Um sermão de J. C. Ryle
I. A PREPONDERÂNCIA UNIVERSAL DA ENFERMIDADE
Não preciso deter-me muito neste ponto. Elaborar a prova disto equivaleria unicamente a redundar num fato que salta à vista. A enfermidade está em todas as partes. Na Europa, na Ásia, na África, na América; nos países quentes e nos países frios, nas nações civilizadas e nas tribos selvagens; homens, mulheres e meninos adoecem e morrem.
A
enfermidade está em todas as classes. A graça não coloca o crente fora do seu
alcance. As riquezas não podem comprar a isenção da enfermidade. A posição
social não pode acautelar os seus assaltos. Os reis e os seus súbditos, os
senhores e seus servos, os ricos e os pobres, os cultos e os incultos, os
professores e os estudiosos, os médicos e os pacientes, os ministros e quem os
escuta, todos por igual se inclinam ante este grande inimigo. A casa de
habitação de um inglês é chamada «o seu castelo» ; mas não tem, nem portas nem
barras, que possam protegê-lo da enfermidade e da morte.
A
enfermidade pode ser de qualquer tipo e descrição. Do cocuruto até a planta do
pé estamos expostos à enfermidade. A nossa capacidade de sofrimento é algo
espantoso de ser contemplado. Quem pode contar as doenças que assaltarão a
nossa estrutura corporal? Não é surpreendente, parece-me, que os homens morram
tão depressa, mas antes, é surpreendente que vivam tanto tempo.
A enfermidade é frequentemente uma das
provas mais humilhantes e penosas que podem vir a um homem. Pode tornar o mais
forte num menino pequeno, e fazê-lo sentir que "o gafanhoto será um
peso." (Eclesiastes 12: 5) Pode acovardar o mais valente, e fazê-lo tremer
com a queda de um alfinete. A conexão entre corpo e mente é curiosamente
próxima. A influência que algumas enfermidades podem exercer sobre o caráter e
o ânimo, é imensamente grande. Há doenças do cérebro, e do fígado, e dos
nervos, que podem reduzir alguém, com uma mente como a de Salomão, a um estado
apenas melhor do que o de um bebê. Quem quer saber a que profundidades de
humilhação pode cair um pobre homem, só tem de estar presente durante um curto
período de tempo junto ao leito de um doente.
A enfermidade não pode prevenir-se
mediante algo que o homem possa fazer. A duração média de vida pode, sem
dúvida, alargar-se um pouco. A habilidade dos médicos pode descobrir
continuamente novos remédios, e obter curas surpreendentes. A aplicação de sábias
regulações sanitárias pode reduzir grandemente a taxa de mortalidade numa
comunidade. Mas, depois de tudo, quer seja em comunidades saudáveis ou em
lugares insalubres, quer seja em climas quentes ou frios, ou seja com
tratamentos homeopáticos ou alopáticos, os homens adoecem e morrem. “A duração
da nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a
oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado, pois passa rapidamente, e nós
voamos.”(Salmo 90:10) Esse testemunho é certamente verdadeiro. Era-o quando foi
escrito há 3 300 anos, e ainda o é no dia de hoje.
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