Ah!,
não há muito tempo, um homem que se tinha rido e se tinha zombado de mim muitas
vezes, foi um domingo a Brighton, para passar esse dia numa excursão. Regressou
nessa mesma noite para morrer! Na segunda-feira pela manhã, quando estava
morrendo, a quem crêem que procurou? Necessitava que viesse o senhor Spurgeon!
Necessitava do homem do qual sempre se tinha rido; necessitava que viesse e lhe
ensinasse o caminho para o Céu, e lhe assinalasse o Salvador. E se bem que eu
me alegrasse de ir, foi uma tarefa triste ter de falar com um homem que acabava
de quebrantar o dia de repouso, e que tinha gasto o seu tempo ao serviço de
Satanás, e tinha regressado a casa para morrer. E, efetivamente morreu, sem uma
Bíblia no seu lar, sem que se oferecessem orações por ele, exceto a oração que
eu ofereci junto ao seu leito.
Ah!,
é estranho como a visão do leito de um moribundo pode ser bendita para
estimular o nosso zelo. Há um ano, mais ou menos, estive junto do leito de um
pobre moço, de aproximadamente dezesseis anos de idade, que tinha estado
bebendo até provocar a sua morte, num episódio alcoólico que teve lugar uma
semana antes. Quando lhe falei sobre o pecado e da justiça, e do julgamento
vindouro, sei que tremeu, e pensei que se tinha aferrado a Jesus. Quando baixei
as escadas, depois de orar por ele muitas vezes, e de procurar que ele olhasse
para Jesus, e não tendo eu senão uma débil esperança da sua salvação final,
pensei dentro de mim: Oh Deus!, quereria poder pregar cada hora, e a cada
momento do dia, as inescrutáveis riquezas de Cristo; pois que coisa tão
terrível é morrer sem um Salvador. E logo recordei quantas vezes tinha estado
no púlpito, e não tinha pregado com o denodo com que devia ter pregado; como
tenho narrado com frieza a história do Salvador, quando devia ter chorado
correntes de lágrimas, com emoção entristecedora. Em muitas ocasiões fui para a
minha cama, e chorei até ficar dormindo, porque não preguei como desejei, e
acontecerá o mesmo esta noite. Mas, oh, a ira vindoura! A ira vindoura! A ira vindoura!
Meus
queridos ouvintes, os temas dos quais falo agora não são sonhos, nem fraudes,
nem maluquices, nem velhas histórias de comadres. São realidades e logo as
verificareis. Oh pecador, tu que não tens permanecido em todas as coisas
escritas no livro da Lei; tu que não tens a Cristo; aproxima-se o dia quando
estas coisas estarão diante de ti, como coisas reais, solenes e terríveis. E
então; ah!, então; ah!, então, o que farás? “Como aos homens está ordenado
morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo.” Oh, imaginai:
“A pompa desse tremendo dia,
Quando Cristo vier com as nuvens.”
Creio
que vejo esse terrível dia. O sino do tempo tangeu o último dia. Agora vem o
funeral das almas condenadas. O teu corpo acaba de se levantar da sepultura, e
desatas a mortalha encerrada, e olhas para cima. O que é que eu vejo? Oh!, o
que é que eu ouço? Ouço uma explosão tremenda e terrível, que sacode os pilares
do Céu, e faz com que o firmamento se cambaleie de espanto; a trombeta, a
trombeta, a trombeta do arcanjo sacode os últimos limites da criação. Olhas e
ficas pasmado. Subitamente, escuta-se uma voz, e uns dão alaridos, e outros
cantam hinos, Ele vem, Ele vem, Ele vem; todo olho O verá. Ali está; o trono
apoia-se sobre uma nuvem, branca como o alabastro. Ali está sentado. “É Ele, o
Homem que morreu no Calvário (vejo as Suas mãos trespassadas), mas, ah, quão
modificado Ele está! Não tem uma coroa de espinhos. Esteve perante o tribunal
do Pilatos, contudo agora a Terra inteira deve estar perante o Seu tribunal. Mas
escutai! A trombeta soa outra vez: o Juiz abre o livro, há um silêncio no Céu,
um solene silêncio: o Universo está quieto. “Junta os Meus escolhidos e os Meus
redimidos dos quatro ventos do Céu.” Rapidamente são ajuntados. E como o brilho
de um relâmpago, assim a asa de anjo divide a multidão. Aqui estão os justos
todos congregados; e, pecador, lá estás tu, à esquerda, deixado de fora,
entregue a suportar a sentença ardente da ira eterna.
Escuta!
As harpas do Céu tocam doces melodias; mas não te trazem nenhum gozo, enquanto
os anjos estão repetindo as boas-vindas do Salvador aos Seus santos. “Vinde,
benditos de Meu Pai, herdai o reino preparado para vós desde a fundação do
mundo.” Vós tivestes esse momento de pausa, e agora o Seu rosto está acumulando
nuvens de ira, e o trovão está na Sua frente; olha-te a ti que o tens
desprezado, a ti que te ludibriaste da Sua graça, que desprezaste a Sua
misericórdia, a ti que quebrantaste o Seu dia de descanso, a ti que te zombaste
da Sua cruz, a ti que não aceitaste que reinasse sobre ti; e, com uma voz mais
forte que dez mil trovões, Ele clama: “Apartai-vos de mim, malditos.” E logo...
não, não continuarei. Não falarei das chamas inextinguíveis. Não vou falar dos
padecimentos do corpo, nem das torturas do espírito. Mas o Inferno é terrível;
a condenação é aflitiva. Oh, escapa! Escapa! Escapa, para que, aí onde estás,
não tenhas de aprender talvez o que significam os horrores da eternidade, no
golfo da eterna perdição! “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas
escritas no livro da Lei, para as fazer.”
(extraído de NO CAMINHO DE JESUS)
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