Não temeria mal algum.
Não diz que não tenha de haver qualquer mal; tinha ido para além,
inclusivamente desta garantia, e sabia que Jesus tinha eliminado todo o mal; se
não “não temeria mal algum”; como se inclusivamente os seus
temores, estas sombras do mal, tivessem desaparecido para sempre.
Os piores males da vida são os que não existem
exceto na nossa imaginação. Se não tivéssemos mais que tribulações reais, estas
não seriam mais do que uma décima parte das nossas presentes aflições. Sentimos
mil mortes ao temer uma; mas o Salmista estava curado da enfermidade do temor. C.
H. S.
Assim, esta morte corporal é uma porta para entrar
na vida, e portanto não é de temer se o consideramos devidamente, posto que é
confortável; não um dano ou ofensa, mas o remédio para o mesmo; não um inimigo,
porém um amigo; não um cruel tirano, porém um guia considerado que nos leva,
não à mortalidade, mas à imortalidade; não à aflição e à dor, porém ao gozo e
ao prazer, e isto para durar para sempre.
Ainda que fosse chamado para contemplar uma visão
como a de Ezequiel, um vale cheio de ossos de mortos; ainda que o rei dos
terrores cavalgasse em grande pompa pelas ruas, cortando cabeças, e que caíssem
aos milhares ao meu lado, e dez mil à minha direita, eu não temeria mal
algum.
Ainda que a morte dirigisse as suas flechas fatais
ao pequeno círculo dos meus amados e arrastasse parentes e amigos para longe de
mim, para as trevas, eu não temerei mal algum. Se, ainda que eu
mesmo sinta a flecha que se crava em mim e o veneno seja absorvido pelo meu
espírito; ainda que como resultado me sentisse adoecer e enlanguescer e tivesse
os sintomas da dissolução iminente, ainda assim eu não temerei mal algum.
A minha natureza pode tremer, mas eu confio que
Aquele que sabe que a carne é débil, terá compaixão e perdoará estas lutas. Por
muito que tema as agonias da morte, não temerei mal algum na
morte. O veneno do seu aguilhão foi tirado. A ponta de sua flecha é romba e não
pode penetrar profundamente no corpo. A minha alma é invulnerável. Posso sorrir
ante a lança que se agita a olhar imóvel os destroços causados pelo inexorável
destruidor no meu tabernáculo, e desejar o momento feliz em que terei uma pausa
para que o meu espírito, que deseja o céu, possa voar para o seu descanso. “Quero
te falar sobre o céu” disse um pai que morria a um membro da sua família. “É
possível que não tenhamos outra oportunidade para falarmos aqui. Desejo que nos
possamos reunir ao redor do trono da glória como uma família, no céu!”
Constrangida pela ideia, a amada filha exclamou:
“Sem dúvida, não crês que haja tanto perigo?” Com calma e quietude o pai
replicou-lhe: “Perigo, querida? Não uses esta palavra. Não pode haver perigo
para o Cristão, venha o que vier. Tudo está bem! Tudo está bem! Deus é amor!
Tudo está bem! Bem para sempre!”
Quando o coração de um homem carnal está preparado
para morar dentro dele e se torna como uma pedra, com que alegria podem esperar
os que têm a Deus como amigo! Qual dos valentes do mundo pode olhar cara a cara
à morte e logo dirigir o seu olhar com alegria para a eternidade? Qual deles
pode abraçar-se a um feixe de lenha e entrar corajoso nas chamas? Isto pode
fazer um santo, e mais ainda; porque pode olhar para a justiça infinita de
frente, com o coração corajoso; pode ouvir falar do Inferno com gozo e
agradecimento; pode pensar no dia do julgamento com deleite e consolo.
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