrores cavalgasse em grande pompa pelas ruas, cortando cabeças, e que caíssem aos milhares ao meu lado, e dez mil à minha direita, eu não temeria mal algum.
Ainda que a morte dirigisse as suas flechas fatais ao pequeno círculo dos meus amados e arrastasse parentes e amigos para longe de mim, para as trevas, eu não temerei mal algum. Se, ainda que eu mesmo sinta a flecha que se crava em mim e o veneno seja absorvido pelo meu espírito; ainda que como resultado me sentisse adoecer e enlanguescer e tivesse os sintomas da dissolução iminente, ainda assim eu não temerei mal algum.
A minha natureza pode tremer, mas eu confio que Aquele que sabe que a carne é débil, terá compaixão e perdoará estas lutas. Por muito que tema as agonias da morte, não temerei mal algum na morte. O veneno do seu aguilhão foi tirado. A ponta de sua flecha é romba e não pode penetrar profundamente no corpo. A minha alma é invulnerável. Posso sorrir ante a lança que se agita a olhar imóvel os destroços causados pelo inexorável destruidor no meu tabernáculo, e desejar o momento feliz em que terei uma pausa para que o meu espírito, que deseja o céu, possa voar para o seu descanso. “Quero te falar sobre o céu” disse um pai que morria a um membro da sua família. “É possível que não tenhamos outra oportunidade para falarmos aqui. Desejo que nos possamos reunir ao redor do trono da glória como uma família, no céu!”
Constrangida pela ideia, a amada filha exclamou: “Sem dúvida, não crês que haja tanto perigo?” Com calma e quietude o pai replicou-lhe: “Perigo, querida? Não uses esta palavra. Não pode haver perigo para o Cristão, venha o que vier. Tudo está bem! Tudo está bem! Deus é amor! Tudo está bem! Bem para sempre!”
Quando o coração de um homem carnal está preparado para morar dentro dele e se torna como uma pedra, com que alegria podem esperar os que têm a Deus como amigo! Qual dos valentes do mundo pode olhar cara a cara à morte e logo dirigir o seu olhar com alegria para a eternidade? Qual deles pode abraçar-se a um feixe de lenha e entrar corajoso nas chamas? Isto pode fazer um santo, e mais ainda; porque pode olhar para a justiça infinita de frente, com o coração corajoso; pode ouvir falar do Inferno com gozo e agradecimento; pode pensar no dia do julgamento com deleite e consolo.



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